Matéria publicada no “Valor
Econômico” de ontem.
Arenas da Copa vão demorar até
198 anos para pagar custo
Por Rodrigo Pedroso | De São
Paulo
As arenas esportivas que estão
sendo construídas para a Copa do Mundo de futebol de 2014 nas 12 cidades-sede
demorarão de 11 a 198 anos para se pagar, levando em conta o nível atual de
rentabilidade dos estádios nos Estados em que serão erguidos, mostra estudo
feito pela BSB – Brunoro Sport Business.
Também segundo a análise, os 12
estádios que foram escolhidos para os jogos da Copa custarão mais e terão
receita menor depois da competição que aqueles construídos para as últimas duas
edições da Eurocopa.
Os piores prazos estão em Cuiabá,
Natal, Brasília e Manaus e variam de 130 a 198 anos.
O estudo da BSB, uma empresa de
consultoria esportiva, prevê dois cenários econômicos para as arenas da Copa
após os jogos.
O primeiro leva em conta o nível
atual de renda do futebol no Estado em que elas estão sendo construídas.
O segundo, mais otimista, prevê
aumento do faturamento com a venda especial de camarotes, publicidade, shows,
“naming rights” (venda do nome do estádio) e locação para outros eventos.
No
cenário otimista, os prazos para pagar o investimento variam de cinco a 45
anos.
No cenário mais pessimista (que
considera o padrão atual de uso), a arena com a pior rentabilidade é a de
Manaus.
A previsão é que o seu
faturamento anual depois do torneio fique em torno de R$ 2,51 milhões.
Com o custo – até agosto –
estimado em R$ 499,5 milhões, a arena esportiva demoraria 198 anos para se
pagar.
Contando com um aumento em
diferentes frentes, a receita subiria para R$ 11 milhões anuais, com a obra se
pagando em 45 anos. Nesse cenário, o Beira Rio, de Porto Alegre, se paga em
10,9 anos.
Para estimar o faturamento bruto
nos dois cálculos, o estudo não levou em conta gastos com impostos, amortização
de investimentos e manutenção.
A receita com ingressos também
ignorou a parte que cabe ao time mandante, por haver muita diferença por
região.
- Estádios terão de buscar fontes
de receita após torneio
O estádio Mané Garrincha, em
Brasília – orçado em R$ 671 milhões -, não está na lista dos mais caros, mas só
deve se pagar no próximo século.
A estimativa pessimista é que o
faturamento alcance o investimento em 167 anos, tempo pouco maior que os 155
anos do Estádio das Dunas, em Natal.
Ao custo de R$ 400 milhões, a
arena tem receita prevista em R$ 2,57 milhões anuais.
Mais rápida no retorno do
investimento de R$ 342 milhões necessários à sua construção, a Arena Pantanal,
em Cuiabá, vai equalizar o gasto em 130 anos, mantido o padrão atual do futebol
de Mato Grosso, onde o Luverdense, time do Estado melhor colocado no cenário
nacional, disputou a Série C neste ano.
O clube da capital, o Cuiabá
Esporte Clube, competiu na Série D e subiu este ano para a Série C.
De acordo com Marcelo Doria, presidente
da BSB, o estudo mostra que o país precisa aproveitar melhor a estrutura que
está criando.
“Algumas arenas estão com o tempo
de retorno muito longo. Precisamos repensar como tirar mais receitas, pois não
vai ser bom para o esporte, como negócio, deixar esses lugares como ‘elefantes
brancos’. Todo mundo fala do tamanho do investimento, mas seria mais saudável
olhar para a eficácia dele”, afirmou para depois dar um exemplo de como uma
arena multiuso é usada nos Estados Unidos.
“O Staples Center, do Los Angeles
Lakers, tem 70% da receita vinda de shows. No Brasil o esporte ainda não é
tratado como entretenimento do jeito que fazem lá fora. É tudo muito
concentrado na renda de bilheteria que vem do futebol”, diz.
Nos Estados mais rentáveis, onde
estão os times com maior torcida e, consequentemente, maior oportunidade de um
faturamento mais encorpado, nenhum estádio se paga em menos de uma década no
cenário otimista, de acordo com o estudo.
Os três maiores, Maracanã,
Itaquerão e Mineirão, estão com previsão de retorno do investimento em 19, 22 e
18 anos, respectivamente.
A Fonte Nova, em Salvador, com
custo no nível dessas outras arenas (R$ 835 milhões) deve demorar 43 anos.
Na comparação com a construção e
reforma de estádios utilizados para torneios na Europa, o prazo de retorno de
investimentos nas principais arenas brasileiras é maior mesmo no cenário
otimista.
O Estádio do Dragão, do Porto, de
Portugal, custou € 115 milhões (R$ 424 milhões) para servir à Eurocopa de 2004,
quando o país sediou o torneio.
O retorno do investimento veio
sete anos depois.
O Maracanã, estádio com melhor
previsão de faturamento (R$ 110 milhões anuais), vai gerar os R$ 931 milhões
previstos em sua reforma em 8,5 anos.
O custo dos estádios brasileiros
está dentro das previsões feitas até agosto deste ano.
A arena de Itaquera, em São
Paulo, que conta com a segunda maior previsão de receita, está longe do retorno
previsto para o estádio do Borussia Dortmund, da Alemanha, usado na Copa do
Mundo de 2006.
Enquanto os alemães demoraram
quatro anos para reaver os R$ 550 milhões na reforma do estádio, a arena
paulistana deve render os R$ 820 milhões orçados para sua construção em mais de
nove anos.
A intenção do trabalho, diz
Doria, é chamar atenção para a necessidade de mudanças nas atuais bases em que
se gera renda com estádios no país.
“Shows, locações, aluguéis de
espaços, camarotes.
Tudo isso tem que ser pensado
para haver mais transferência de valor para essas arenas”, disse.
O estudo ainda ressalta o alto
custo dos estádios brasileiros para a Copa.
As 12 arenas, somadas, estão
orçadas em RS 6,71 bilhões.
O gasto é 32% maior do que foi
dispendido pela África do Sul na última edição do torneio, e 46% maior do que o
gasto pela Alemanha em 2006.
O montante, no entanto, pode
aumentar.
Estimativas do próprio governo
apontam que os gastos devem chegar a R$ 7 bilhões.