A conversa de
que grandes eventos esportivos alavancam o turismo é vazia e só repercute em
quem pouco ou nada se interessa sobre o assunto...
Antes da Copa
do Mundo, se alardeava que Natal seria beneficiada pela massiva exposição
nacional e internacional da cidade pelos meios de comunicação do planeta.
Pois bem...
Natal foi sim
vista em todos os cantos e certamente em muitos recantos da terra, mas
terminada a Copa, nenhuma avalanche ou tsunami de turistas atingiu a cidade.
Depois, a
mesma conversa foi repetida para os cariocas, envolvidos diretamente com os
jogos e para os brasileiros que receberam eventos relacionados ao evento...
Na matéria
abaixo, o jornalista Rodrigo Capelo, da revista Época, desmonta a falácia e
mostra que dos nove aeroportos envolvidos na operação dos Jogos Olímpicos, sete
receberam menos pessoas do que no ano anterior.
No mês da Olimpíada, os aeroportos registraram quase
500 mil passageiros a menos
Dos nove aeroportos envolvidos na operação dos Jogos
Olímpicos, sete receberam menos pessoas do que no ano anterior.
Os dados desmontam mais uma promessa olímpica
Por Rodrigo Capelo, para a revista Época.
No dia
seguinte ao encerramento da Olimpíada, Eduardo Paes, prefeito do Rio de
Janeiro, reuniu a imprensa para anunciar os números levantados pela prefeitura
sobre a realização dos Jogos Olímpicos.
O turismo
carioca fora beneficiado, segundo o peemedebista, com a chegada de 1,17 milhão
de turistas, dos quais 410 mil estrangeiros.
O turismo,
aliás, foi uma das principais bandeiras dos defensores da realização do evento
no Brasil.
A
ex-presidente Dilma Rousseff dizia que as competições levariam turistas para
outros destinos brasileiros.
Os dados de
aeroportos, agora consolidados, põem os discursos de ambos os políticos em
xeque.
ÉPOCA reuniu
dados dos nove aeroportos que, segundo o Ministério do Turismo, participaram da
operação dos Jogos Olímpicos.
Quatro são
administrados pela Infraero – Manaus (Amazonas), Salvador (Bahia), Congonhas
(São Paulo) e Santos Dumont (Rio de Janeiro).
Os outros
cinco foram concedidos para a iniciativa privada.
São eles: Confins (Minas
Gerais), Brasília (Distrito Federal), Galeão (Rio de Janeiro), Viracopos (São
Paulo) e Guarulhos (São Paulo).
Foram
considerados os passageiros que chegaram ou partiram por meio desses aeroportos
de 2012 a 2016.
A comparação
correta se restringe ao mês de agosto desses anos para que não haja o efeito
sazonal – janeiro e julho são meses mais movimentados por causa das férias.
No Rio de
Janeiro, especificamente, 1,57 milhão de passageiros passaram pelo aeroporto de
Galeão no mês de agosto, 186 mil a mais do que em 2015.
Santos Dumont viu 768
mil passageiros, 19 mil a menos.
A diferença
entre um agosto com Olimpíada e um agosto sem Olimpíada é de 167 mil
passageiros a mais no Rio.
A crise
econômica não é desculpa para um aumento tão tímido – a falta de dinheiro já
havia acertado brasileiros em 2015 e a desvalorização do real facilita a vinda
de estrangeiros.
Turistas de
outras partes do Brasil e de países sul-americanos também chegaram ao Rio por
terra, de carro ou ônibus.
De qualquer
modo, a movimentação em aeroportos está aquém do otimismo de Paes com a
Olimpíada.
No resto do
país, o efeito foi negativo. Só Congonhas, em São Paulo, recebeu mais
passageiros do que no mês de agosto dos anos anteriores.
Os demais
seis aeroportos pelo país viram 900 mil pessoas a menos na comparação entre
2016 e 2015.
Havia a
expectativa do governo de que estrangeiros, atraídos pelo evento no Rio de
Janeiro, rodassem pelo país para assistir a outras competições e para visitar
destinos turísticos.
O resultado
dos aeroportos aponta para outra direção.
Como o Rio
registrou um pouco mais de movimentação, e os demais estados muito menos, a
Olimpíada pode ter funcionado como um ímã: os turistas que viajariam para
outros destinos brasileiros se não houvesse Olimpíada foram ao Rio.
Os dados dos
aeroportos desmontam mais uma das promessas típicas dos Jogos Olímpicos, a de
que o evento leva uma enxurrada de turistas aos locais de competições.
Não é o
primeiro sinal.
Londres
registrou queda no turismo no mês da Olimpíada em 2012, Pequim também caiu na
sua vez em 2008, ambos os casos destrinchados pelo autor Andrew Zimbalist no
livro Circus maximus.
Os turistas
regulares mudam de destino para evitar congestionamentos, riscos para a
segurança e preços inflacionados.
O Brasil, nas
cidades envolvidas com o evento, também recebeu menos pessoas.
O efeito de
longo prazo ainda precisa ser medido.
Em cidades
que sediaram Olimpíada no passado, Zimbalist concluiu que, quando houve algum
acréscimo, ele durou dois ou três anos.
Pouco.
Por ora, no
que diz respeito a turismo, a pergunta que fica é: valeu gastar R$ 40 bilhões
para que o Rio de Janeiro atraísse 167 mil passageiros a mais?
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