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Felicitações aos torcedores da "rádio Globo" (entre "mortos” e feridos, salvaram-se todos) - leia-se: botafoguenses, flamenguistas, tricolores e vascaínos - especificamente aos rubro-negros cariocas.
Caro Fernando Amaral, como torcedor curioso que sou, gostaria que, se possível, o motivo de termos tantos torcedores destes clubes em nossa "província"?
Vale lembrar que o Futebol do Rio, através do meio de comunicação citado, monopolizou o futebol do nordeste por anos.
Parabéns pelo blog, um grande abraço.
Jefferson Balbino.
Antes, agradeço pelo elogio ao blog e fico feliz de “conhecer” mais um leitor...
Muito bem meu caro Balbino, lá vai você com sua curiosidade me meter em discussão que por convicção intelectual, prefiro não entrar, mas, por respeito ao leitor, vou tentar lhe explicar tal fenômeno.
Antes, porém, me deixe avisá-lo que não tenho nenhuma formação em sociologia, antropologia ou filosofia, tudo que vou escrever, está baseado na história e nas suposições que creio serem possíveis, a partir do fato histórico.
Poderia retornar a mais longínqua das datas para mostrar como e onde tudo começou, mas demandaria tempo e uma meticulosa pesquisa e, além disso, findo esse processo, teríamos que ter um espaço bem mais amplo que esse.
É preciso também, levar em consideração que perderíamos muitos leitores, pois como você sabe muito bem, textos longos acabam cansando as pessoas (só uns poucos se deliciam com as horas e dias dedicados a leitura).
Pois bem, vamos aos motivos que levam tantos natalenses e potiguares, assim como a maioria absoluta dos brasileiros a torcerem pelos grandes do Rio de Janeiro.
O Rio de Janeiro foi a segunda capital do país, e, de 1763 a 1960 foi o centro político, economico, cultural e social do país.
Por motivos óbvios, tudo se concentrou lá...
O governo e seus órgãos, os escritórios das grandes empresas e toda uma gama de pessoas ávidas por estar próximas ao poder central.
A cidade privilegiada por sua geografia impar, pelo seu clima e por sua gente sempre pronta a curtir a vida, atraiu pessoas de todo o mundo e o Rio, por muitos anos, imperou como o centro cultural do país.
Era comum nos anos cinqüenta, se esbarrar nas celebridades de Hollywood ou do cinema francês, que por lá andavam - Brigite Bardot, era apaixonado pelo Rio.
O Copacabana Palace recebia os grandes shows americanos e seus astros.
Lá surgiu o primeiro jornal impresso do Brasil: a “Gazeta do Rio de Janeiro” (resultado da vinda da família imperial para o Brasil, pois até então, por ordem da coroa portuguesa, nada podia ser impresso na colônia).
Edgar Roquette-Pinto, fundou a primeira estação de rádio em 1923: a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que ainda hoje existe, mas sob o nome de Rádio MEC.
Foi no Rio de Janeiro, que o paraibano Assis Chateaubriand fundou a TV Tupi, primeira estação de TV do Brasil e da América do Sul e lá, surgiu a Rádio Nacional, essa sim a verdadeira responsável pela massificação dos clubes cariocas pelo Brasil a fora e não, a Rádio Globo como muitos pensam.
A Rádio Nacional nasceu privada, pertencia ao grupo “A Noite” e, foi fundada em 1936, mas no dia 8 de março de 1940 o governo de Getúlio Vargas estatizou a estação e a transformou na Rádio Oficial do Brasil.
Hoje a Nacional pertence ao sistema Radiobrás, incorporada à Empresa Brasil de Comunicação – EBC...
Interessado no poder e na penetração do rádio, o governo Vargas investiu pesado na emissora e a Rádio Nacional foi para aquele tempo o que a Rede Globo de televisão, representa hoje.
Radionovela, programas de humor, musicais, radiojornalismo, programas de auditório e tudo o que você puder imaginar, “passava” na freqüência da nacional e, é claro, o velho e bom futebol...
Mas, não foi no Rio que se deu a primeira transmissão de um jogo por uma emissora de rádio...
Os paulistas são donos dessa honra...
O jogo correu em 1931 em São Paulo, e foi transmitido por Nicolau Tuma "nas ondas" da Rádio Educadora Paulista (primeira emissora de São Paulo).
Na partida, se confrontaram a Seleção de São Paulo e a Seleção do Paraná, em jogo válido pelo VIII Campeonato Brasileiro de Futebol.
O resultado foi 6x4 para São Paulo.
Para que você meu caro Balbino, tenha uma idéia da dificuldade que Tuma teve em descrever para os ouvintes o que se passava, transcrevo um trecho da obra de Edileuza Soares, “A Bola no Ar”...
“... Nicolau Tuma pede ao ouvinte para tentar pensar num retângulo na sua frente ou então pegar uma caixa de fósforos e visualizar o campo, onde vai começar a partida entre as duas seleções. ‘Do lado direito estão os paulistas e, do lado esquerdo, estão os paranaenses”, orienta o locutor.” (SOARES, 94, pág.30)
Pois bem, assim começou tudo.
Mas, voltando a Rádio Nacional.
Foi ela a responsável, pois como o governo precisava cobrir todo o território nacional, sua potencia foi expandida e a emissora, passou a levar para todo o país as notícias de interesse do poder central e, é claro, sua programação normal...
Então veja...
Se a Rádio Nacional, assim como a Mayrink Veiga, Tupi, Tamoio, Continental e Globo, eram cariocas, por que então, iriam falar de outra coisa que não fosse o Rio de Janeiro?
Em 1965, como sistema Intelsat implantado no Brasil, a penetração das potentes rádios do Rio se tornou ainda maior.
As rádios dos outros Estados não eram páreo, pois sua baixa potencia, nem sempre cobria as capitais, imagine então o interior...
Por isso, as equipes cariocas, ainda detêm a ampla maioria dos torcedores em todo o Brasil e, ainda hoje, as rádios do Rio, são as mais ouvidas em todo o país...
Principalmente no interior.
Antes de encerrar, é preciso que se faça justiça à Rede Globo de televisão: foi ela que democratizou as transmissões do futebol no Brasil, foi ela que levou a telinha, os clubes de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul e, posteriormente de outros estados...
É claro que a Globo não fez isso por bondade, mas por força de um mercado que ele pretendia conquistar em todo o território nacional e, evidentemente, às mudanças do eixo econômico, do Rio para São Paulo...
Sei do que falo, tenho 53 anos, e sou do tempo que as televisões só "passavam" jogos do campeonato carioca, sou do tempo que no Presidente Vargas no Ceará, as transmissões dos jogos pelas rádios locais, concorriam com as transmissões das rádios do Rio...
Era comum, o torcedor ver o jogo do Ceará ou do Fortaleza, com o rádio colado no ouvido, ouvindo Vasco, Flamengo, Fluminense, Botafogo e até o América...
O problema da Globo ou de qualquer outra emissora, não é de discriminação ou outro tipo de tolice, é apenas mercadológico...
Por mais que nos aborreça, não tem como comparar qualquer equipe local, com as grandes do Rio e São Paulo em termos comerciais e, fazer isso, cobrando o mesmo espaço na mídia, ou é burrice, ou é obscurantismo fanático ou é má fé – isto é, jogar para a platéia, dizer o que o torcedor quer ouvir, só para parecer simpático e paladino das causas locais...
Duvido que Portsmouth tenha o mesmo espaço na mídia inglesa que o Manchester ou Chelsea ou Liverpool...
Duvido que o Avelino tenha o mesmo espaço na mídia que o Milan, a Roma ou a Internazionale...
Duvido que o Potiguar de Mossoró, tenha o mesmo espaço na mídia que América e ABC...
Portanto, deixemos de hipocrisia e entendamos que ocupamos o espaço que podemos ocupar e não, o que gostaríamos de ter...
Mas existe uma solução radical e sangrenta: ergam as vozes, empunhem a bandeira do Rio Grande do Norte e declarem independência...
Com o que sobrar da guerra fratricida, formaremos uma nova nação e quem sabe, o petróleo que nos cabe, permita que tenhamos algum tipo de civilização por aqui.
Mas não reclame, se depois de cinqüenta anos, as pessoas desse novo país, ainda torcerem pelo Brasil nas copas que nós nunca conseguiremos chegar.