Bandeira vermelha para o kart potiguar
Por
Luiz Carlos Oliveira
Para
o Blog Jornalismo Esportivo da UFRN
No
inicio de 2015, o kartismo norte-rio-grandense irá completar dois anos sem o seu
único e principal palco, o kartódromo Geraldo Melo. Ainda assim, o clima é de
incerteza quanto à construção de uma nova pista.
Situação
que gera indignação entre pilotos, suas equipes, e entusiastas do esporte.
Para
Michel Aguiar, ex-piloto e atual Presidente da Associação Potiguar de Pilotos
de Kart, janeiro de 2013 marcou o início de um declínio inesperado do esporte,
com a demolição do local que foi o berço de grandes talentos do kartismo
potiguar.
Em
entrevista à equipe do Blog Jornalismo Esportivo da UFRN, Michel, que também
cuida da carreira do seu filho, o Gabriel Aguiar, que, apesar da pouca idade,
já é um dos grandes nomes da história do kart no Rio Grande do Norte, falou dos
problemas enfrentados na prática da modalidade, da relação com a Federação
Potiguar de Automobilismo, e dos planos para a carreira do seu talentoso filho.
Confirma
a entrevista na íntegra:
Como está o automobilismo potiguar
atualmente?
Michel
Aguiar: O Kartismo potiguar está parado. Para se ter uma ideia, o campeonato
pernambucano foi elaborado em 8 etapas, e paralelo a ele, nas etapas ímpares,
está sendo disputado o campeonato potiguar. Está havendo a disputa de dois
campeonatos simultaneamente. E os pilotos potiguares que disputam o
pernambucano entram também na disputa do potiguar nas etapas ímpares.
Para os pilotos do estado, com a
falta de um kartódromo, competir fora é uma opção viável?
Para
federação se manter deve promover, no mínimo, um evento por ano. E a saída foi
entrar em concordância com a Federação Pernambucana e assim manter a realização
do campeonato potiguar. Mas, competir em Recife, que é um dos locais mais
próximos, por exemplo, não é uma opção satisfatória. Às vezes, por causa da
falta de tempo, os pilotos só viajam nos fins de semana para treinar, é sempre
muito desgastante, e, além disso, por causa de um bairrismo muito grande –
pilotos recifenses não “podem” perder títulos para os potiguares – a pista é
liberada para o indoor aos sábados. Isso dificulta o treinamento.
Na ocasião da demolição foi
oferecido, pela prefeitura de Natal, um terreno no Planalto. Qual seria o local
mais adequado para a construção de uma nova pista?
O
que existia com a prefeitura era um acordo verbal em relação à construção, mas
nada de oficial que confirmasse a cessão de um terreno no Planalto.
A
Associação recebeu uma doação, da iniciativa privada, de um terreno de sete
hectares, localizado entre as praias de Pitangui e Jacumã, para a construção do
kartódromo potiguar. Porém, esbarramos em outro impasse que é conseguir fundos
para a execução da obra, pois não podemos ter um bem em nome da associação e
depois sermos cobrados por não dar seguimento ao plano de construção. Portanto,
a nível de concretude, só este terreno doado que surge como opção, o resto está
só no campo do diálogo.
Além da falta de um local para
treinar e competir, o que mais implica a destruição da pista para o kartismo
potiguar?
A
falta de um kartódromo sugere alguns outros problemas, como, por exemplo, o RN
é um grande celeiro de craques, mas sem pista acaba inibindo o surgimento de
novos, pois, se tivéssemos continuidade, com certeza estaríamos com o nível
cada vez maior, e, consequentemente, atrairíamos mais fãs, e mais renda com os
eventos, já que esse tipo de evento também movimenta a economia local.
Além
disso, a demolição do Kartódromo representou a demissão de aproximadamente 40
funcionários, entre mecânicos, secretários, e ajudantes, e 40 funcionários
representam 40 famílias que passaram a não ter mais fonte de renda. Pessoas que
estão passando necessidade sem a pista.
A Associação tem em mente alguma
solução paliativa?
Há
algum tempo pensamos em utilizar o Centro de Convenções, e depois o
estacionamento do Arena Das Dunas, mas ambas são inviáveis. Eu, como pai de
piloto, jamais deixaria meu filho competir numa pista que foi demarcada por
pneus, e que não tem uma área de escape. Até mesmo o tipo de asfalto é
diferente. Então, para o kartismo de competição essas soluções não são viáveis.
Mas
o kart Indoor tem pretensões de voltar, e seria praticado no estacionamento do
Arena. Vejo como um bom recomeço, isso pode ajudar nossa causa a ganhar
visibilidade. Até por que existem também campeonatos de Indoor.
Qual o nível do kartismo potiguar?
Os
pilotos do RN sempre entram pra ganhar, é um nível altíssimo de competitividade
que tá se deixando pra trás. São pilotos que levantam bandeira do estado.
Estamos regredindo no tempo. Temos pilotos que correspondem às expectativas.
Chegamos a ser referência a nível nordeste e Brasil, e estamos sumindo do mapa.
Qual a relação da Associação com a
Federação?
Existe
dificuldade de comunicação com a Federação, inclusive, até para conseguimos a
confirmação da chegada de uma carteira (as carteiras são emitidas anualmente),
solicitada para o Gabriel poder competir, fica complicado. Além disso, tentamos
homologar a Associação junto à Federação, pois assim teríamos direito a voto em
relação às decisões da Federação, e teríamos autonomia, mas nos foi cobrado 32
mil.
Como está a carreira do Gabriel?
Após
o grande feito de ter conquistado a tríplice coroa (Campeonato Pernambucano, Paraibano
e Potiguar no mesmo ano - 2010), e a copa nordeste (2011), que foi seu último
grande evento, Gabriel teve sua carreira prejudicada muito por conta da
demolição do kartódromo, bem como outros pilotos como o próprio Victor Uchôa,
outro grande nome potiguar. Fica muito difícil manter-se em alto nível desta
forma, imagina o Fernando Alonso sem uma pré-temporada, você acha que com todo
seu talento ele renderia o mesmo?
Quais as pretensões dele para o
futuro?
A
pretensão é disputar ano que vem a copa nordeste, e talvez o campeonato
brasileiro, mas acho que ele teria mais visibilidade participando de outros
eventos, que nada têm a ver com a CBA. Penso também em coloca-lo na fórmula
Junior, pois é economicamente mais viável do que o brasileiro, e assim ele se
mantém ativo.
Qual o maior sonho do Gabriel no
automobilismo?
O
maior desejo dele é a Stock Car, mas nós sabemos que é muito difícil até por
conta da falta infraestrutura, e, talvez, a Fórmula 1.
Em sua opinião, que conquista você
destaca como a mais emocionante do seu filho?
Final
da copa Nordeste foi o momento mais marcante (2011), lá ele teve problemas de
motor nas etapas finais. O Gabriel competiu com o filho do dono do Kartódromo
de Recife, existia uma grande rivalidade. Houve muitas alternações na
liderança, em média, 15 trocas de posição nas 8 ultimas voltas. O kart do
adversário era muito bom de reta, mas compensávamos nas curvas. O mecânico
fumou uns 20 cigarros na corrida.
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