sábado, abril 13, 2019

Andrés Sanchez, o Maquiavel de Itaquera, ou a Pedra que Andrés Pariu...

Imagem: Marcos Galvão/Fotoarena

A pedra que Andrés pariu

Por Pedro Henrique Brandão Lopes/Universidade do Esporte

Às vésperas da decisão do Campeonato Paulista, o experiente dirigente corintiano declarou que seu time não jogará se tiver o ônibus atingido por pedras na chegada ao Morumbi.

Na mesma atitude a dualidade de Andrés Sanchez: um grito contra a violência nos estádios e uma brecha aos intolerantes.

Já era final da tarde na quinta-feira (11), quando a Federação Paulista de Futebol (FPF) recebeu um ofício do Corinthians assinado por Andrés Sanchez, o documento também foi encaminhado ao São Paulo, ao promotor de Justiça Paulo Castilho e à Polícia Militar.

O teor do documento logo levantou poeira nos bastidores da grande decisão que acontecerá no próximo domingo.

O presidente do Alvinegro informou à FPF, à PM, ao MP-SP e ao São Paulo, que se o ônibus de seu time for apedrejado na chegada ao Morumbi, o Corinthians não entrará em campo para decidir o campeonato sob hipótese alguma.

O circo pegou fogo, o assunto tomou conta da imprensa esportiva nesta sexta-feira e a FPF tratou de se manifestar, porém não exatamente em nota, mas (mais uma vez) nas palavras do delegado Antonio Olim, presidente do TJD-SP e quem ultimamente responde pela Federação:

"A consequência seria o WO. O Corinthians não vai querer ir com uma derrota para o próximo jogo, não acredito que aconteça isso. Se acontecer isso, vão ser presos [quem atirou a pedra]".

A preocupação de Andrés é legítima, já que na última visita alvinegra ao Cícero Pompeu de Toledo, o ônibus dos visitantes teve vidros quebrados por pedradas dos são-paulinos.

Mas se esse brutal episódio aconteceu em julho do ano passado, por que somente agora a manifestação de Andrés Sanchez?
Talvez motivado pela repercussão do caso na final da Libertadores 2018, que resultou na transferência do jogo de Buenos Aires para Madrid, depois que o ônibus do Boca Juniors foi apedrejado na chegada ao Monumental de Nuñez e os xeneizes se recusaram entrar em campo. É precedente bastante pesado.

Há também a questão do histórico.

Em 2009, quando o Majestoso foi uma das semifinais do estadual daquele ano, o ônibus corintiano também foi hostilizado na chegada ao estádio e acabou gerando um fato motivacional para o elenco alvinegro que na época, sob comando de Ronaldo, fechou um pacto para vencer o Tricolor.

Deu certo e o time foi campeão paulista daquele ano depois de eliminar os são-paulinos.

Também existe na atitude de Andrés um quê de provocação e catimba que o dirigente sabe fazer como poucos na atualidade.

Quando afirma que seu time pode não jogar a final por ter o ônibus apedrejado, na verdade o presidente corintiano está dizendo que o São Paulo não tem condições de garantir a segurança do jogo e, portanto, não pode abrigar um espetáculo do tamanho de um Majestoso na final do campeonato.

Desestabiliza o ambiente Tricolor e implanta uma crise no C.T da Barra Funda a três dias da decisão.

Desde quinta-feira o assunto no São Paulo é se vai ou não vai ter pedrada.

De tabela ainda levanta uma questão que alfineta os outros grandes paulistas.

Que é a recepção às delegações visitantes em seus estádios.

Nesse quesito somente o Corinthians tem de fato condições de garantir a chegada do ônibus adversário em segurança, pois a Arena Itaquera foi pensada para grandes fluxos de pessoas e conta com uma ampla área na frente do estádio para os torcedores, onde a polícia consegue abrir caminho com facilidade.

Vila Belmiro e Allianz Parque estão em bairros residenciais e contam com ruas de acesso estreitas onde a multidão facilmente se aglomera e bloqueia a via impedindo a passagem da delegação visitante.

Nesta semana o Palmeiras sofreu com ira de seus próprios torcedores e teve o ônibus apedrejado quando chegava ao estádio para um jogo da Libertadores.

O Morumbi também fica num bairro residencial e antigo, tem uma grande avenida como acesso, mas a área onde acontece a entrada das delegações no estádio é precária em espaço e tradicionalmente a torcida são-paulina fica nos portões para apoiar seu time e pressionar o adversário e muitas vezes até a imprensa e arbitragem.

Mas há também no ofício corintiano um claro manifesto contrário à violência nos estádios.

Uma determinação louvável em um cenário que normalmente faz dirigentes fecharem os olhos para as animalescas atitudes de suas torcidas.

No entanto, como para cada atitude há uma reação, com a declaração de Andrés Sanchéz não poderia ser diferente.

Depois da fala de Olim ficou definido o WO. como punição aos corintianos caso não entrem em campo, não se pode ignorar que o apedrejamento parta de torcedores intolerantes, deliberadamente para influenciar no resultado do jogo.

No momento de total falta de educação por qual passa este país, Andrés concede um perigoso poder à intolerantes que sempre quiseram aparecer mais que o jogo e determinar por suas vontades o resultado no gramado.

Para tentar evitar atitudes de extremistas, na tarde desta sexta-feira, a diretoria Tricolor convocou uma reunião com a PM e as torcidas organizadas do clube em que ficou decidido que que os torcedores são-paulinos não deverão fazer a já tradicional recepção para a delegação da equipe antes da final do Campeonato Paulista.

Ponto para o presidente alvinegro que conseguiu desfazer o clima de pressão na entrada do Morumbi, que é bem verdade, não ganha jogo, mas pressiona e impressiona o visitante que já entra no estádio sabendo que não terá vida fácil porque não é bem-vindo.

Perde a festa do futebol, mas não para Andrés, ele apenas jogou e muito bem, como é de seu costume, com a peças que estavam no tabuleiro.

A festa da arquibancada perde para imbecilidade de gente que usa o futebol para externar seu ódio.

É um absurdo um time ser obrigado a jogar depois de ter sido apedrejado na entrada do estádio.

É um absurdo que um presidente de clube coloque como condição para deixar o time jogar algo que sequer o poder público consegue garantir.

E aí reside a dualidade da atitude do presidente corintiano que consegue em uma só tacada ser pioneiro na oposição da cultura de violência das torcidas e, também estimulador do caos.

 Alguém que se posiciona contra uma causa de todos, mas apenas quando lhe convém.

Andrés Sanchez é a quimioterapia que trata o paciente, mas o enfraquece e pode até matar debilitado aquele que precisa do remédio.

Pelos fins certos, mas pelos meios duvidosos.

Andrés Sanchez, o Maquiavel de Itaquera.

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