Estádio da Copa em Manaus vai
celebrar casamentos para fechar as contas
Arena tem custo anual de 6,4
milhões enquanto receita estimada até junho é de 1,3 mi
Liége Albuquerque, para o El Pais
A Arena Amazônia, em Manaus, não
foi o estádio mais caro entre as 12 arenas construídas ou reformadas para a
Copa do Mundo de 2014 – esse feito ficou com o Mané Garrincha, de Brasília –,
mas certamente está entre os que mais chamou a atenção dos estrangeiros que
assistiram aos quatro jogos realizados na quente capital de Amazonas.
A expectativa, na época, é que a
proximidade da floresta amazônica tornaria o campo um ponto turístico
obrigatório, algo que não se confirmou na prática.
Desde a Copa só conseguiu lotar o
estádio, com capacidade para 44.300 pessoas sentadas, apenas uma vez, no jogo
Vasco e Flamengo, em abril deste ano.
Claramente deficitária a julgar
pelos poucos jogos e shows, a Arena, simpaticamente chamada pelos manauaras de
“anta branca” para homenagear o maior mamífero terrestre brasileiro presente no
Estado, contudo, chega às Olimpíadas do Rio com ótima estrutura.
Mas para mantê-la como está hoje,
bem cuidada e com gramado verdinho, são gastos oficialmente 6,4 milhões de
reais por ano.
Fontes consultadas pela
reportagem, porém, estimam que nesses quase dois anos de vida a Arena não
arrecadou sequer 2 milhões de reais.
O Governo confirma que em 2015
conseguiu arrecadar pouco mais de 700.000 reais, mostrando uma conta que não
fecha.
Ainda que consiga dobrar o
faturamento neste ano, o custo seria quase cinco vezes maior do que a
arrecadação.
Há quatro meses na administração
da Arena, o atual secretário da Secretaria de Estado de Juventude, Esporte e
Lazer (SEJEL), Fabricio Lima, mesmo com diversas críticas por estar “fugindo da
função do estádio”, baixou portarias abrindo-a para aniversários, casamentos e
shows.
Para alugar os salões da arena os
interessados podem desembolsar entre 5.000 e 14.000 reais e a Arena inteira
pode ser alugada por 10% da renda bruta da bilheteria, acompanhada por membros
da secretaria.
O secretário garante que a Arena
tem pago em dia suas despesas mensais.
“O Fundo Estadual de Esporte e Lazer tem conseguido arrecadar e nos
últimos meses estamos tendo uma Arena superavitária alugando para shows,
aniversários para poder pagar as despesas mensais com limpeza, elétrica,
hidráulica, segurança e energia”, afirmou o secretário, embora as contas
divulgadas até aqui mostram uma matemática que não fecha.
De acordo com agenda enviada pela
assessoria da SEJEL, há quatro shows de bandas nacionais previstos para o
segundo semestre e um festival de música eletrônica em setembro.
Com uma arquitetura que lembra um
grande cesto indígena, a Amazônia substituiu o estádio Vivaldo Lima, que estava
ali desde 1970.
O Vivaldão, como é conhecido
pelos moradores locais, foi derrubado para dar lugar à obra milionária tocada
pela Andrade Gutierrez, o que causou muita polêmica à época por conta da ideia
de desperdício do dinheiro público e pelo carinho tradicional do amazonense
pelo seu estádio original.
Hoje a arena é cenário para
turistas que vêm a Manaus e sempre tiram fotos em frente à bela estrutura.
Só que, embora seja no mesmo
lugar, os moradores dos arredores, na Avenida Constantino Nery, uma das
avenidas principais da cidade, ainda sentem falta do Vivaldão.
“Não me conformo por não terem aproveitado nem as cadeiras da
arquibancada, jogaram tudo fora“, lamenta a comerciante Maria de Lourdes
Almeirão, que mora próximo à Arena há mais de 30 anos.
Muitos jogos foram realizados na
arena repaginada sem cobrar ingresso, apenas alimentos perecíveis para vítimas
da seca ou das enchentes dos rios da Amazônia ou com zero de bilheteria, como
no jogo do amazonense Nacional contra o roraimense Náutico, em abril do ano
passado.
Com um público de 260 pessoas,
foram gastos estimados de 2.000 reais só para acender as luzes do estádio, sem
arrecadar nada na bilheteria porque o jogo foi grátis aos torcedores e aos
times.
Há planos para a criação de um
Museu do Futebol e rumores nunca assumidos pelo governo de que há planos para
privatizar a Arena.
Com uma incógnita na expectativa
de público, a Arena da Amazônia, foi entregue ao Comitê Olímpico Rio 2016 na
última segunda-feira, dia 27 de junho.
Agora, o estádio vai entrar em
preparação para receber os jogos dos torneios de futebol, masculino e feminino,
das Olimpíadas Rio 2016.
Dia 15 de agosto, pós Olimpíadas,
a “anta branca” volta à responsabilidade do governo do Estado.
Segundo uma fonte da extinta
Fundação Vila Olímpica (FVO), que foi criada para administrar o estádio e
funcionou até janeiro deste ano, nesse ritmo de jogos e estádio às moscas, a
Arena não se paga sequer em uma década.
“Para se pagar em dez anos seriam necessários dois jogos por mês, com
estádio lotado, a ingressos a 140 reais, com metade para os organizadores e
metade para o estádio. Você imagina quanto de público de Manaus para pagar um
ingresso desse? ”, questiona a fonte, ainda membro do governo.
Em tabela enviada ao EL PAÍS, a
SEJEL listou 14 jogos realizados no estádio em 2016, e dez jogos no ano
passado.
Falta transparência, entretanto,
sobre a receita obtida com os eventos.
Apesar da insistência, não foi
enviado quanto foi arrecadado em bilheteria em cada jogo.
Além da manutenção, a arena
também exige o pagamento das dívidas pela sua construção.
A obra custou 669 milhões reais,
sendo 25% do governo do Estado e 75% em empréstimo concedido pelo BNDES.
Segundo a Secretaria Estadual de
Fazenda (SEFAZ), o empréstimo para o BNDES, contudo, está sendo pago sem
atrasos, hoje em 4,8 milhões reais mensais.
Dos 400 milhões emprestados do
banco de fomento, foram quitados pouco mais de 18% da dívida.
A previsão de quitação do
empréstimo é janeiro de 2026.
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