Ainda não havia passado pela
experiência de estar fora de Natal durante uma rodada do Campeonato estadual.
Ontem, domingo, vivi tal
experiência e devo confessar não me surpreendi, pois sempre imaginei que seria
assim, mas também, não posso deixar de registrar que foi uma sensação muito
estranha.
Estava em São Miguel do Gostoso,
cidade litorânea distante cerca de 100 quilômetros da capital potiguar...
O lugar é lindo.
São Miguel do Gostoso não é
enorme e a pé, você pode conhecer facilmente a cidade.
Como só me deslocaria no fim da
tarde para Natal, resolvi aproveitar a tarde morna e bonita para averiguar o interesse da população local pelo inicio
do campeonato estadual.
Deixei a Pousada “Só Alegria” –
local que recomendo, pois é confortável, limpo, agradabilíssimo, com uma ótima
cozinha e um atendimento ainda melhor – e fui bater perna para tentar descobrir
quais e quantos nativos estariam ligados nas partidas que deram início a
temporada 2012 do futebol local.
Comecei minha “pesquisa” pela
praia...
Encontrei gente sentada curtindo
o mar, casais passeando de mãos dadas, quadriciclos indo e vindo, dois bugres e
nenhum radinho ligado no futebol...
Na praia da “xepa”, havia uma
animada pelada de futevôlei, mas nenhum som de bola rolando em algum campo de
futebol...
A quadra de futebol de salão próxima
a areia estava vazia e alguns homens desmontavam a estrutura armada para a
festa realizada na noite anterior.
Mudei o rumo e fui perambular
pela via principal da cidade...
Nada de futebol.
Música alta em dois bares, alguns
rapazes bebendo em volta de uns três carros e outras tantas bicicletas...
Turistas andando para lá e para
cá e nas residências que mantinham suas portas abertas, a televisão não
mostrava futebol.
Nas ruas paralelas, a situação
era a mesma...
Gente sim, música também, mas
rádio narrando futebol, nenhum.
Resolvi entrar num dos bares
usando o pretexto de comprar cigarro e perguntei ao dono se ele sabia que o
campeonato estadual estava começando...
Ele me olhou e disse: “vixe, e é
hoje”?
Eu disse é sim, o senhor não
sabia?
E ele, com cara de enfado, respondeu:
“não sabia não”.
Agradeci e continuei a caça de
algum rádio ligado na rodada número um do nosso campeonato...
Mais a frente, num carrinho de
lanche, pedi uma Coca-Cola e puxei assunto com uns cinco rapazes...
Acabei descobrindo, dois
torcedores do Fluminense, um do Ceará, um do Flamengo e um do Corinthians de
São Paulo...
Jaelson, o mais articulado,
disse: “ômi, aqui tu não vai encontrar muita gente que curta ABC ou América não”...
Perguntei por que e ele na bucha
disse: “quem diabo vai torcer por time ruim”?
Tentei argumentar que eram os
times de nosso Estado e Sidney, me olhou, riu e falou: “nunca vi nenhum deles
por aqui”...
Aproveitei e tentei dar o drible
final, dizendo: “nem o Vasco jamais veio aqui”...
Sidney de bate pronto emendou: “e
daí moço, eu torço por quem ganha alguma coisa e não por quem vive levando peia
e sendo rebaixando, ano sim, ano não”.
Percebi então, que ali, minha conversa
não iria render nada e me mandei.
Quando descia pela de volta a
pousada, vi um policial militar fora da viatura ao lado de um senhor que estava
sentado no batente do posto de atendimento do Banco do Brasil, com um radinho
ligado...
Aproximei-me e quase não
acreditei quando ouvi Marcos Lopes narrando América e Caicó...
Parei, cumprimentei os dois e sem
pestanejar perguntei: “vocês torcem pelo América”?
O PM disse, não; “sou ABC e estou
esperando o jogo do começar em Mossoró e secando o América”...
Já o senhor, riu e disse: “já
está dois a zero e ele tá perdendo o tempo dele”...
Perguntei então: “o senhor é
americano”?
- “Não, moço... sou mineiro, torço
pelo Cruzeiro, mas como gosto de futebol e não tem nada passando na televisão, peguei
o rádio e vim ouvir o jogo do América”.
Descobri que o senhor, é
proprietário de um restaurante na cidade e louco por futebol.
Pois bem, voltei para pousada,
arrumei minhas coisas e peguei a estrada...
No caminho vim pensando o
seguinte...
ABC e América, ainda estão muito
longe de conquistar os corações e as mentes das pessoas que vivem fora de Natal
e circunvizinhanças...
No máximo, brigam para saber que
tem a maior torcida em Natal e na grande Natal, pois fora daí, sua influência e
quase nula.