O conselheiro do ABC FC, Augusto Flávio de Araújo Azevedo é alguém que admiro e respeito, por várias e nobres razões: é um homem decente, honesto, íntegro, cordial, afável, amável, educado, solicito, genuinamente preocupado com questões sociais, inteligente, letrado, culto e inegavelmente, um amante do ABC.
Mas Augusto, não é o tipo de amante que usufrui do amor e depois retorna a vida cotitiana cheio de contetamento meramente pessoal...
Augusto é amante no sentido literal da palavra; se envolve, discute a relação, rediscute, esperneia diante dos equivocos cometidos, cede quando pressente que insistir pode gerar rupturas e revolta-se ao menor sinal de injustiça para com seu clube...
Esse é Augusto Azevedo, conselheiro e torcedor do ABC FC por paixão incondicional e, promotor público, por vocação, apreço ao próximo e desejo férreo de que a justiça seja a mais justa possível.
É assim que o vejo e por essas razões o admiro, mas também, por essas razões, pretendo contestar algumas de suas colocações no artigo, “Nordestinos, uni-vos”, publicado em vários jornais e blogs esportivos de Natal...
Porém, só o faço por saber que Augusto Azevedo é um homem propenso ao debate, não a discussão emocionada e rasteira.
Caso leia e discorde, virá de pronto em defesa de suas convicções ou idéias, mas virá no nível das nuvens e não da sargeta.
Será um “oponente” poderoso, pois é quase certo, que Olivier Reboul e Chaïm Perelman tenham com suas obras, feito parte de sua formação academica e, portanto, não estarei diante de um diletante, mas de um profissional do mais alto gabarito.
Augusto Flávio de Araújo Azevedo - Conselheiro do ABC FC
Terrível, humilhante, discriminatório e extremamente preocupante o que estamos assistindo no nosso futebol brasileiro.
Analisando as classificações das séries A e B, atualmente, não me deixei tomar apenas pela revolta, mas, acima de tudo, pela vontade de alertar a que façamos algo, em prol do futebol do Nordeste. Ou melhor, Norte e Nordeste.
Dos 7 clubes nordestinos, dentre os 20 inseridos na série B do Nacional, 6, falei SEIS, integram rigorosamente as 6 últimas posições. Na série A, a situação é semelhante. Dos 3 nordestinos integrantes, 2 estão na zona de rebaixamento. Para não citarmos que a Região Norte, sequer, tem representante em ambas as séries.
Atribuir esta situação à “má-gestão dos clubes” ou a “complôs”, com todo o respeito, é analisar de maneira simplista a questão. Em que pese haver sentido nestas avaliações, não podemos nos perder no “olhar das árvores, sem ver a floresta”.
Penso estarmos diante de uma afronta básica a um princípio democrático geral, que serve, e muito, ao mundo do futebol, que é “tratar os iguais de maneira igual e os desiguais de maneira desigual”.
A CBF está MATANDO os clubes menores, principalmente, destas regiões menos abastecidas, economicamente.
Começou pela extinção das copas regionais, que eram sucesso de público e renda, nestas regiões citadas. Desconsiderando tais copas, adequam o calendário brasileiro penalizando competições seriadas, como a C e D, com fórmulas que não põem em atividade todos os integrantes destas séries, o ano inteiro, só alguns poucos finalistas, e quase sem nenhum apoio logístico. São exatamente estas competições que vem dando ainda algum alento à maioria dos clubes do Norte/Nordeste.
Quando chegamos à análise das séries A e B, vemos que apesar de por em atividade o ano todo, seus clubes integrantes, peca de maneira proposital na hora da distribuição da polpuda verba patrocinante, onde os clubes menores, incluam-se os nordestinos, são os menos aquinhoados. Com isso, há uma reserva antecipada das vagas do G4 de baixo para nós e, G4 de cima, para “eles”. Além do que, draconianamente, inserem cláusula contratual que permite o absurdo de liberar as imagens de jogos para a própria praça onde os mesmos se realizam, diminuindo drasticamente a energia e o sentido dos estádios: presença de público. Cada um fica no bar da esquina ou em suas poltronas, defronte a uma TV, abandonando seus clubes.
É hora de se convocar uma grande assembléia de todos os clubes e federações, nortistas e nordestinas, construindo um documento que EXIJA, e não apenas mendigue, melhores e maiores condições nos certames.
A força de um é pouca. A de todos, enorme.
Ou REAGIMOS, ORGANIZADA e UNIFICADAMENTE, ou viraremos cemitérios de clubes e futebol, históricos e de tantas tradições.
Do blog:
Poderia silenciar e parecer concordar, poderia aplaudir, e ganhar a simpátia geral de todos, mas isso seria comodo e não vejo o jornalismo como um lugar para repouso e sim como vasto campo onde as informações claream mentes e o debate alimenta a fornalha que nos impulsiona em direção a uma sociedade mais plural.
Portanto, vamos lá...
Apenas para dar exatidão, faço uma pequena correção que não muda a razão da preocupação de Augusto Azedo: os clubes nordestinos que estão inseridos na Série B do Campeonato Brasileiro de 2009 são seis e não sete e, verdadeiramente, os cinco últimos colocados são efetivamente, nordestinos.
Mas, um deles, é forte candidato a ascender à Série A...
Na Série A, Sport e Náutico amargam a zona de rebaixamento, mas o Vitória ocupa décima colocação.
Porém, o fenômeno não é privilégio do Brasil, na Áustria, os quatro primeiros colocados no campeonato nacional daquele país, pertencem a cidades grandes (Viena (2), Salzburg e Graz), já os três que estão correndo risco de rebaixamento, vem de cidades menores (Kärnten, Wierner Neustadt e Kapfenberger)...
Na Inglaterra, dos oito primeiros colocados, 2 são de Manchester, 3 são de Londres e um de Liverpool, mas entre os 5 últimos, apenas um é de Londres e, assim mesmo, não é um dos mais ricos clubes da cidade.
Na Alemanha, na França, na Itália, na Espanha e até mesmo na minúscula Moldávia o fenômeno se repete, portanto, o que acontece aqui, acontece na Europa, na Argentina, no Chile, no Paraguai e na Venezuela.
O fenômeno é mundial: ricos à frente, pobres atrás.
Em relação especificamente a região norte, todos sabemos que apenas o futebol paraense, detém forte tradição nacional, os demais ou são pouco conhecidos ou sequer são conhecidos.
Morei na região, mas especificamente em Manaus, e mesmo aqueles que jamais pisaram naquelas plagas, sabem como tudo é longínquo, como tudo é difícil para quem lá reside.
Mas, qualquer um que se debruce por alguns minutos sobre o futebol paraense, verá que Remo e Paysandu, sempre foram administrados de forma temerária e irresponsável.
Agora mesmo, os clubes de maior apelo popular do Estado do Pará, passam pelo vexame de sequer poder entrar com recursos na justiça por falta de dinheiro para arcar com as custas dos processos e, apenas o Remo, deve mais de 7 milhões de reais em dividas trabalhistas, isto contando somente com os processos correntes.
Mas concordo com Augusto, quando afirma que é ser simplista demais o raciocínio de que apenas a má gestão é causadora de tal situação...
Há algo mais sim, mas respeitosamente, não incluo complôs e preconceitos.
Por outro lado, chamar de discriminatória as divisões das cotas de patrocínio, me soa estranho, se aqui mesmo, ABC e América, vão receber do poder público o dobro do será repassado ao Alecrim (qualquer argumento usado nesse caso em favor de ABC e América pode ser perfeitamente usado por “eles” para justificar seu quinhão maior).
Além disso, existe uma pergunta que imagino tenha cabimento: você acredita Augusto que o Tenerife, o Mallorca, o Hull, o Blackpool e o Catania, recebam de suas ligas a mesma quantia que recebem o Real Madrid, o Barcelona, o Manchester United, o Arsenal e o Milan?
Claro que não, você é um homem culto o bastante para saber que não!
Mas se ficar alguma dúvida, basta pesquisar para descobrir que mesmo na Copa do Mundo, as cotas de Brasil, Alemanha e Itália, são superiores as cotas de Japão, Estados Unidos e Austrália (essa é grande ironia, no futebol, potencias econômicas são tratadas como emergentes e um emergente, é tratado como potencia).
Para não parecer que sou um implicante que busca argumentos para desconstruir um artigo escrito por um homem apaixonado por seu clube, sua terra e sua região, concordo que as Séries C e D, deviam ser mais bem estruturadas, mas mesmo aí, a CBF apenas administra o que nossa cultura permite que ela administre.
Na Europa, as Confederações e Federações Nacionais, cuidam tão somente das seleções nacionais, da difusão e aprimoramento do futebol...
Quem negocia e quem administra os campeonatos de clubes, são as ligas.
Lá as Federações “Estaduais”, cuidam do futebol amador, da formação de atletas e do desenvolvimento do esporte em seus territórios.
Aqui não é assim.
Talvez, se fosse, quem sabe seriam diferentes as coisas.
Para encerrar, pois sinto que estou me alongando, permita-me dizer duas coisas a mais...
De todos os campeonatos regionais criados, só o Campeonato do Nordeste foi um sucesso, todos os outros foram um fiasco e, mesmo assim, a praça onde mais se vendia payper view dos jogos das equipes nordestinas, era São Paulo (estive envolvido num projeto de transmissão do campeonato pela DirecTV, Sport Promotion e Globo Esporte), por isso, tenho esse dado...
Impedir que as televisões exibam os jogos em qualquer lugar, é um contra senso, pois nas cotas que elas distribuem aos clubes, esses jogos já estão computados.
Portanto, mesmo que não vá ninguém ao estádio, em tese, esse jogo já foi pago.
Quanto à união dos clubes do norte e nordeste e das federações das duas regiões, para EXIGIREM condições mais equânimes, tenho cá minhas dúvidas, pois como esperar que federações que recebem dinheiro da CBF para se manter, tenham força moral para exigir seja lá o que for?
Com acreditar que os presidentes dessas federações que alegremente ampliaram até 2014 o mandato de Ricardo Teixeira, tenham condições para exigir algo de seu “imperador”?
Além do mais meu caro Augusto, Ricardo Teixeira nada tem com que se preocupar, é presidente e o será até o final da copa e, depois, vai concorrer a FIFA...
Sei que a união faz a força, mas você crê mesmo que Bahia, Pernambuco ou mesmo o Ceará, irão “morrer” abraçados com Paraíba, Piauí, Rondônia, Alagoas, Rio Grande do Norte e Amapá?
Não vão!
Você é um homem bom e trás em seu coração as melhores intenções, mas as leis que regem a economia, meu caro amigo não se importam nem um pouco com quem morre de fome ou quem sofre em um canto qualquer, as “leis que regem a economia”, são frias, inumanas e só se curvam aos vencedores...
Isso é triste, mas é real.
Um forte abraço.