segunda-feira, agosto 07, 2017

A Influência do hooliganismo no Brasil...

Influência do hooliganismo no Brasil

Por Oscar Cowley Forner


A violência no futebol não é novidade.

Entender o que leva as pessoas a se agredirem por um time de futebol é algo bastante difícil.

Por um lado, penso que algumas pessoas são adictas a adrenalina causada pela luta, que, por sua vez, é impulsionada pelo momento de libertação e descarga de frustrações cotidianas, somado ao sentimento de amor exagerado pelo seu clube do coração.

Pelo outro, acredito que seja pura burrice (fique à vontade para utilizar qualquer outro sinônimo mais brusco).

E não se engane...

O futebol brasileiro nem sempre foi marcado pela violência nas arquibancadas.

Basta perguntar a qualquer conhecido ou familiar que tenha acompanhado futebol 50 anos atrás.

O próprio Fernando Amaral, jornalista esportivo e, por coincidência, autor deste blog, teve o privilégio de frequentar o Maracanã nos tempos de “paz” do futebol brasileiro; quando as torcidas eram mistas, compostas por pessoas de todas as classes sociais e livres de confrontos (tirando um empurrão ou outro).

Hoje em dia não é preciso ir para um estádio para ver que o panorama mudou.

Basta ver os noticiários e se envergonhar com a atitude de alguns grupos de torcedores, quero enfatizar o “alguns”, porque dizer que a torcida do Vasco é violenta é estupidez.

Violentos são a dezena de bandidos que tumultuam o espetáculo e, também, os responsáveis por deixá-los entrar.

E como foi que surgiram os sujeitos violentos nos estádios?

Bom, isso nós temos que agradecer aos mesmos que inventaram o esporte que tanto amamos, os ingleses.

É claro que todos já ouvimos falar do hooliganismo.

Basta pensar nesse termo que vem à cabeça a imagem de uma dezena de britânicos embriagados se batendo no meio da rua.

Tudo isso, claro, sem deixar cair o copo de cerveja da mão.

Trata-se de um malabarismo único dos Hooligans.

Como descendente de inglês, posso dizer que os britânicos (salvo algumas exceções) são um povo briguento.

Ainda na escola cheguei a sofrer conflitos com potenciais hooligans, de forma que posso imaginar de onde eles aprendem esses costumes.

No fim dos anos 80, a Inglaterra viveu o auge do hooliganismo.

E com isso, vieram as consequências.

Alguma vez ouviu falar das tragédias de Heysel e Hillsborough?


Estas foram as ações mais destacadas e, também, letais protagonizada pelos hooligans ingleses na época.

Em Heysel, na Bélgica, no ano de 1985, o Liverpool enfrentava a Juventus pela final da Taça dos Campeões.

Mas o que ninguém esperava era que os torcedores do time inglês começariam uma confusão, já dentro do estádio e faltando poucos minutos para começar o confronto, que resultaria na morte de 39 pessoas e mais de 600 feridos.

O desastre ocorreu quando os temidos hooligans do Liverpool ultrapassaram a barreira policial que, por sua vez, continha apenas seis pessoas, e atacaram os italianos que estavam na mesma zona da arquibancada.

O autor inglês do livro “Febre de Bola”, Nick Hornby, declara em sua obra que a intenção dos torcedores do Liverpool, inicialmente, era dar um susto nos “mauricinhos” italianos correndo até eles como se fossem atacá-los, algo aparentemente engraçado no mundo dos hooligans.

O medo da morte fez com que os italianos corressem e se esmagassem contra o muro que os separava do estádio, que acabou desabando.

Contudo, essa brincadeira de péssimo gosto gerou uma punição severa aos clubes ingleses, que foram banidos por cinco anos de competições europeias.

Em Hillsborough, quatro anos depois do acontecido na Bélgica, mais uma vez os torcedores do Liverpool protagonizaram uma catástrofe. 

Esta ficou conhecida como a pior tragédia do futebol inglês.

Durante a semifinal da Copa da Inglaterra, contra o Nottingham Forest, disputada no estádio do Sheffield Wednesday, a superlotação de uma das entradas levou à morte de 96 pessoas.

Segundo as investigações, grande parte da torcida do Liverpool não estava conseguindo entrar, ainda que tivessem ingressos, fazendo com que ocorresse um empurra-empurra para entrar no estádio que forçou a abertura de um portão.

Isto fez com que tanto as pessoas com ingressos quanto os que não tinham invadissem a arquibancada e esmagassem os que estavam na frente.

No meio ao auge do hooliganismo, os policiais optaram por formar um cordão de isolamento no meio do campo, temendo que os torcedores do Liverpool estivessem tentando atacar os rivais, como aconteceu em Heysel.

Mas na verdade as pessoas tratavam de empurras as grades para salvar suas vidas.

O incidente foi a gota d’água para que os problemas fossem resolvidos de uma vez...

Caso contrário Margaret Thatcher daria um jeito de acabar com o futebol.

O encargado de mudar esse cenário foi Peter Murray Taylor, o Lorde de Gosforth, que propôs uma transformação radical no futebol inglês.

Para começar, os terraces, local favorito dos hooligans, foram preenchidos com cadeiras.

Dessa forma, todos os estádios dos times de primeira e segunda divisões passaram a ter assentos para todos os espectadores.

Além disso, foi criada uma política de prevenção da violência, que consistia em tratar de conter os vândalos previamente, no lugar de esperar para tomar alguma providência quando os confrontos fossem iniciados.

Os clubes tiveram de instalar em seus estádios sistemas de monitoramento por câmeras, possibilitando uma varredura virtual de todos os espectadores, tonando fácil a localização dos briguentos.

O investimento na segurança, dessa forma, foi focado no trabalho das equipes de inteligência que, por sua vez, passaram a escalar um oficial em cada jogo para estudar o comportamento dos torcedores.

Assim, os policiais conhecem a identidade daqueles que são potencialmente perigosos.

As detenções resultam em Ordens de Banimento do Futebol (FBO, em inglês).

Aquele que recebe uma FBO é obrigado a ficar de três a dez anos afastado dos estádios.

E, como se não bastasse, ele tem de ficar em uma delegacia enquanto seu time joga.

Para aqueles que esperam a oportunidade de arrumar confusão quando a seleção joga fora dos terrenos britânicos, o governo inglês também tomou providências.

Para isso, o vândalo é obrigado a entregar seu passaporte cinco dias antes do jogo.

Ficando assim, impedido de viajar.

Quem desrespeitar, bom, é preso por um bom tempo...

Lindo demais para ser verdade, não é?

Não!

A Espanha e Alemanha seguiram o mesmo exemplo e vem conseguindo controlar seus hooligans.

Fica o questionamento, então...

Será que o Brasil está preparado para tomar as providências necessárias para acabar com o vandalismo nos estádios ou teremos que esperar acontecer algo parecido com o ocorrido em Hillsborough ou Heysel para tomar medidas realmente eficientes?



Imagem: Autor Desconhecido

Nenhum comentário: