Andrea Carnevale jogou com
Maradona no Nápoles e conheceu a fama, tendo nesse período passado igualmente
por um escândalo de doping que o afastou dos gramados durante um ano.
Foi casado com a modelo e
apresentadora de televisão Paola Perego, vivendo nos seus melhores anos uma
vida de glamour.
Mas o ex-jogador jogador, hoje
com 64 anos, viveu também uma infância traumática, que resolveu contar num
livro intitulado ‘O destino de um artilheiro', quando aos 14 anos
perdeu a mãe nas mãos do pai.
“A minha mãe nunca o tinha
denunciado por medo de que fizessem algo aos filhos”, recorda Carnevale,
numa entrevista ao 'Corriere della Sera'.
“O meu pai tinha muitos
ciúmes, havia um clima de terror em casa, eu estava lá quando ela era
esbofeteada, espancada. Havia insultos. Até àquela manhã de 25 de setembro de
1975: ele acordou e pegou no machado. Alcançou a minha mãe, que estava a lavar
roupa no rio perto de casa. E matou-a. Corri até lá, levei o machado manchado
de sangue até à polícia”, recorda o ex-atacante, que agora é olheiro da
Udinese.
Carnevale tinha 14 anos quando
tudo aconteceu e dois anos depois foi visitar o pai na prisão.
“Tinha 16 anos. Queria olhá-lo
nos olhos, ele tinha-me tirado tudo. Mas o vi e abracei. Fortemente. De alguma
forma perdoei-o, com a consciência de que tinha um homem muito doente à minha
frente. Durante muitos anos vivi a dor, mas também o medo de ser como ele. Mas
não, não sou como ele. Entendi isso quando o vi. E foi o primeiro passo para a
libertação.”
Carnevale compreendeu a doença.
“Era esquizofrénico, nunca foi
tratado. Alguns anos depois, tirou a própria vida atirando-se de uma janela à
minha frente.”
Por ter vivido tudo isto numa
idade tão precoce, resolveu escrever um livro dedicado às vítimas.
“Conheço famílias que ficaram
órfãs, as vítimas. Contei tudo e escrevi para elas. O rasto de sangue não para
e eu volto a ser uma criança infeliz de cada vez que ouço uma destas histórias.”
Às filhas e às mulheres em geral
deixa um conselho:
“A primeira vez que teu marido ou namorado, seja quem for, levantar a mão ou gritar, deixa-o. Ele fará de novo, é certo. Denunciem. Eu fiz isso naquela época, mas não adiantou. Hoje colaboro com as instituições, quero estar na linha de frente. Denunciem!”

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