domingo, outubro 16, 2016

No mês da Olimpíada, os aeroportos registraram quase 500 mil passageiros a menos... a conversa que grandes eventos esportivos atraem turistas não funcionou no Brasil.

A conversa de que grandes eventos esportivos alavancam o turismo é vazia e só repercute em quem pouco ou nada se interessa sobre o assunto...

Antes da Copa do Mundo, se alardeava que Natal seria beneficiada pela massiva exposição nacional e internacional da cidade pelos meios de comunicação do planeta.

Pois bem...

Natal foi sim vista em todos os cantos e certamente em muitos recantos da terra, mas terminada a Copa, nenhuma avalanche ou tsunami de turistas atingiu a cidade.

Depois, a mesma conversa foi repetida para os cariocas, envolvidos diretamente com os jogos e para os brasileiros que receberam eventos relacionados ao evento...

Na matéria abaixo, o jornalista Rodrigo Capelo, da revista Época, desmonta a falácia e mostra que dos nove aeroportos envolvidos na operação dos Jogos Olímpicos, sete receberam menos pessoas do que no ano anterior.

No mês da Olimpíada, os aeroportos registraram quase 500 mil passageiros a menos

Dos nove aeroportos envolvidos na operação dos Jogos Olímpicos, sete receberam menos pessoas do que no ano anterior.

Os dados desmontam mais uma promessa olímpica

Por Rodrigo Capelo, para a revista Época.

No dia seguinte ao encerramento da Olimpíada, Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, reuniu a imprensa para anunciar os números levantados pela prefeitura sobre a realização dos Jogos Olímpicos.

O turismo carioca fora beneficiado, segundo o peemedebista, com a chegada de 1,17 milhão de turistas, dos quais 410 mil estrangeiros.

O turismo, aliás, foi uma das principais bandeiras dos defensores da realização do evento no Brasil.

A ex-presidente Dilma Rousseff dizia que as competições levariam turistas para outros destinos brasileiros.

Os dados de aeroportos, agora consolidados, põem os discursos de ambos os políticos em xeque.

ÉPOCA reuniu dados dos nove aeroportos que, segundo o Ministério do Turismo, participaram da operação dos Jogos Olímpicos.

Quatro são administrados pela Infraero – Manaus (Amazonas), Salvador (Bahia), Congonhas (São Paulo) e Santos Dumont (Rio de Janeiro).

Os outros cinco foram concedidos para a iniciativa privada. 

São eles: Confins (Minas Gerais), Brasília (Distrito Federal), Galeão (Rio de Janeiro), Viracopos (São Paulo) e Guarulhos (São Paulo).

Foram considerados os passageiros que chegaram ou partiram por meio desses aeroportos de 2012 a 2016.

A comparação correta se restringe ao mês de agosto desses anos para que não haja o efeito sazonal – janeiro e julho são meses mais movimentados por causa das férias.

No Rio de Janeiro, especificamente, 1,57 milhão de passageiros passaram pelo aeroporto de Galeão no mês de agosto, 186 mil a mais do que em 2015. 

Santos Dumont viu 768 mil passageiros, 19 mil a menos.

A diferença entre um agosto com Olimpíada e um agosto sem Olimpíada é de 167 mil passageiros a mais no Rio.

A crise econômica não é desculpa para um aumento tão tímido – a falta de dinheiro já havia acertado brasileiros em 2015 e a desvalorização do real facilita a vinda de estrangeiros.

Turistas de outras partes do Brasil e de países sul-americanos também chegaram ao Rio por terra, de carro ou ônibus.

De qualquer modo, a movimentação em aeroportos está aquém do otimismo de Paes com a Olimpíada.

No resto do país, o efeito foi negativo. Só Congonhas, em São Paulo, recebeu mais passageiros do que no mês de agosto dos anos anteriores.

Os demais seis aeroportos pelo país viram 900 mil pessoas a menos na comparação entre 2016 e 2015.

Havia a expectativa do governo de que estrangeiros, atraídos pelo evento no Rio de Janeiro, rodassem pelo país para assistir a outras competições e para visitar destinos turísticos.

O resultado dos aeroportos aponta para outra direção.

Como o Rio registrou um pouco mais de movimentação, e os demais estados muito menos, a Olimpíada pode ter funcionado como um ímã: os turistas que viajariam para outros destinos brasileiros se não houvesse Olimpíada foram ao Rio.

Os dados dos aeroportos desmontam mais uma das promessas típicas dos Jogos Olímpicos, a de que o evento leva uma enxurrada de turistas aos locais de competições.

Não é o primeiro sinal.

Londres registrou queda no turismo no mês da Olimpíada em 2012, Pequim também caiu na sua vez em 2008, ambos os casos destrinchados pelo autor Andrew Zimbalist no livro Circus maximus.

Os turistas regulares mudam de destino para evitar congestionamentos, riscos para a segurança e preços inflacionados.

O Brasil, nas cidades envolvidas com o evento, também recebeu menos pessoas.
O efeito de longo prazo ainda precisa ser medido.

Em cidades que sediaram Olimpíada no passado, Zimbalist concluiu que, quando houve algum acréscimo, ele durou dois ou três anos.

Pouco.

Por ora, no que diz respeito a turismo, a pergunta que fica é: valeu gastar R$ 40 bilhões para que o Rio de Janeiro atraísse 167 mil passageiros a mais?



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