É tão simples entender, que por vezes me pego pensando por que a
maiorias das pessoas tem tanta dificuldade para compreender sua própria
natureza.
Por que mentem tanto para si próprias e para os outros, afirmando que
existe sim um mundo encantado e que para chegar a ele, basta seguir esse ou
aquele preceito politico ou religioso...
Esquecem estes, que os fracos ao derrotarem os fortes, acabam por ser
dominados pelos mais fortes entre eles...
Esquecem os religiosos que a primeira coisa que toda religião estabelece
é um sistema hierárquico cuja única razão de existir é submeter seus seguidores
aos seus dogmas...
Portanto, insisto: toda ideologia é uma prisão cheia de gente perigosa
e seus líderes, assassinos em potencial.
Bem, abaixo Mikhail Bakunin e Rubens Alves, com muito mais propriedade
que eu; descrevem o que é que na verdade acontece quando o que havia é
substituído pelo que prometia ser melhor.
A propósito da natureza humana
Do anarquista russo do século XIX
Mikhail Bakunin:
“Assim, sob qualquer ângulo que
se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado
execrável: o governo da imensa maioria das massas populares por uma minoria
privilegiada.Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários.
Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes
ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o
mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si
mesmos e suas pretensões de governa-lo. Quem duvida disso não conhece a
natureza humana.”
O SONHO DOS RATOS
Era uma vez um
bando de ratos que vivia no buraco do assoalho de uma casa velha.
Havia ratos de
todos os tipos: grandes e pequenos, pretos e brancos, velhos e jovens, fortes e
fracos, da roça e da cidade.
Mas ninguém
ligava para as diferenças, porque todos estavam irmanados em torno de um sonho
comum: um queijo enorme, amarelo, cheiroso, bem pertinho dos seus narizes.
Comer o queijo
seria a suprema felicidade...
Bem pertinho
modo de dizer.
Na verdade, o
queijo estava imensamente longe, porque entre ele e os ratos estava um gato...
O gato era malvado, tinha dentes afiados e não
dormia nunca.
Por vezes
fingia dormir.
Mas bastava
que um ratinho mais corajoso se aventurasse para fora do buraco que o gato
desse um pulo e, era uma vez um ratinho...
Os ratos
odiavam o gato!
Quanto mais o
adiavam mais irmãos se sentiam.
O ódio a um
inimigo comum os tornava cúmplices de um mesmo desejo: queriam que o gato
morresse ou sonhavam com um cachorro...
Como nada
pudessem fazer, reuniram-se para conversar.
Faziam
discursos, denunciavam o comportamento do gato (não se sabe bem para quem), e
chegaram mesmo a escrever livros com a crítica filosófica dos gatos.
Diziam que um
dia chegaria em que os gatos seriam abolidos e todos seriam iguais.
“Quando se
estabelecer a ditadura dos ratos”, diziam os camundongos, então todos serão
felizes”...
- O queijo é
grande o bastante para todos, dizia um.
-
Socializaremos o queijo, dizia outro.
Todos batiam
palmas e cantavam as mesmas canções.
Era comovente
ver tanta fraternidade.
Como seria
bonito quando o gato morresse!
Sonhavam. Nos
seus sonhos comiam queijo.
E quanto mais
o comiam, mais ele crescia. Porque esta é uma das propriedades dos queijos
sonhados: não diminuem crescem sempre!
E marchavam
juntos, rabos entrelaçados, gritando: “O queijo já”...
Sem que
ninguém pudesse explicar como, o fato é que, ao acordarem, numa bela manhã, o
gato tinha sumido.
O queijo
continuava lá, mais belo que nunca.
Bastaria dar
uns poucos passos para fora do buraco.
Olharam
cuidadosamente ao redor.
Aquilo poderia
ser um truque do gato.
Mas não era.
O gato havia
desaparecido mesmo.
Chegara o dia
glorioso, e dos ratos surgiu um brado retumbante de alegria.
Todos se
lançaram ao queijo, irmanados numa fome comum.
E foi então
que a transformação se deu.
Bastou a
primeira mordida!
Compreenderam,
repentinamente, que os queijos de verdade são diferentes dos queijos sonhados.
Quando
comidos, em vez de crescer, diminuem.
Assim, quanto
maior o número dos ratos a comer o queijo, menor o naco para cada um.
Os ratos
começaram a olhar uns para os outros como se fossem inimigos.
Olharam cada
um para a boca dos outros, para ver o quanto do queijo haviam comido.
E os olhares
se enfureceram.
Eram seus
próprios inimigos.
A briga
começou!
Os mais fortes
expulsaram os mais fracos a dentadas.
E, ato
contínuo começaram a brigar entre si.
Alguns
ameaçaram chamar o gato, alegando que só assim se restabeleceria a ordem.
O projeto de
socialização do queijo foi aprovado nos seguintes termos: “Qualquer pedaço de
queijo poderá ser tomado dos seus proprietários para ser dado aos ratos magros,
desde que este pedaço tenha sido abandonado pelo dono”.
Mas como rato
algum jamais abandonou um queijo, os ratos magros foram condenados a ficar
esperando...
Os ratinhos
magros, de dentro do buraco escuro, não podiam compreender o que havia
acontecido.
O mais
inexplicável era a transformação que se operava no focinho dos ratos fortes,
agora donos do queijo.
Tinham todo o
jeito do gato, olhar malvado e os dentes à mostra.
Os ratos
magros nem mais podiam perceber a diferença entre o gato antes e os ratos de
agora.
E
compreenderam, então, que não havia diferença alguma.
Pois todo o
rato que fica dono do queijo vira gato.
Rubens Alves
Nenhum comentário:
Postar um comentário