Fernando,
Sei que você não tem nada à com isso, mas preciso da sua ajuda para minha reclamação, fui ao estádio ontem, e quase morri duas vezes, vou explicar: estava com uma gripe desgraçada, até aí tudo bem, dava para aguentar, só que no intervalo do jogo fui ao banheiro para lavar o rosto, quase morro com o mau cheiro e afogado, com tanta urina no chão, tinha na faixa de três pessoas por m² dentro do WC, quando consegui avistar o lavatório de longe, desisti, o mesmo estava sendo usado como mictório por dois "cidadãos".
Aí eu pergunto, onde é que está o estatuto do torcedor?
De quem é a responsabilidade?
Como fazer com estes dois artistas?
Amigo, tem que gostar muito, e sem falar que o jogo todo tem a luminosidade dos projetores atrapalhando a sua visão, pense numa tortura.
Antes de qualquer coisa, é bom que você saiba Armando que eu tenho sim, alguma coisa com isso...
Jornalismo não é um canto onde só se fala daquilo que interessa a quem escreve...
Nem tão pouco, deve o canto servir para que seu “dono” o empreste a quem lhe for mais interessante.
Jornalismo é entre outras coisas, uma ferramenta a serviço da sociedade e, esse blog, além de servir para expor as opiniões (todas sujeitas ao contraditório) de seu titular (esse joga todas as partidas), serve do mesmo modo aos seus leitores.
Portanto, eu tenho sim alguma coisa haver com isso!
Mas vamos lá...
Vou tentar responder com algum bom humor seus questionamentos, mas não pense que tratar o assunto com bom humor, tira dele (o assunto) a gravidade e a seriedade.
De cara quero lhe dar os parabéns: sair de casa com chuva e gripado para enfrentar aquela montoeira de gente em filas expostas ao tempo, para depois sentar no cimento cru e ainda ter que gastar seu rico dinheirinho com comida de origem duvidosa e bebida superfaturada, já é prova mais que suficiente de seu afeto incondicional por seu clube e pelo nosso futebol...
Entretanto, já não bastasse todo o antes, tem o durante e esse, tenho que concordar com você, é para quem tem sangue frio...
Depois que li seu comentário, fiquei imaginando a cena e pensei...
Stanley Kubrick transformaria aquela visão dantesca em um filme espetacular... mas, pensando melhor, o Quentin Tarantino talvez fizesse melhor.
Esbarrar em macho suado, pisando em xixi, sob o estonteante odor de urina e ainda ao chegar próximo a pia, encontrar dois “cidadãos”, ao mesmo tempo, buscando espaço para seus “pintos” na mesma; é dose cavalar...
Faria o mesmo que você: daria meia volta, e retornaria para meu lugar a imaginar meu peito transpassado por uma faixa onde se poderia ler – “palhaço – ops, desculpe – torcedor”.
Quanto as suas questões, não vejo nenhum dificuldade em responder...
Onde está o estatuto do torcedor?
Em todos os gabinetes de dirigentes e autoridades responsáveis pelo esporte...
Se eles leem?
Talvez.
Cumprem?
Claro que não!
Por quê?
Pelo simples fato de que não há fiscalização e, se não há fiscalização, ninguém é autuado em flagrante...
Por outro lado, o torcedor que deveria forçar a barra...
Não força...
Deixa para lá e, a coisa que os administradores mais adoram: é isso!
Por sinal, ontem, o promotor José Augusto Pérez, estava no Machadão... bastaria uma comissão de uns cinco ou mais torcedores se dirigirem até ele e exigirem sua presença no local...
Naquele momento, o promotor estava a serviço do público e certamente, não se negaria a acompanhar os reclamantes.
De quem é a responsabilidade?
Em dia de jogo?
Do clube mandante!
Cabe ao mandante, dar total garantia de segurança, higiene e conforto aos presentes...
Não sei se é seu caso...
Mas, imagine dez torcedores do ABC, trajando as camisas de seu clube, indo reclamar com o pessoal do América?
Seria patético!
Entretanto, sejamos justos – no Maria Lamas Farache, americanos fardados, indo reclamar de alguma coisa, teria o mesmo efeito...
Ou não?
Sobre o que fazer com os dois “artistas” que urinavam concomitantemente na mesma pia, eu vou lhe responder hipoteticamente...
Na hipótese dos dois poderem ser detidos, autuados e levados a presença de um juiz...
Creio que a melhor pena, seria condená-los a fiscalizar e manter limpos os banheiros dos estádios de futebol por uns três meses...
Creio que isso iria ajudar muito na recuperação de ambos e, provavelmente, desmotivaria outros a repeti-los.
Quanto aos refletores, lhe sugiro questionar aos narradores e comentarista da rádio e televisão, sobre os mesmos – você iria adorar as respostas.
No mais, agradeço seu apreço pelo blog e, espero que os poucos, mas fiéis leitores que por aqui passam, possam fazer eco, a você e a mim nessa justa reclamação...
Ah, quando alguém lhe disser numa dessas conversas pseudo-intelectuais, que o problema do Brasil só será resolvido com educação, faça como eu: ria...
Nada é mais falácia do que essa afirmação...
Sabe por quê?
Por que o termo educação é demais amplo e aí, cabem algumas questões...
Que tipo de educação?
A formal?
Lembre que quem dirige e usa celular, em sua maioria frequentou escola...
Escola não garante um cidadão melhor, garante um cidadão com informação.
Quem urina numa pia pública, joga papel no chão, estaciona em calçada ou em vaga para deficientes, não espera as pessoas saírem de um elevador ou ônibus e já entram empurrando todo mundo, também...
Então, de que educação o falante intelectual se refere?
Aquela que deveria ser dada em casa?
Mas que casa?
Se a os pais estão muito ocupados ganhando dinheiro para sustentar a família ou precisam relaxar na frente da televisão...
Além do que, estatuto do menor e do adolescente que diz que nenhuma criança poderá sofrer constrangimento ou maus tratos por parte de quem quer que seja...
Aí, estão inclusos, pai e mãe...
Só que eles misturaram agressões, espancamentos, abusos de todo o tipo, com a velha e boa “porradinha didática” – aquela que Dona Therezinha, minha mãe, cansou de me dar e que me fizeram, como fazem até hoje, lembrar que meus direitos terminam no direito do outro.
Um forte abraço Armando e melhoras em sua saúde.