Imagem: Albert Gea/Reuters
O que acontece com o Barcelona se a Catalunha ficar independente da
Espanha?
Em princípio, o Barcelona ficaria de fora da Liga espanhola e das
competições internacionais
El País
A possível proclamação unilateral
de independência da Catalunha afetaria a inclusão de clubes esportivos catalães
nas competições espanholas das quais hoje participam.
No caso do futebol profissional
(clubes de primeira e segunda divisão), Barcelona, Espanyol, Girona, Nàstic e
Reus se veriam imediatamente afetados pela declaração de uma suposta República
Catalã.
O mesmo ocorreria com os demais
times que competem na Segunda Divisão B e Terceira (o terceiro e quarto
escalões do futebol espanhol, respectivamente).
“Frente à complexidade do que possa acontecer no futuro com a independência
da Catalunha, onde o Barcelona poderá ou não jogar é algo que abordaremos com a
diretoria quando for a hora, e o faremos com seny [sensatez], como dizemos
aqui”, afirmou nesta terça-feira o presidente do Barcelona FC, Josep Maria
Bartomeu, mostrando que, por enquanto, o clube não tem um plano preparado.
Se a Catalunha se constituir como
um Estado independente, e atendendo à lei esportiva que vigora em toda a
Espanha, todos os clubes catalães ficariam de fora das competições espanholas,
pois violariam requisitos estabelecidos nas regras.
Conforme o artigo 6º. da seção
4ª. da Lei 1835/1991, “para a
participação de seus membros em atividades ou competições esportivas oficiais
de âmbito estatal ou internacional, as Federações esportivas de âmbito
autonômico dever-se-ão integrar às correspondentes Federações esportivas
espanholas”.
Ao constituir o novo Estado
catalão, a Federação Catalã de Futebol deixaria de representar uma comunidade
autônoma espanhola, sendo, portanto, automaticamente excluída da Real Federação
Espanhola de Futebol (RFEF).
O artigo 99 do regulamento também
estabelece que “todos os clubes que
desejarem participar de competições oficiais em nosso país deverão estar
filiados à Real Federação Espanhola de Futebol e integrados a estas, e também
na federação de âmbito autonômico da qual sejam membros”.
Javier Tebas, presidente da Liga
espanhola, disse que também na sua avaliação o Barcelona seria impedido de
disputar competições...
“A Lei
do Esporte inclui uma disposição adicional segundo a qual somente há um Estado
não espanhol que pode jogar a Liga ou as competições oficiais espanholas, e
este é Andorra. Para fazer essa modificação [para incluir a Catalunha], seria
preciso haver uma alteração no Parlamento, e é preciso ver se o setor afetado
estaria ou não de acordo”, afirmou o dirigente em setembro passado.
Tebas respondia assim às
declarações de Gerard Esteva, presidente da União de Federações Esportivas da
Catalunha e do Comitê Olímpico Catalão (COC), segundo quem “numa Catalunha independente o Barcelona teria a sorte de poder
escolher em qual Liga jogar”. O COC, por sua vez, enviou uma carta ao
Comitê Olímpico Internacional antes da realização do referendo solicitando seu
reconhecimento “como membro de pleno direito” caso o sim vencesse nas urnas –
em uma votação que a Justiça espanhola disse ter sido ilegal.
Diante dos diversos regulamentos
aplicáveis, as únicas formas de o Barcelona disputar o Campeonato Espanhol em
caso de separatismo seriam com uma modificação na Lei do Esporte – a qual
deveria ser proposta e aprovada no Parlamento espanhol, reconhecendo a
excepcionalidade da Catalunha e equiparando-a ao Principado de Andorra – ou
filiando-se a outra federação regional subordinada à RFEF.
Além de serem excluídos das
competições espanholas, os clubes catalães também ficariam inicialmente de fora
de qualquer torneio internacional, como a Champions League e a Liga da Europa.
Os clubes locais só poderiam
disputar vagas em torneios continentais depois que a Catalunha solicitasse à
UEFA a criação de uma liga própria.
Exemplos na França e Inglaterra
Dois clubes não ingleses (Cardiff
City e Swansea, ambos do País de Gales) disputam o Campeonato Inglês. Esses
dois times foram autorizados pela Football Association (federação inglesa) para
participar de sua competição porque Gales pertence ao Reino Unido, assim como a
Inglaterra, e houve um acordo com a federação inglesa para que os dois times da
região vizinha fossem incorporados.
Cardiff e Swansea iniciaram sua
participação das categorias inferiores do futebol inglês até ascenderem por
méritos próprios à divisão principal.
Caso oposto ao do Cardiff e do
Swansea acontece com o Celtic e o Glasgow Rangers.
Nos últimos anos, os dois mais
poderosos clubes da Escócia manifestam interesse em disputar a liga inglesa,
mas ainda não houve um acordo nesse sentido.
Algumas vezes foi mencionada a
possibilidade de o Barcelona solicitar sua adesão à Ligue 1 (Campeonato
Francês), amparando-se no exemplo da AS Monaco, um clube sediado no Principado
de Mônaco, minúsculo país soberano encravado no litoral sul da França.
A diferença é que o Mônaco,
fundado em 1924, participou da primeira edição da Ligue 1, na temporada
1932-1933, depois de alcançar um acordo esportivo, tornando-se uma das equipes
históricas do futebol francês.
Para que qualquer das duas
possibilidades anteriores chegasse a valer, a UEFA e a FIFA deveriam se
posicionar favoravelmente depois que Catalunha fosse reconhecida como
comunidade política independente.