domingo, janeiro 29, 2012

A natureza humana...



É tão simples entender, que por vezes me pego pensando por que a maiorias das pessoas tem tanta dificuldade para compreender sua própria natureza.

Por que mentem tanto para si próprias e para os outros, afirmando que existe sim um mundo encantado e que para chegar a ele, basta seguir esse ou aquele preceito politico ou religioso...

Esquecem estes, que os fracos ao derrotarem os fortes, acabam por ser dominados pelos mais fortes entre eles...

Esquecem os religiosos que a primeira coisa que toda religião estabelece é um sistema hierárquico cuja única razão de existir é submeter seus seguidores aos seus dogmas...

Portanto, insisto: toda ideologia é uma prisão cheia de gente perigosa e seus líderes, assassinos em potencial.

Bem, abaixo Mikhail Bakunin e Rubens Alves, com muito mais propriedade que eu; descrevem o que é que na verdade acontece quando o que havia é substituído pelo que prometia ser melhor.



A propósito da natureza humana

Do anarquista russo do século XIX Mikhail Bakunin:

“Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares por uma minoria privilegiada.Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governa-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana.”


O SONHO DOS RATOS


Era uma vez um bando de ratos que vivia no buraco do assoalho de uma casa velha.

Havia ratos de todos os tipos: grandes e pequenos, pretos e brancos, velhos e jovens, fortes e fracos, da roça e da cidade.

Mas ninguém ligava para as diferenças, porque todos estavam irmanados em torno de um sonho comum: um queijo enorme, amarelo, cheiroso, bem pertinho dos seus narizes.

Comer o queijo seria a suprema felicidade...

Bem pertinho modo de dizer.

Na verdade, o queijo estava imensamente longe, porque entre ele e os ratos estava um gato...

 O gato era malvado, tinha dentes afiados e não dormia nunca.

Por vezes fingia dormir.

Mas bastava que um ratinho mais corajoso se aventurasse para fora do buraco que o gato desse um pulo e, era uma vez um ratinho...

Os ratos odiavam o gato!

Quanto mais o adiavam mais irmãos se sentiam.

O ódio a um inimigo comum os tornava cúmplices de um mesmo desejo: queriam que o gato morresse ou sonhavam com um cachorro...

Como nada pudessem fazer, reuniram-se para conversar.

Faziam discursos, denunciavam o comportamento do gato (não se sabe bem para quem), e chegaram mesmo a escrever livros com a crítica filosófica dos gatos.

Diziam que um dia chegaria em que os gatos seriam abolidos e todos seriam iguais.

“Quando se estabelecer a ditadura dos ratos”, diziam os camundongos, então todos serão felizes”...

- O queijo é grande o bastante para todos, dizia um.

- Socializaremos o queijo, dizia outro.

Todos batiam palmas e cantavam as mesmas canções.

Era comovente ver tanta fraternidade.

Como seria bonito quando o gato morresse!

Sonhavam. Nos seus sonhos comiam queijo.

E quanto mais o comiam, mais ele crescia. Porque esta é uma das propriedades dos queijos sonhados: não diminuem crescem sempre!

E marchavam juntos, rabos entrelaçados, gritando: “O queijo já”...

Sem que ninguém pudesse explicar como, o fato é que, ao acordarem, numa bela manhã, o gato tinha sumido.

O queijo continuava lá, mais belo que nunca.

Bastaria dar uns poucos passos para fora do buraco.

Olharam cuidadosamente ao redor.

Aquilo poderia ser um truque do gato.

Mas não era.

O gato havia desaparecido mesmo.

Chegara o dia glorioso, e dos ratos surgiu um brado retumbante de alegria.

Todos se lançaram ao queijo, irmanados numa fome comum.

E foi então que a transformação se deu.

Bastou a primeira mordida!

Compreenderam, repentinamente, que os queijos de verdade são diferentes dos queijos sonhados.

Quando comidos, em vez de crescer, diminuem.

Assim, quanto maior o número dos ratos a comer o queijo, menor o naco para cada um.

Os ratos começaram a olhar uns para os outros como se fossem inimigos.

Olharam cada um para a boca dos outros, para ver o quanto do queijo haviam comido. 
E os olhares se enfureceram.

Eram seus próprios inimigos.

A briga começou!

Os mais fortes expulsaram os mais fracos a dentadas.

E, ato contínuo começaram a brigar entre si.

Alguns ameaçaram chamar o gato, alegando que só assim se restabeleceria a ordem.

O projeto de socialização do queijo foi aprovado nos seguintes termos: “Qualquer pedaço de queijo poderá ser tomado dos seus proprietários para ser dado aos ratos magros, desde que este pedaço tenha sido abandonado pelo dono”.

Mas como rato algum jamais abandonou um queijo, os ratos magros foram condenados a ficar esperando...

Os ratinhos magros, de dentro do buraco escuro, não podiam compreender o que havia acontecido.

O mais inexplicável era a transformação que se operava no focinho dos ratos fortes, agora donos do queijo.
Tinham todo o jeito do gato, olhar malvado e os dentes à mostra.

Os ratos magros nem mais podiam perceber a diferença entre o gato antes e os ratos de agora.

E compreenderam, então, que não havia diferença alguma.

Pois todo o rato que fica dono do queijo vira gato.


Rubens Alves


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