O correr das horas costuma mostrar a verdadeira face das pessoas e a real forma das coisas...
Foi assim com o São Gonçalo, equipe criada nos embalos de sonhos inconseqüentes e que se sustentaria não através de si mesma ou de seus criadores, mas sim, seria “amamentada” por vias indiretas (não falo em ilegalidade)...
Porém, o tempo mostrou que seus criadores jamais imaginaram que o “seio” farto e generoso, “secaria” e ao “secar”, deixaria a cria a míngua, até que a inanição a matasse.
Aqui, abro um parêntesis para contar qual foi minha posição a época da fundação do São Gonçalo; apoiei!
Lembro-me de ter dito o seguinte: “o São Gonçalo é uma novidade e como novidade, pode ser salutar e renovadora, desde que esteja alicerçado em princípios realistas de gestão e em bases financeiras que permitam um crescimento sólido”.
Essas palavras foram pronunciadas em duas emissoras: Rádio Rural (equipe amarelinha) e TV Universitária (programa TVU Esporte).
Numa segunda oportunidade, disse que a chegada do São Gonçalo poderia servir para aumentar a auto-estima da população local, pois teriam uma instituição capaz de motivar as pessoas.
Infelizmente, a gestão nada tinha de realista, as bases econômicas estavam fincadas nas possibilidades do erário público e a auto-estima a ser elevada, não era a da população...
Mas ainda assim, espero ver o retorno da equipe que tinha tudo para ter sido um modelo, mas que se afogou nos vícios e deformações culturais não de um homem, mas de toda uma nação que ainda precisa de “castigos” para sair à rua sem dar vexame e passar vergonha.
Agora, surge o “caso” REAL SOCIEDADE INDEPENDENTE DE FUTEBOL...
A equipe de pomposo nome, criada para substituir como representante de Jardim de Piranhas (município localizado a 287 km de Natal) o licenciado, extinto ou falecido, Clube Atlético Piranhas, entrou pela porta da frente na primeira divisão do campeonato estadual (campeã da segunda divisão) e saiu pela porta dos fundos, enviando um ofício a FNF (Federação Norte – Rio - Grandense de Futebol) comunicando sua desistência de continuar participando do torneio.
No ofício, o Senhor Rogério Soares, alega que a razão da desistência, se deve a não liberação por parte das autoridades competentes dos laudos que dariam ao estádio Josenildo Cavalcante, condições de receber os jogos da equipe em sua cidade (o Real tem mandado seus jogos em Caicó).
A ação do Senhor Soares, recebeu o apoio do Prefeito de Jardim de Piranhas, Senhor Antonio Macaco (?) que declarou haver interferências políticas (não esclareceu quem estaria por trás dessa interferência ou as razões para sua existência) na não liberação dos tais laudos.
Seria mesmo essa a razão?
Nunca saberemos ao certo, mas tenho eu minhas dúvidas...
Todos sabem que a realidade de nossos estádios é ruim, sabemos também, que no Brasil, os tais órgãos competentes, responsáveis por pela liberação de locais públicos, sofrem todo o tipo de pressão e que, acabam fazendo concessões que não deveriam ser feitas, caso as normas fossem seguidas como deveriam ser...
Normalmente essas fiscalizações são feitas na base do “vamos ver se não vai cair, mas não precisamos ser muito exigentes”.
Caso esses laudos liberatórios fossem emitidos, dentro das mais rígidas normas de segurança, conforto e saúde, talvez, no Rio Grande Norte, só o Maria Lamas Farache escapasse ileso; todos os outros seriam reprovados.
Mas, como o Senhor Soares e o Prefeito Macaco (?), podem justificar que o estádio Josenildo Cavalcante não consiga “passar”, nem por uma fiscalização “meia-boca”?
O Real conquistou o direito de jogar a primeira divisão anos passado, por que então, nada foi feito para adequar o estádio as normas exigidas?
Tem Jardim de Piranhas um secretário de obras públicas?
E se tem, saberá ele o que fazer a frente da secretaria?
Caso saiba, informou ele ao prefeito que seriam necessários recursos para realizar as obras?
Enfim, estaria Jardim de Piranhas, um município de 13.704 pessoas residentes (IBGE), com um PIB per capita (é a soma de tudo que entra no município, dividida pela população, porém, não significa que todos tenham tal grana no bolso) de R$ 4.039 (IBGE) reais e que depende dos R$ 4.193.625,58 (IBGE) que recebe do fundo de participação dos municípios para custear toda a cidade, pronto para se aventurar num campeonato profissional de futebol?
(antigo Clube Atlético Piranhas, foi bancado quase que na íntegra, durante sua existência pelo Deputado Federal João Maia, quando o parlamentar cansou, o time fechou as portas).
Portanto, a realidade acabou por destroçar o desejo de alguns e mostrar que nada havia de realeza no Real, que a sociedade firmada para alavancá-lo era frágil e que de independente, só os devaneios de seus criadores...
Perde a cidade de Jardim de Piranhas que certamente acreditou na possibilidade de voltar ao mundo da bola, perde o campeonato estadual, pois mostra o quão frágeis são seus participantes e perdemos todos nós que por bem ou por mal, seremos obrigados a admitir nossa incapacidade de aceitar que quantidade, nada tem haver com qualidade.