Volta de público dá lucro à FERJ, mas prejuízo a clubes
Dados de 2019 mostram dificuldades quando cariocas têm 30% do público
Por Augusto Dalla Vecchia e Duda Lopes para o Máquina do Esporte
A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ) é uma das principais defensoras da volta do público do Brasileirão, a ponto do presidente da entidade, Rubens Lopes, ter batido boca com o presidente da CBF, Rogério Caboclo, na reunião sobre o assunto na quinta-feira (24).
Mas, para além do interesse dos times cariocas, quem mais tem a ganhar financeiramente é a própria FERJ.
A federação do Rio, assim como acontece com as outras federações nacionais, tem direito a 5% da renda bruta de todos os jogos do Brasileirão.
O problema é que, com o público limitado, a renda líquida costuma ficar no negativo. Ou seja, com volta dos jogos, o risco ficará restrito às equipes, e FERJ só tem a ganhar.
A Máquina do Esporte levantou as partidas que cravaram 30% do público ou que ficaram mais próximos disso, entre os clubes cariocas durante o Campeonato Brasileiro de 2019.
Foi considerada a taxa de ocupação usada pelo Globoesporte.com em seu
aplicativo sobre público nos estádios brasileiros.
Ao levantar o borderô dessas partidas, Botafogo, Fluminense e Vasco ficaram no prejuízo.
O Flamengo não foi considerado porque não teve jogo com a taxa de ocupação igual ou inferior a 30%.
O clube é também um dos defensores da volta do público.
O pior dos casos acontece com o Vasco, caso o time opte por atuar em São Januário.
Com 7 mil pessoas, time joga com alto prejuízo.
Na partida contra o Palmeiras, em 2019, o time levou 8,4 mil torcedores
ao estádio, o que representou uma taxa de ocupação de 33% do estádio, mais do
que seria possível no retorno em 2020.
No fim, o clube teve prejuízo de R$ 67 mil com a partida. A FERJ, com os 5% da renda bruta, levou R$ 13 mil.
O mesmo acontece com seus rivais.
O Botafogo, contra o Santos, teve 16,2 mil pessoas no Nilton Santos, 29% de ocupação.
Teve prejuízo de R$ 6,2 mil, mas a FERJ ficou com R$ 21,4 mil.
O Fluminense, contra o São Paulo, teve 21,7 mil pessoas no Maracanã, exatos 30% de ocupação.
Prejuízo de R$ 12,3 mil, com R$ 28,9 mil de lucro para a FERJ.
Há algumas suposições de que poderiam melhorar a situação para os clubes, mas que não devem ser atingidas na prática.
A primeira está no custo de operação que, com o público limitado, poderia ser mais baixo.
No entanto, como explicou o superintendente de marketing da Neo Química Arena, Caio Campos, ao Máquina Talks, evento realizado pela Máquina do Esporte nesta semana, isso não deverá acontecer.
Como existe a necessidade de distanciamento entre os torcedores, os
estádios não poderão limitar os setores, o que diminuiria os custos.
Os 30% do público terão que, necessariamente, serem espalhados em todos os setores.
Outra suposição que amenizaria a situação seria o aumento do tíquete médio, que compensaria a limitação de público.
Nesse caso, vale a lembrança de que a taxa de ocupação dos estádios brasileiros já é baixa, mesmo com a precificação aplicada na última temporada.
Fluminense e Botafogo, por exemplo, não chegaram a 30% de média nos estádios durante o ano de 2019.
A defesa de Rubens Lopes está no retorno do público determinado pelos órgãos públicos de cada estado.
O Rio de Janeiro já poderia receber torcedores nas arenas em outubro.
A irritação do dirigente na reunião da CBF aconteceu porque a maioria dos clubes entendeu que só poderia haver torcida quando todas as equipes do Brasileirão tivessem a mesma condição.
Procurada pela Máquina do Esporte, a FERJ preferiu não comentar.
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