segunda-feira, dezembro 08, 2014

Como o Palestra Itália se transformou na Sociedade Esportiva Palmeiras...

Você sabe com certeza as razões que levaram o Palmeiras a se chamar Palmeiras...

Mas e os detalhes, você conhece?

A história acontece durante o Estado Novo (1937 a 1945) de Getúlio Vargas...

O primeiro passo que forçou o Palestra Itália a se afastar de suas origens italianas e se transformar em SE Palmeiras foi dado no dia 21 de janeira de 1942, quando Pascoal Walter Bairo Giuliano, secretário-geral do Palestra compareceu à sede do DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social).

Naquele dia, o dirigente que se tornaria um vitorioso no comando do clube, com mandatos entre 1953 e 1984, assinou termo aceitando um lista de exigências...

Ou concordava com elas, ou a sociedade esportiva seria extinta e suas portas cerradas definitivamente.

A partir daí, o clube se viu obrigado a comunicar ao DOPS a realização de suas reuniões com três dias de antecedência para que agentes do órgão comparecessem e informassem ao estado tudo o que aconteceu...

A audição de emissoras de rádio estrangeiras (italianas e alemãs, preferencialmente) foram terminantemente proibidas e o clube tinha que assegurar que não aconteceria nenhum encontro dos sócios fora do recinto da sociedade.

Assim, Getúlio Vargas e seu governo nacionalista e alinhado aos Estados Unidos, Grã Bretanha, França e União Soviética, esperava conter as ligações de italianos, alemães e japoneses com seus países de origem que a época lutavam contra os aliados na segunda grande guerra mundial.

Quatro dias antes do comparecimento de Giuliano ao Dops, o cerco aos clubes de origem estrangeira havia apertado. 

Telegrama identificado com o número 732, de 17 de janeiro de 1941, continha instruções do ministro da Justiça ao interventor federal do Estado de São Paulo. 

Elas determinavam “maior controle das sociedades estrangeiras”. 

Com base nesse telegrama, o Palestra foi intimado a comparecer ao Dops, ordem cumprida por Giuliano.

Oito dias após a assinatura do termo de compromisso, o Palestra iniciou a “limpeza” exigida pelo governo brasileiro. 

Documento de 28 de janeiro de 1942 entregue à Superintendência de Segurança Política e Social registra que naquele dia quatro dirigentes do clube pediram demissão por serem italianos. 

Entre eles estava o diretor geral de esportes, Attilio Ricotti.

“Os pedidos (de demissão) foram todos aceitos, figurando, portanto, na diretoria desta sociedade somente brasileiros natos”, diz trecho do documento, também assinado por Giuliano. 

Uma lista com o nome de todos os brasileiros dirigentes do clube, incluindo seus endereços, foi entregue aos policiais. 

Na relação, entre outros, aparecem Italo Adami, presidente, e Hygino Pellegrini, primeiro vice e que também teve passagens vitoriosas pela presidência.

Outro documento, de 12 de agosto de 1942, mostra mais marcas deixadas no Palestra durante aquele período. 

A primeira delas está no nome. 

Uma carta enviada para a Delegacia de Ordem Política e Social mostra o escudo do clube com o nome Palestra de São Paulo, não mais Itália.

A finalidade do ofício é mais um sinal das aflições de quem torcia pelo time naquela época. 

O objetivo do presidente Italo Adami era pedir um salvo-conduto para que os sócios do clube pudessem ir até Santos de trem para acompanhar um jogo da equipe. 

O salvo-conduto era dado principalmente a imigrantes italianos, japoneses e alemães para que eles pudessem se deslocar por determinado território durante a Segunda Guerra. 

Foi justamente naquele mês em que o Brasil entrou no conflito contra o Eixo, liderado por Alemanha, Itália e Japão.

Na ocasião, o dirigente do Palestra explicou que para a “maior comodidade de seus sócios”, o clube organizou “uma caravana de trem especial que partirá da estação da Luz”. 

Em seguida, Adami diz que tem a honra de solicitar ao Major Olinto França, superintendente do Dops, que “se digne mandar conceder salvo-conduto coletivo” para os integrantes da caravana. 

Ele afirma ainda que foi informado na estação de que cada vagão do trem deve ter a presença de um guarda indicado pelo Dops. 

A intenção era encher dez vagões.

A resposta saiu no dia seguinte. 

Escrita à mão, indeferiu o pedido.

Menos de dois anos depois desse episódio, relatório feito por investigadores identificados apenas por números, já menciona o clube como Sociedade Esportiva Palmeiras. 

O documento, de 17 de março de 1944, ainda durante a Segunda Guerra e o Estado Novo, relata que os agentes 18, 230, 808 e 908 compareceram à assembleia da Sociedade Esportiva Palmeiras em que foram eleitos os conselheiros da chapa “Renovação” e que nada de anormal aconteceu “de interesse para esta especializada”.

Na pasta destinada ao Palestra Itália e à Sociedade Esportiva Palmeiras guardada no Arquivo Público do Estado, não foi localizado nenhum documentos sobre a mudança de nome para Palmeiras, que ocorreu em setembro de 1942, como resultado da pressão sobre entidades ligadas a estrangeiros.

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