domingo, dezembro 07, 2014

As agruras do kart potiguar...


Bandeira vermelha para o kart potiguar

Por Luiz Carlos Oliveira


Para o Blog Jornalismo Esportivo da UFRN

No inicio de 2015, o kartismo norte-rio-grandense irá completar dois anos sem o seu único e principal palco, o kartódromo Geraldo Melo. Ainda assim, o clima é de incerteza quanto à construção de uma nova pista. 

Situação que gera indignação entre pilotos, suas equipes, e entusiastas do esporte. 

Para Michel Aguiar, ex-piloto e atual Presidente da Associação Potiguar de Pilotos de Kart, janeiro de 2013 marcou o início de um declínio inesperado do esporte, com a demolição do local que foi o berço de grandes talentos do kartismo potiguar.

Em entrevista à equipe do Blog Jornalismo Esportivo da UFRN, Michel, que também cuida da carreira do seu filho, o Gabriel Aguiar, que, apesar da pouca idade, já é um dos grandes nomes da história do kart no Rio Grande do Norte, falou dos problemas enfrentados na prática da modalidade, da relação com a Federação Potiguar de Automobilismo, e dos planos para a carreira do seu talentoso filho.

Confirma a entrevista na íntegra:

Como está o automobilismo potiguar atualmente?

Michel Aguiar: O Kartismo potiguar está parado. Para se ter uma ideia, o campeonato pernambucano foi elaborado em 8 etapas, e paralelo a ele, nas etapas ímpares, está sendo disputado o campeonato potiguar. Está havendo a disputa de dois campeonatos simultaneamente. E os pilotos potiguares que disputam o pernambucano entram também na disputa do potiguar nas etapas ímpares.

Para os pilotos do estado, com a falta de um kartódromo, competir fora é uma opção viável?

Para federação se manter deve promover, no mínimo, um evento por ano. E a saída foi entrar em concordância com a Federação Pernambucana e assim manter a realização do campeonato potiguar. Mas, competir em Recife, que é um dos locais mais próximos, por exemplo, não é uma opção satisfatória. Às vezes, por causa da falta de tempo, os pilotos só viajam nos fins de semana para treinar, é sempre muito desgastante, e, além disso, por causa de um bairrismo muito grande – pilotos recifenses não “podem” perder títulos para os potiguares – a pista é liberada para o indoor aos sábados. Isso dificulta o treinamento.

Na ocasião da demolição foi oferecido, pela prefeitura de Natal, um terreno no Planalto. Qual seria o local mais adequado para a construção de uma nova pista? 

O que existia com a prefeitura era um acordo verbal em relação à construção, mas nada de oficial que confirmasse a cessão de um terreno no Planalto. 

A Associação recebeu uma doação, da iniciativa privada, de um terreno de sete hectares, localizado entre as praias de Pitangui e Jacumã, para a construção do kartódromo potiguar. Porém, esbarramos em outro impasse que é conseguir fundos para a execução da obra, pois não podemos ter um bem em nome da associação e depois sermos cobrados por não dar seguimento ao plano de construção. Portanto, a nível de concretude, só este terreno doado que surge como opção, o resto está só no campo do diálogo.

Além da falta de um local para treinar e competir, o que mais implica a destruição da pista para o kartismo potiguar?

A falta de um kartódromo sugere alguns outros problemas, como, por exemplo, o RN é um grande celeiro de craques, mas sem pista acaba inibindo o surgimento de novos, pois, se tivéssemos continuidade, com certeza estaríamos com o nível cada vez maior, e, consequentemente, atrairíamos mais fãs, e mais renda com os eventos, já que esse tipo de evento também movimenta a economia local. 

Além disso, a demolição do Kartódromo representou a demissão de aproximadamente 40 funcionários, entre mecânicos, secretários, e ajudantes, e 40 funcionários representam 40 famílias que passaram a não ter mais fonte de renda. Pessoas que estão passando necessidade sem a pista. 

A Associação tem em mente alguma solução paliativa?

Há algum tempo pensamos em utilizar o Centro de Convenções, e depois o estacionamento do Arena Das Dunas, mas ambas são inviáveis. Eu, como pai de piloto, jamais deixaria meu filho competir numa pista que foi demarcada por pneus, e que não tem uma área de escape. Até mesmo o tipo de asfalto é diferente. Então, para o kartismo de competição essas soluções não são viáveis. 

Mas o kart Indoor tem pretensões de voltar, e seria praticado no estacionamento do Arena. Vejo como um bom recomeço, isso pode ajudar nossa causa a ganhar visibilidade. Até por que existem também campeonatos de Indoor.

Qual o nível do kartismo potiguar?

Os pilotos do RN sempre entram pra ganhar, é um nível altíssimo de competitividade que tá se deixando pra trás. São pilotos que levantam bandeira do estado. Estamos regredindo no tempo. Temos pilotos que correspondem às expectativas. Chegamos a ser referência a nível nordeste e Brasil, e estamos sumindo do mapa.

Qual a relação da Associação com a Federação?

Existe dificuldade de comunicação com a Federação, inclusive, até para conseguimos a confirmação da chegada de uma carteira (as carteiras são emitidas anualmente), solicitada para o Gabriel poder competir, fica complicado. Além disso, tentamos homologar a Associação junto à Federação, pois assim teríamos direito a voto em relação às decisões da Federação, e teríamos autonomia, mas nos foi cobrado 32 mil.

Como está a carreira do Gabriel?

Após o grande feito de ter conquistado a tríplice coroa (Campeonato Pernambucano, Paraibano e Potiguar no mesmo ano - 2010), e a copa nordeste (2011), que foi seu último grande evento, Gabriel teve sua carreira prejudicada muito por conta da demolição do kartódromo, bem como outros pilotos como o próprio Victor Uchôa, outro grande nome potiguar. Fica muito difícil manter-se em alto nível desta forma, imagina o Fernando Alonso sem uma pré-temporada, você acha que com todo seu talento ele renderia o mesmo?

Quais as pretensões dele para o futuro?

A pretensão é disputar ano que vem a copa nordeste, e talvez o campeonato brasileiro, mas acho que ele teria mais visibilidade participando de outros eventos, que nada têm a ver com a CBA. Penso também em coloca-lo na fórmula Junior, pois é economicamente mais viável do que o brasileiro, e assim ele se mantém ativo. 

Qual o maior sonho do Gabriel no automobilismo?

O maior desejo dele é a Stock Car, mas nós sabemos que é muito difícil até por conta da falta infraestrutura, e, talvez, a Fórmula 1.

Em sua opinião, que conquista você destaca como a mais emocionante do seu filho?

Final da copa Nordeste foi o momento mais marcante (2011), lá ele teve problemas de motor nas etapas finais. O Gabriel competiu com o filho do dono do Kartódromo de Recife, existia uma grande rivalidade. Houve muitas alternações na liderança, em média, 15 trocas de posição nas 8 ultimas voltas. O kart do adversário era muito bom de reta, mas compensávamos nas curvas. O mecânico fumou uns 20 cigarros na corrida.

Nenhum comentário: