Imagem: Autor Desconhecido
Renê Simões estava certo
Por Pedro Henrique Brandão Lopes do Universidade do Esporte
“Estou extremamente decepcionado. Estou desde garoto no futebol e
poucas vezes vi alguém tão mal-educado desportivamente. Sempre trabalhei com
jovens e nunca vi nada assim. Está na hora de alguém educar esse rapaz, ou
vamos criar um monstro. Estamos criando um monstro no futebol brasileiro”.
Quando o então treinador do
Atlético-GO, Renê Simões, em setembro de 2010, pronunciou a frase acima numa
coletiva pós jogo em que seu time fora derrotado pelo Santos por 4 a 2 na Vila
Belmiro, em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro, a repercussão imediata foi
de caracterizar a profética afirmação como choro de perdedor.
Menos de 9 anos depois, Neymar
provou que o velho treinador nunca esteve tão certo como quando alertou para a
criação de um monstro.
Se em 2010, as afirmações de Renê
Simões foram desencadeadas porque o atacante do Santos peitou a ordem de
Dorival Júnior, que mandou Marcel cobrar um pênalti e o jogador teria ofendido
o técnico depois.
Desta vez, Neymar extrapolou
todos os seus próprios limites da falta de educação e mostrou ao mundo o ser
arrogante, prepotente, que não aceita críticas e antiprofissional que é fruto
da má criação humana que recebeu e da blindagem profissional que o cerca numa
bolha de realidade perfeita.
Depois de o PSG perder em campo o
título da Copa da França para o Rennes, em jogo que fez gol, deu assistência e
converteu seu chute nas cobranças de pênaltis, o eterno menino Ney simplesmente
agrediu um torcedor nas arquibancadas do Stade de France, enquanto subia às
tribunas para receber a premiação como vice-campeão.
Nas imagens é possível ver que
vários torcedores provocam os jogadores do PSG como Buffon e Verrati, que
passam em silêncio pela multidão.
Quando é a vez de Neymar, o
brasileiro para, abaixa o celular do torcedor que filmava a situação e, antes
de qualquer reação, dá um soco no torcedor.
Durante os anos que se passaram
depois da declaração de Renê Simões, o treinador foi muitas vezes lembrado como
chacota, como quando Neymar venceu a Libertadores pelo Santos, a Copa da
Confederações com a Seleção Brasileira, ou quando o atacante foi vendido ao
Barcelona e por lá colecionou títulos formando o famoso MSN, um ataque dos
sonhos com Suárez e Messi.
A cada triunfo do jogador, o
velho técnico ressurgia nas palavras de algum oportunista de plantão que
tripudiava da discreta carreira de Simões comparada a megaestrela do futebol
mundial que Neymar se tornou.
Por outro lado, durante todos
esses anos, Neymar se esforçou bastante para fazer as palavras de Renê Simões
terem alguma razão.
Não foram poucas as polêmicas do
atacante dentro e fora dos gramados, mas sempre polêmicas ligadas a seu
comportamento de menino mimado.
O ápice foi a Copa do Mundo de
2018, quando Neymar fez a camisa mais vencedora do futebol mundial virar piada
rolando sem parar em gramados russos e fazendo queimar de raiva e vergonha os
rostos brasileiros que só queriam sorrir com uma Copa ao menos bem jogada
depois do vexatório fracasso de 2014.
Mesmo depois da agressão ao
torcedor, no último sábado, Neymar disse à imprensa que falta hombridade a seus
companheiros de time e, mais uma vez, tirou sua responsabilidade sobre mais um
fracasso do PSG, time que o comprou como jogador mais caro da história e que
ainda não viu o retorno do investimento.
Sei que muita gente gosta do
jogador, sei que muitos continuam apreciando o talento que é indiscutível, sei
que muitos vão ler e me chamar de ranzinza, mas a agressão ao torcedor prova
que ninguém ouviu ou levou a sério o velho treinador.
Ninguém se preocupou em educar o
menino que nunca será adulto (o responsável por isso é uma das figuras mais
nefastas do meio futebolístico atualmente, Neymar pai), ninguém disse para
Neymar que ele estava errado, porque a bolha social que o blinda é paga, e
muito bem paga, para dizer que ele não erra, ou se erra, é porque todo mundo
erra.
Por tudo isso, hoje ninguém pode
negar que aquele técnico falando em falta de educação e monstros numa coletiva
do agora longínquo 2010, estava certo: “em
nome do tal futebol arte, criamos um monstro”.
Renê Simões venceu, ele estava
certo ao apontar todos os erros na formação de Neymar.
Mas o velho professor deve saber
que, junto ao futebol brasileiro, perdeu, como perdemos todos com a repulsiva
figura monstruosa que se tornou Neymar, um craque indiscutível e um ser humano
asqueroso.
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