Você sabe com certeza as razões
que levaram o Palmeiras a se chamar Palmeiras...
Mas e os detalhes, você conhece?
A história acontece durante o
Estado Novo (1937 a 1945) de Getúlio Vargas...
O primeiro passo que forçou o
Palestra Itália a se afastar de suas origens italianas e se transformar em SE
Palmeiras foi dado no dia 21 de janeira de 1942, quando Pascoal Walter Bairo
Giuliano, secretário-geral do Palestra compareceu à sede do DOPS (Delegacia de
Ordem Política e Social).
Naquele dia, o dirigente que se
tornaria um vitorioso no comando do clube, com mandatos entre 1953 e 1984,
assinou termo aceitando um lista de exigências...
Ou concordava com elas, ou a
sociedade esportiva seria extinta e suas portas cerradas definitivamente.
A partir daí, o clube se viu
obrigado a comunicar ao DOPS a realização de suas reuniões com três dias de
antecedência para que agentes do órgão comparecessem e informassem ao estado
tudo o que aconteceu...
A audição de emissoras de rádio
estrangeiras (italianas e alemãs, preferencialmente) foram terminantemente proibidas
e o clube tinha que assegurar que não aconteceria nenhum encontro dos sócios
fora do recinto da sociedade.
Assim, Getúlio Vargas e seu
governo nacionalista e alinhado aos Estados Unidos, Grã Bretanha, França e
União Soviética, esperava conter as ligações de italianos, alemães e japoneses
com seus países de origem que a época lutavam contra os aliados na segunda
grande guerra mundial.
Quatro dias antes do
comparecimento de Giuliano ao Dops, o cerco aos clubes de origem estrangeira
havia apertado.
Telegrama identificado com o
número 732, de 17 de janeiro de 1941, continha instruções do ministro da
Justiça ao interventor federal do Estado de São Paulo.
Elas determinavam “maior controle
das sociedades estrangeiras”.
Com base nesse telegrama, o
Palestra foi intimado a comparecer ao Dops, ordem cumprida por Giuliano.
Oito dias após a assinatura do
termo de compromisso, o Palestra iniciou a “limpeza” exigida pelo governo
brasileiro.
Documento de 28 de janeiro de
1942 entregue à Superintendência de Segurança Política e Social registra que
naquele dia quatro dirigentes do clube pediram demissão por serem italianos.
Entre eles estava o diretor geral
de esportes, Attilio Ricotti.
“Os pedidos (de demissão) foram
todos aceitos, figurando, portanto, na diretoria desta sociedade somente
brasileiros natos”, diz trecho do documento, também assinado por Giuliano.
Uma lista com o nome de todos os
brasileiros dirigentes do clube, incluindo seus endereços, foi entregue aos
policiais.
Na relação, entre outros,
aparecem Italo Adami, presidente, e Hygino Pellegrini, primeiro vice e que
também teve passagens vitoriosas pela presidência.
Outro documento, de 12 de agosto
de 1942, mostra mais marcas deixadas no Palestra durante aquele período.
A primeira delas está no nome.
Uma carta enviada para a
Delegacia de Ordem Política e Social mostra o escudo do clube com o nome
Palestra de São Paulo, não mais Itália.
A finalidade do ofício é mais um
sinal das aflições de quem torcia pelo time naquela época.
O objetivo do presidente Italo
Adami era pedir um salvo-conduto para que os sócios do clube pudessem ir até
Santos de trem para acompanhar um jogo da equipe.
O salvo-conduto era dado
principalmente a imigrantes italianos, japoneses e alemães para que eles
pudessem se deslocar por determinado território durante a Segunda Guerra.
Foi justamente naquele mês em que
o Brasil entrou no conflito contra o Eixo, liderado por Alemanha, Itália e
Japão.
Na ocasião, o dirigente do
Palestra explicou que para a “maior comodidade de seus sócios”, o clube organizou
“uma caravana de trem especial que partirá da estação da Luz”.
Em seguida, Adami diz que tem a
honra de solicitar ao Major Olinto França, superintendente do Dops, que “se
digne mandar conceder salvo-conduto coletivo” para os integrantes da caravana.
Ele afirma ainda que foi
informado na estação de que cada vagão do trem deve ter a presença de um guarda
indicado pelo Dops.
A intenção era encher dez vagões.
A resposta saiu no dia seguinte.
Escrita à mão, indeferiu o pedido.
Menos de dois anos depois desse
episódio, relatório feito por investigadores identificados apenas por números,
já menciona o clube como Sociedade Esportiva Palmeiras.
O documento, de 17 de março de
1944, ainda durante a Segunda Guerra e o Estado Novo, relata que os agentes 18,
230, 808 e 908 compareceram à assembleia da Sociedade Esportiva Palmeiras em
que foram eleitos os conselheiros da chapa “Renovação” e que nada de anormal
aconteceu “de interesse para esta especializada”.
Na pasta destinada ao Palestra
Itália e à Sociedade Esportiva Palmeiras guardada no Arquivo Público do Estado,
não foi localizado nenhum documentos sobre a mudança de nome para Palmeiras,
que ocorreu em setembro de 1942, como resultado da pressão sobre entidades
ligadas a estrangeiros.