quarta-feira, agosto 22, 2018

Robert Plant do Led Zeppelin e sua paixão pelo Wolverhampton Wanderes FC...

Imagem: Autor Desconhecido

Nos 70 anos de Robert Plant, um pouco de sua paixão insaciável pelo Wolverhampton

Por: Leandro Stein para o Trivela

Certa vez, perguntado sobre o melhor e o pior de ser fanático pelo Wolverhampton, Robert Plant foi categórico...

Pensou um bocado antes de mandar a resposta emblemática: “O melhor é se dar conta que torce pelos Wolves… E o pior, é também se dar conta que torce pelos Wolves”.

Um resumo fiel sobre a dor e a delícia de venerar a camisa alaranjada, algo que o britânico fez desde a infância.

Afinal, poucos astros do rock são tão viciados em futebol (e em um clube, especificamente) quanto o lendário vocalista do Led Zeppelin.

Dono de uma de uma voz marcante, o veterano é, acima de tudo, um abnegado pelo Wolverhampton.

Alguém que, completando 70 anos nesta segunda, continua exibindo sua paixão a todos os cantos – ainda mais agora, com a equipe de volta à Premier League.

Nascido em 1948, Robert Plant pegou uma época boa para descobrir o amor pelo Wolverhampton.

Nos anos 1950, o clube tinha uma das melhores equipes do mundo, capaz de dominar o Campeonato Inglês, desafiar grandes esquadrões da Europa continental e servir de inspiração à criação da Champions.

O garoto acompanhava a tudo isso nas arquibancadas do Estádio Molineux.

Tinha cinco anos quando esteve nas tribunas pela primeira vez.

Sentado sobre o joelho do pai, via maravilhado a entrada dos heróis em campo.

O gramado verde, a camisa chamativa, o barulho da multidão: tudo era motivo para se encantar.

E aquilo se potencializou no momento em que Billy Wright, ícone do timaço dos Wolves e capitão da seleção inglesa, acenou para o menino.

“Eu nasci em West Bromwich, mas logo me tiraram de lá. Acho que tudo começou com aquele aceno. Tempos depois eu me encontrei com o Billy Wright e não acreditava que estava falando com ele”, contou Plant em 2002, durante entrevista à FourFourTwo.

O futebol se tornou um laço entre Robert e seu pai.

Virou um frequentador assíduo do Molineux, para venerar o timaço de Stan Cullis e outros mais que pintassem no gramado.

Na escola, mesmo que a modalidade fosse proibida, brincava no pátio com uma bolinha de tênis e traves improvisadas.

Chegada a adolescência, o desempenho do Wolverhampton já não ajudava tanto assim, com as penúrias levando a equipe à segunda divisão em 1965.

De qualquer forma, a semente estava plantada.

O jovem cantor cultivaria o fanatismo por todo o sempre.

“Bem, eu suponho que seja um pouco como uma religião, mas eu não carrego um crucifixo até o final de semana. A paixão pelo Wolverhampton estragou meu casamento por um tempo. É o amor por algo que não sei como explicar. Eu amo isso até a morte”, declarou, ao Birmingham Mail.

“É insano, mas virou um remédio para mim. Eu costumava ir para as arquibancadas no início dos anos 1970 e me misturava a outras 15 mil pessoas. Estava superando o fato de que, se fosse a qualquer outro canto do planeta, precisava andar com seguranças. Lá, ao contrário, eu era outro qualquer caindo no meio da multidão”.

Não são raras as fotografias de Plant ainda moço, cabelos ao vento e um estilo um tanto quanto desprendido de se viver, com a camisa do Wolverhampton no corpo – por vezes, batendo uma bolinha.

Era uma questão de pertencimento à cidade onde cresceu e, também uma ligação com sua verdadeira identidade.

Conforme revelou recentemente, o vocalista já chegou a fingir dores de garganta durante as turnês do Led Zeppelin apenas para fugir de ensaios e ver os Wolves.

“Era difícil sair da Inglaterra quando meu time estava indo bem. Depois de tantos anos acompanhando esse clube, eu perguntava: ‘Por que estou em turnê logo agora?’. Houveram algumas vezes com o Led Zeppelin em que eu misteriosamente senti uma dor de garganta e consegui voltar a tempo de assistir ao jogo. E, milagrosamente, estava inteiro no dia seguinte!”, contou o veterano, ao The New Times.

Em 1974, Robert Plant viveu uma das maiores alegrias como torcedor.

O Wolverhampton conquistou a Copa da Liga Inglesa, depois de um jejum de 14 anos sem títulos nacionais.

“Levei três dias para ir de Wembley até minha casa. Não tinha nem ideia de onde eu estava. Eu sei que o prefeito de Wolverhampton recebeu o time, fiquei lá por um minuto ou dois”, apontou.

Um ano depois, ao sofrer um grave acidente de carro, chegou a realizar parte da recuperação no próprio centro médico dos Wolves.

Já em 1980, ele posou ao lado de Andy Gray e outros ídolos que ajudaram o clube a reconquistar a Copa da Liga Inglesa.

Eram seus últimos meses com o Led Zeppelin.

A banda acabou em setembro daquele ano, após a trágica morte do baterista John Bonham.

Durante as crises do Wolverhampton, sobretudo na sequência da década de 1980, Robert Plant definiu sua torcida como “masoquismo”.

Na depressão pela queda à quarta divisão em 1986, escreveu um poema para desaguar seus sentimentos.

E foram anos de calvário, incluindo as lágrimas pelos acessos que não vieram, entre outras decepções nos tempos de vacas magras.

Torcedor de verdade que, como era de se imaginar, nunca escondeu sua rivalidade com o Aston Villa: “Eles estão em outro universo, insignificante. Não são sequer um lampejo no meu subconsciente”.

Em 2009, Robert Plant virou vice-presidente honorário do Wolverhampton e passou a ser visto de maneira ainda mais frequente nas arquibancadas, como um embaixador do clube.

“Não importa para onde eu viaje, me apresentando ao redor do planeta: invariavelmente há referências à minha obsessão pelo clube. Devo dizer que, apesar de seguir o time pelos últimos 50 anos, eu não me sinto mais vice-presidente do que todos os outros desequilibrados que se acotovelam pelas arquibancadas semana após semana”, apontou na época.

A última grande glória do Wolverhampton veio neste primeiro semestre, com a conquista do acesso à Premier League e o posterior título da Championship.

“Depois de anos mortíferos e sanguinolentos, isso aqui é o paraíso”, definiu Robert Plant, no jantar de gala organizado pelo clube.

Em cima do palco armado para o evento, ele cantou alguns dos clássicos de sua carreira, incluindo ‘Whole Lotta Love’.

A paixão que o preenche e o conduz, como bem definiu em entrevista ao Guardian: “Não importa quantas cicatrizes eu tenha ou quanto corro das circunstâncias, o Wolverhampton ainda estará jogando em casa contra o Millwall no sábado, você entende? E quando eu terminar de falar com você, jogarei um cinco contra cinco no quintal da minha casa com meus amigos, até que o desfibrilador apareça. Você precisa seguir em frente”.

Nenhum comentário: