Imagem: Autor Desconhecido
Nos 70 anos de Robert Plant, um pouco de sua paixão insaciável pelo
Wolverhampton
Por: Leandro Stein para o Trivela
Certa vez, perguntado sobre o
melhor e o pior de ser fanático pelo Wolverhampton, Robert Plant foi categórico...
Pensou um bocado antes de mandar
a resposta emblemática: “O melhor é se dar
conta que torce pelos Wolves… E o pior, é também se dar conta que torce pelos
Wolves”.
Um resumo fiel sobre a dor e a
delícia de venerar a camisa alaranjada, algo que o britânico fez desde a
infância.
Afinal, poucos astros do rock são
tão viciados em futebol (e em um clube, especificamente) quanto o lendário
vocalista do Led Zeppelin.
Dono de uma de uma voz marcante,
o veterano é, acima de tudo, um abnegado pelo Wolverhampton.
Alguém que, completando 70 anos
nesta segunda, continua exibindo sua paixão a todos os cantos – ainda mais
agora, com a equipe de volta à Premier League.
Nascido em 1948, Robert Plant
pegou uma época boa para descobrir o amor pelo Wolverhampton.
Nos anos 1950, o clube tinha uma
das melhores equipes do mundo, capaz de dominar o Campeonato Inglês, desafiar
grandes esquadrões da Europa continental e servir de inspiração à criação da
Champions.
O garoto acompanhava a tudo isso
nas arquibancadas do Estádio Molineux.
Tinha cinco anos quando esteve
nas tribunas pela primeira vez.
Sentado sobre o joelho do pai,
via maravilhado a entrada dos heróis em campo.
O gramado verde, a camisa
chamativa, o barulho da multidão: tudo era motivo para se encantar.
E aquilo se potencializou no
momento em que Billy Wright, ícone do timaço dos Wolves e capitão da seleção
inglesa, acenou para o menino.
“Eu nasci em West Bromwich, mas logo me tiraram de lá. Acho que tudo
começou com aquele aceno. Tempos depois eu me encontrei com o Billy Wright e
não acreditava que estava falando com ele”, contou Plant em 2002, durante
entrevista à FourFourTwo.
O futebol se tornou um laço entre
Robert e seu pai.
Virou um frequentador assíduo do
Molineux, para venerar o timaço de Stan Cullis e outros mais que pintassem no
gramado.
Na escola, mesmo que a modalidade
fosse proibida, brincava no pátio com uma bolinha de tênis e traves
improvisadas.
Chegada a adolescência, o
desempenho do Wolverhampton já não ajudava tanto assim, com as penúrias levando
a equipe à segunda divisão em 1965.
De qualquer forma, a semente
estava plantada.
O jovem cantor cultivaria o
fanatismo por todo o sempre.
“Bem, eu suponho que seja um pouco como uma religião, mas eu não
carrego um crucifixo até o final de semana. A paixão pelo Wolverhampton
estragou meu casamento por um tempo. É o amor por algo que não sei como
explicar. Eu amo isso até a morte”, declarou, ao Birmingham Mail.
“É insano, mas virou um remédio para mim. Eu costumava ir para as
arquibancadas no início dos anos 1970 e me misturava a outras 15 mil pessoas.
Estava superando o fato de que, se fosse a qualquer outro canto do planeta,
precisava andar com seguranças. Lá, ao contrário, eu era outro qualquer caindo
no meio da multidão”.
Não são raras as fotografias de
Plant ainda moço, cabelos ao vento e um estilo um tanto quanto desprendido de
se viver, com a camisa do Wolverhampton no corpo – por vezes, batendo uma
bolinha.
Era uma questão de pertencimento
à cidade onde cresceu e, também uma ligação com sua verdadeira identidade.
Conforme revelou recentemente, o
vocalista já chegou a fingir dores de garganta durante as turnês do Led
Zeppelin apenas para fugir de ensaios e ver os Wolves.
“Era difícil sair da Inglaterra quando meu time estava indo bem. Depois
de tantos anos acompanhando esse clube, eu perguntava: ‘Por que estou em turnê
logo agora?’. Houveram algumas vezes
com o Led Zeppelin em que eu misteriosamente senti uma dor de garganta e
consegui voltar a tempo de assistir ao jogo. E, milagrosamente, estava inteiro
no dia seguinte!”, contou o veterano, ao The New Times.
Em 1974, Robert Plant viveu uma
das maiores alegrias como torcedor.
O Wolverhampton conquistou a Copa
da Liga Inglesa, depois de um jejum de 14 anos sem títulos nacionais.
“Levei três dias para ir de Wembley até minha casa. Não tinha nem ideia
de onde eu estava. Eu sei que o prefeito de Wolverhampton recebeu o time,
fiquei lá por um minuto ou dois”, apontou.
Um ano depois, ao sofrer um grave
acidente de carro, chegou a realizar parte da recuperação no próprio centro
médico dos Wolves.
Já em 1980, ele posou ao lado de
Andy Gray e outros ídolos que ajudaram o clube a reconquistar a Copa da Liga
Inglesa.
Eram seus últimos meses com o Led
Zeppelin.
A banda acabou em setembro
daquele ano, após a trágica morte do baterista John Bonham.
Durante as crises do
Wolverhampton, sobretudo na sequência da década de 1980, Robert Plant definiu
sua torcida como “masoquismo”.
Na depressão pela queda à quarta
divisão em 1986, escreveu um poema para desaguar seus sentimentos.
E foram anos de calvário,
incluindo as lágrimas pelos acessos que não vieram, entre outras decepções nos
tempos de vacas magras.
Torcedor de verdade que, como era
de se imaginar, nunca escondeu sua rivalidade com o Aston Villa: “Eles estão em outro universo,
insignificante. Não são sequer um lampejo no meu subconsciente”.
Em 2009, Robert Plant virou
vice-presidente honorário do Wolverhampton e passou a ser visto de maneira
ainda mais frequente nas arquibancadas, como um embaixador do clube.
“Não importa para onde eu viaje, me apresentando ao redor do planeta:
invariavelmente há referências à minha obsessão pelo clube. Devo dizer que,
apesar de seguir o time pelos últimos 50 anos, eu não me sinto mais
vice-presidente do que todos os outros desequilibrados que se acotovelam pelas
arquibancadas semana após semana”, apontou na época.
A última grande glória do
Wolverhampton veio neste primeiro semestre, com a conquista do acesso à Premier
League e o posterior título da Championship.
“Depois de anos mortíferos e sanguinolentos, isso aqui é o paraíso”,
definiu Robert Plant, no jantar de gala organizado pelo clube.
Em cima do palco armado para o
evento, ele cantou alguns dos clássicos de sua carreira, incluindo ‘Whole Lotta
Love’.
A paixão que o preenche e o
conduz, como bem definiu em entrevista ao Guardian: “Não importa quantas cicatrizes eu tenha ou quanto corro das
circunstâncias, o Wolverhampton ainda estará jogando em casa contra o Millwall
no sábado, você entende? E quando eu terminar de falar com você, jogarei um
cinco contra cinco no quintal da minha casa com meus amigos, até que o
desfibrilador apareça. Você precisa seguir em frente”.
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