Sócrates,
Dunga e Marco Polo
O futebol
brasileiro reuniu três personagens da história e da literatura, mas apenas um
deles se assemelha ao que seu nome representa
Por Luiz Henrique
Três personagens distintos se encontram
na história do futebol brasileiro, mas apenas um compreendeu o nome que representava: Sócrates.
Ao contrário deste, os outros dois, Marco
Polo Del Nero e Dunga, não reconhecem seus semelhantes de batismo (no caso do
técnico, batismo futebolístico) e nada tem a ver com eles.
O Doutor, como Sócrates era conhecido,
era um jogador que não fazia concessões, levando para o campo sua visão sobre o
mundo.
Esteve a frente da Democracia Corintiana
e participou das Diretas Já, lutando por mais direitos democráticos dentro e
fora dos gramados.
Por causa dessas atitudes soube, com a
mesma elegância e maestria que tinha com a bola no pé, ter o mesmo nome do
filósofo da Grécia Antiga, o berço da democracia.
Ao contrário dele, Marco Polo, presidente "cebeefiano", carrega o nome de um dos maiores exploradores da história, mas não
viaja com medo de ser preso.
Há quem diga que o comandante assiste aos
jogos da seleção com as portas e janelas trancadas, com medo do cheiro podre da
corrupção escapar pelas ruas e despertar a atenção dos agentes da FBI.
Já Dunga só representa no tamanho o anão
que carrega seu nome no conto da Branca de Neve, mas, ao contrário deste, o
técnico nada tem de alegre no seu pensamento tático e no estilo que imprime
para a seleção.
Mais adequado seria chama-lo de zangão:
pequeno e mal-humorado.
O futebol jogado reflete os personagens.
Enquanto Sócrates fez parte da seleção
canarinho de 82, que encantou o mundo com o chamado futebol arte, os outros
dois são protagonistas do nosso desencantamento atual.
Mais feliz fica o torcedor por ver seus
principais jogadores regressando a seus clubes do que por vê-los vestindo a
camisa verde e amarela.
Desmanchando-se os limites entre o
passado e o presente, é difícil acreditar que Sócrates ficaria indiferente e
calado ao que acontece no futebol brasileiro, como estão os jogadores atuais.
Por isso, até quem não viveu a sua época,
como este cronista que vos escreve, sente falta do Doutor.
Felizmente, a história é registrada e
podemos conhecer os heróis do futebol canarinho, raça em extinção.
Também vale lembrar aos cartolas da
pelota brasileira o que Sócrates, o filósofo, ensinou ao mundo: a necessidade
de discutir sobre a realidade, a importância de conhecer a si mesmo e a ética.
Aqui, o futebol faz o oposto: desloca-se
da realidade, perde cada vez mais sua identidade e esquece o que é ético.
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