Imagem: Marcos Galvão/Fotoarena
A pedra que Andrés pariu
Por Pedro Henrique Brandão Lopes/Universidade do Esporte
Às vésperas da decisão do
Campeonato Paulista, o experiente dirigente corintiano declarou que seu time
não jogará se tiver o ônibus atingido por pedras na chegada ao Morumbi.
Na mesma atitude a dualidade de
Andrés Sanchez: um grito contra a violência nos estádios e uma brecha aos
intolerantes.
Já era final da tarde na
quinta-feira (11), quando a Federação Paulista de Futebol (FPF) recebeu um
ofício do Corinthians assinado por Andrés Sanchez, o documento também foi
encaminhado ao São Paulo, ao promotor de Justiça Paulo Castilho e à Polícia
Militar.
O teor do documento logo levantou
poeira nos bastidores da grande decisão que acontecerá no próximo domingo.
O presidente do Alvinegro
informou à FPF, à PM, ao MP-SP e ao São Paulo, que se o ônibus de seu time for
apedrejado na chegada ao Morumbi, o Corinthians não entrará em campo para
decidir o campeonato sob hipótese alguma.
O circo pegou fogo, o assunto
tomou conta da imprensa esportiva nesta sexta-feira e a FPF tratou de se
manifestar, porém não exatamente em nota, mas (mais uma vez) nas palavras do
delegado Antonio Olim, presidente do TJD-SP e quem ultimamente responde pela
Federação:
"A consequência seria o WO. O Corinthians não vai querer ir com
uma derrota para o próximo jogo, não acredito que aconteça isso. Se acontecer
isso, vão ser presos [quem atirou a pedra]".
A preocupação de Andrés é
legítima, já que na última visita alvinegra ao Cícero Pompeu de Toledo, o
ônibus dos visitantes teve vidros quebrados por pedradas dos são-paulinos.
Mas se esse brutal episódio
aconteceu em julho do ano passado, por que somente agora a manifestação de
Andrés Sanchez?
Talvez motivado pela repercussão
do caso na final da Libertadores 2018, que resultou na transferência do jogo de
Buenos Aires para Madrid, depois que o ônibus do Boca Juniors foi apedrejado na
chegada ao Monumental de Nuñez e os xeneizes se recusaram entrar em campo. É
precedente bastante pesado.
Há também a questão do histórico.
Em 2009, quando o Majestoso foi
uma das semifinais do estadual daquele ano, o ônibus corintiano também foi
hostilizado na chegada ao estádio e acabou gerando um fato motivacional para o
elenco alvinegro que na época, sob comando de Ronaldo, fechou um pacto para
vencer o Tricolor.
Deu certo e o time foi campeão
paulista daquele ano depois de eliminar os são-paulinos.
Também existe na atitude de
Andrés um quê de provocação e catimba que o dirigente sabe fazer como poucos na
atualidade.
Quando afirma que seu time pode
não jogar a final por ter o ônibus apedrejado, na verdade o presidente
corintiano está dizendo que o São Paulo não tem condições de garantir a
segurança do jogo e, portanto, não pode abrigar um espetáculo do tamanho de um
Majestoso na final do campeonato.
Desestabiliza o ambiente Tricolor
e implanta uma crise no C.T da Barra Funda a três dias da decisão.
Desde quinta-feira o assunto no
São Paulo é se vai ou não vai ter pedrada.
De tabela ainda levanta uma
questão que alfineta os outros grandes paulistas.
Que é a recepção às delegações
visitantes em seus estádios.
Nesse quesito somente o
Corinthians tem de fato condições de garantir a chegada do ônibus adversário em
segurança, pois a Arena Itaquera foi pensada para grandes fluxos de pessoas e
conta com uma ampla área na frente do estádio para os torcedores, onde a
polícia consegue abrir caminho com facilidade.
Vila Belmiro e Allianz Parque
estão em bairros residenciais e contam com ruas de acesso estreitas onde a
multidão facilmente se aglomera e bloqueia a via impedindo a passagem da
delegação visitante.
Nesta semana o Palmeiras sofreu
com ira de seus próprios torcedores e teve o ônibus apedrejado quando chegava
ao estádio para um jogo da Libertadores.
O Morumbi também fica num bairro
residencial e antigo, tem uma grande avenida como acesso, mas a área onde
acontece a entrada das delegações no estádio é precária em espaço e
tradicionalmente a torcida são-paulina fica nos portões para apoiar seu time e
pressionar o adversário e muitas vezes até a imprensa e arbitragem.
Mas há também no ofício
corintiano um claro manifesto contrário à violência nos estádios.
Uma determinação louvável em um
cenário que normalmente faz dirigentes fecharem os olhos para as animalescas
atitudes de suas torcidas.
No entanto, como para cada
atitude há uma reação, com a declaração de Andrés Sanchéz não poderia ser
diferente.
Depois da fala de Olim ficou
definido o WO. como punição aos corintianos caso não entrem em campo, não se
pode ignorar que o apedrejamento parta de torcedores intolerantes,
deliberadamente para influenciar no resultado do jogo.
No momento de total falta de
educação por qual passa este país, Andrés concede um perigoso poder à
intolerantes que sempre quiseram aparecer mais que o jogo e determinar por suas
vontades o resultado no gramado.
Para tentar evitar atitudes de
extremistas, na tarde desta sexta-feira, a diretoria Tricolor convocou uma
reunião com a PM e as torcidas organizadas do clube em que ficou decidido que
que os torcedores são-paulinos não deverão fazer a já tradicional recepção para
a delegação da equipe antes da final do Campeonato Paulista.
Ponto para o presidente alvinegro
que conseguiu desfazer o clima de pressão na entrada do Morumbi, que é bem
verdade, não ganha jogo, mas pressiona e impressiona o visitante que já entra
no estádio sabendo que não terá vida fácil porque não é bem-vindo.
Perde a festa do futebol, mas não
para Andrés, ele apenas jogou e muito bem, como é de seu costume, com a peças
que estavam no tabuleiro.
A festa da arquibancada perde
para imbecilidade de gente que usa o futebol para externar seu ódio.
É um absurdo um time ser obrigado
a jogar depois de ter sido apedrejado na entrada do estádio.
É um absurdo que um presidente de
clube coloque como condição para deixar o time jogar algo que sequer o poder
público consegue garantir.
E aí reside a dualidade da
atitude do presidente corintiano que consegue em uma só tacada ser pioneiro na
oposição da cultura de violência das torcidas e, também estimulador do caos.
Alguém que se posiciona contra uma causa de
todos, mas apenas quando lhe convém.
Andrés Sanchez é a quimioterapia
que trata o paciente, mas o enfraquece e pode até matar debilitado aquele que
precisa do remédio.
Pelos fins certos, mas pelos
meios duvidosos.
Andrés Sanchez, o Maquiavel de
Itaquera.
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