Por Wellington Silva.
No ano de 2010 tivemos, pela
primeira vez na história do mundial de futebol, uma Copa do Mundo em solo
africano.
Com certeza, um acontecimento
para ser lembrado pelos nativos e por todos os povos do mundo inteiro durante
muitos e muitos anos.
Tanto pela sua relevância
histórica, quanto pelos temas que animou.
Durante os preparativos para a
realização dos jogos, muito foi dito.
Várias foram as avaliações dos
diferentes especialistas nos mais variados assuntos.
Falou-se sobre aeroportos, novos
estádios, mobilidade urbana, marketing esportivo, entre outros, temas sobre os
quais estamos já bastante familiarizados.
Para uns, a Copa do Mundo na
África do Sul seria uma oportunidade ímpar para potencializar o crescimento
econômico do país, viabilizando ações que contribuiriam com o desenvolvimento
da infra-estrutura geral, principalmente das cidades-sedes e, por tabela,
mexeria com a alta-estima de todos os cidadãos da nação africana.
Sem falar nos ganhos intangíveis
que só aparecem, segundo especialistas em megaeventos esportivos, anos e anos
após a realização dos mesmos e que não existe maneira de mensurar nem de
constatar o seu impacto no processo avaliativo.
Só mesmo a história, ciência do
tempo, pode demonstrá-los.
Para outros, tudo não passava de
simples falácia, retóricas que por sua extrema força ideológica, ao apresentar
os elementos positivos, alguns supra citados, velava outros tantos, os de reais
interesses dos membros da FIFA, das corporações das mais distintas, dos
patrocinadores e de membros dos governos (federal, estadual e municipal).
Era necessário que o povo todo acreditasse que
a Copa da África era para o bem geral da nação africana.
Uma dessas vozes destoantes em
relação aos otimistas de plantão, era de um economista da Universidade de
Kwa-Zulu Natal, que mantinha, junto com outros intelectuais da mesma
instituição de ensino, um site na internet, chamado de Observatório da Copa do
Mundo.
Segundo ele, “não é do real interesse de
nenhum dos entes envolvidos na organização do evento – FIFA, governos e
patrocinadores – promover reais avanços na vida cotidiana do país. Menos ainda
referenciados na justiça e progresso social”. (Citação retirada do Correio
Cidadania. Acessada em 19/07/2010).
Passados já um ano e alguns meses
do evento que iria trazer a Terra Prometida para os africanos, eis que os dados
da realidade da Nação projetam uma situação por demais frustrante, de fazer
corar de vergonha os mesmos otimistas, muitos deles já devidamente encastelados
em terra tupiniquim e outros tantos, há tempos, com residência fixa nas
federações e confederações brasileiras, exercitando a política das monarquias
absolutista.
Matéria do Correio do Brasil,
publicada ontem, ao trazer uma reflexão crítica sobre o CNA (Congresso Nacional
Africano), que expulsou o Partido Nacional (exclusivo para brancos) do poder em
1994 e parece não fazer valer o seu slogan de fundação (em 1912), “uma vida
melhor para todos”, nos presenteia com alguns dados que demonstram a falácia do
potencial desenvolvimentista dos megaeventos esportivos.
Segundo a matéria (leia na
íntegra clicando aqui) “Os únicos sul-africanos que realmente desfrutam de uma
“vida melhor” são os 3 milhões integrantes da classe média negra – apenas 6% da
população de 49 milhões de habitantes.
Aproximadamente 40% da população
(20 milhões de pessoas) vive abaixo da linha da pobreza, sobrevivendo com menos
de 50 euros por mês.”
O texto do qual os dados foram
retirados diz respeito à dinâmica da política partidária do país. Faz uma
crítica ao CNA e suas políticas, não tratando de forma específica do tão
propalado legado esportivo, que ganha cada vez mais força semântica e tem a
potência de tudo explicar.
Mas creio que o mesmo nos serve
de alerta e nos ajuda a pensar sobre os reais interesses dos mega-eventos
esportivos no Brasil em 2013 (Copa das Confederações), 2014 (Copa do Mundo) e
2016 (Jogos Olímpicos) em contexto de crise política e econômica na Europa,
berço tradicional do futebol.
Sabemos que o Brasil não é a
África do Sul e que a tradição do futebol é muito mais enraizada no nosso solo
e isso pode, dizem, fazer alguma diferença.
Por outro lado, sabemos também
que são os mesmos “senhores dos anéis” que estão organizando os megaeventos
esportivos na “nossa pátria mãe gentil”.
Se lá na África, repetindo o
economista Patrick Bond, da Universidade de Kwa-Zulu Natal, não era do
interesse “(...) de nenhum dos entes envolvidos na organização do evento –
FIFA, governos e patrocinadores – promover reais avanços na vida cotidiana do
país. Menos ainda referenciados na justiça e progresso social”, por que no
Brasil será diferente?
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