A liga de futebol do Japão é a
mais equilibrada do mundo. E nem por isso você a adora
A primeira divisão do futebol
japonês prima pela igualdade financeira entre os clubes que a disputam, mas
falta tamanho para atrair o interesse de outros mercados
Por Rodrigo Capelo para a revista
Época
Você provavelmente já ouviu a
afirmação: o Campeonato Brasileiro é o mais interessante do mundo porque, de
princípio, pelo menos dez clubes largam com chances de título.
Dentro dessa lógica, a
competitividade é um fator elementar para despertar o interesse do público.
A história não é tão simples
assim.
O futebol japonês está aí para
indicar que, sozinho, o equilíbrio não faz muito.
Os 18 times da J-League, a
primeira divisão do Japão, faturam juntos 60 bilhões de ienes.
Parece muita coisa, mas não é.
A conversão para o real dá R$ 1,9
bilhão.
Os 20 clubes brasileiros que
jogam o Campeonato Brasileiro fazem R$ 3,6 bilhões.
O dobro dos japoneses.
Isso ajuda a dimensionar o
futebol dentro do país asiático.
O time mais rico do Japão é o
Urawa Reds, com 6 bilhões de ienes em faturamento, ou R$ 197 milhões.
Quase a metade do brasileiro mais
rico, o Flamengo.
O japonês mais pobre é o Kofu,
cujas receitas ficaram em 1,5 bilhão de ienes em 2015, ou, feita a conversão,
R$ 49 milhões.
É mais do que fatura o mais pobre
no Brasil, o Avaí.
A diferença entre o clube mais
rico e o mais pobre, quatro vezes, mostra que o Japão tem o campeonato mais
equilibrado do mundo – pelo menos entre as principais ligas.
A Premier League, na Inglaterra,
referência pela divisão igualitária dos recursos, tem cinco vezes entre mais
rico e mais pobre.
O Brasil e a Itália têm 11 vezes.
A França, 19 vezes.
A Espanha, o maior exemplo da
desigualdade, 30 vezes.
Qualquer japonês, afinal, pode
vencer.
O Japão não é, no entanto, dado
como exemplo de quase nada no futebol.
O país não tem resultados
expressivos em Copas do Mundo e seus atletas não se destacam no futebol europeu
– feita a ressalva de Hidetoshi Nakata nos anos 2000.
Nem o próprio japonês dá tanta
bola assim ao futebol.
A média de público está no mesmo
patamar que a brasileira, em torno de 17 mil pagantes por partida.
O beisebol leva mais gente e gera
mais dinheiro do que o futebol no Japão.
O intuito, aqui, não é desmerecer
o futebol japonês.
Nem cravar que pouco importa a
competitividade entre os clubes.
Mas inserir dados à reflexão que
Stefan Szymanski propôs no livro Soccernomics.
O economista conta que, a
despeito da soberania em títulos e vitórias nos anos 1990 e 2000, o público do
Manchester United cresceu muito na Inglaterra durante o período.
As audiências também.
As pessoas apreciam na teoria a
relativa igualdade da NFL, a liga de futebol americano dos Estados Unidos, mas
na prática aderem aos grandes esquadrões, heróis ou vilões, gerados pela
desigualdade financeira.
No fim das contas, a
competitividade é só mais um elemento para tornar um torneio mais ou menos
atrativo.
A Premier League é referência por
dividir recursos a ponto de um Leicester superar os ricaços, mas só chama a
atenção do mundo e exporta seu campeonato porque tem mais dinheiro para
dividir.
O Campeonato Espanhol é criticado
pelo abismo financeiro entre Barcelona, Real Madrid e os demais clubes, mas a
dupla chega às semifinais da Liga dos Campeões todo ano e atrai públicos e
audiências enormes.
O Campeonato Brasileiro ruma para
a desigualdade e falta grana para melhorar o nível do espetáculo.
A J-League prima pelo equilíbrio
financeiro, mas não vai mais longe porque falta tamanho.
Só equilíbrio não basta.
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