Imagem: Autor Desconhecido
No dia 3 de
setembro de 1989, o Brasil recebeu o Chile, no Maracanã, pelas Eliminatórias da
Copa do Mundo de 1990.
Ao final do
jogo, dois improváveis personagens foram os destaques: Rojas e Rosinery Mello,
a Fogueteira do Maracanã.
Pedro
Henrique Brandão Lopes
Os anos 1980
entraram para a história como “anos indomáveis”.
Muito do que
aconteceu naquela década, em qualquer área que se possa imaginar, pode parecer
absurdo nos dias de hoje.
O futebol não
ficou de fora do padrão proposto por aquela década louca.
Em 1989, o
dia 3 de setembro foi a data escolhida pelo destino para uma noite fora do
comum no Maracanã.
A Seleção
Brasileira, dirigida pelo contestado Sebastião Lazaroni, disputava as
Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1990 e, justamente, naquela noite
enfrentaria o Chile pela última rodada do grupo 3, precisando da vitória para
conquistar a vaga no Mundial da Itália.
O Chile não
veio ao Brasil para passear e em caso de triunfo em solo carioca, os chilenos
estariam classificados à Copa.
O jogo não
seria fácil e, se perdessem, venderiam caro a derrota.
Foi com esse
espírito, de vencer a qualquer custo, que o time chileno entrou em campo.
O goleiro
Roberto Rojas entrou no gramado com uma ideia um pouco além da motivação da
partida.
Aos 24
minutos do segundo tempo, quando o Brasil vencia por 1 a 0, gol de Careca, um
lance mudou o rumo da partida e quase o rumo da Copa do Mundo que seria
disputada no ano seguinte.
Um
sinalizador que caiu no gramado, aproximadamente a um metro de distância de
Rojas, causou um escândalo que quase tirou o Brasil da Copa, causou um pequeno
incidente diplomático e acabou com o banimento futebolístico do goleiro
chileno.
Rojas, de maneira
premeditada, foi a campo com uma lâmina dentro da luva e quando viu o
sinalizador cair tão perto decidiu que era hora de colocar em ação seu plano.
Na confusão o
goleiro começou a se contorcer como se sentisse muita dor e sem que ninguém
pudesse perceber, tirou as lâminas da luva e cortou o próprio supercílio.
O sangue na
roupa do goleiro assustou todos que se aproximaram e foram impactados com a
exata dimensão da terrível lesão sofrida.
Às pressas o
goleiro foi carregado aos vestiários do Maracanã, os jogadores chilenos também
se recolheram e após meia hora de negativas da Seleção Chilena em retornar ao
gramado, o árbitro da partida, Juan Carlos Lostau, encerrou o jogo.
O imbróglio
estava armado: a vaga para a Copa do Mundo seria decidida nos tribunais.
A situação
gerou inclusive um problema diplomático: em Santiago, os torcedores comemoravam
como se o Chile tivesse obtido a classificação e a embaixada brasileira foi
apedrejada.
Rosinery
Mello, que depois ficaria conhecida como a "Fogueteira do Maracanã”, foi a
responsável pela controversa comemoração.
Ela foi presa
depois do jogo e junto a outras evidências, a farsa de Rojas começou a ruir.
A Fogueteira
contou que não tinha experiência com sinalizadores e que havia perdido o
controle do artefato quando tentou acender e o explosivo tomou o rumo do
gramado.
Eurico
Miranda, então diretor da CBF, foi o primeiro a denunciar a farsa.
Dizia nos
bastidores e a quem mais quisesse ouvir que “rojão não corta, e se cortasse,
teria queimado o rosto do goleiro”.
A prova cabal
veio quando surgiram as primeiras fotografias do argentino Ricardo Alfieri que
capturou as imagens do exato momento em que o rojão atinge o gramado do
Maracanã a pelo um metro de distância de Rojas.
A sequência
do fotógrafo argentino mostra claramente o goleiro chileno rolando para próximo
do explosivo.
No dia
seguinte, o Jornal Nacional apresentou uma cobertura épica que desmontou a
farsa de Rojas em mais de 9 minutos de reportagem e colocou o goleiro chileno
como um dos grandes vilões oitentistas.
Descoberto o
golpe, as punições começaram com uma celeridade e severidade poucas vezes vista
em decisões da FIFA.
A Seleção
Chilena foi suspensa por quatro anos das competições organizadas pela
instituição e não pôde sequer disputar as Eliminatórias para a Copa de 1994.
Astengo, o
zagueiro que apareceu ao lado do goleiro no momento do lance, foi suspenso por
quatro anos.
O técnico
Orlando Aravena, o médico Daniel Rodríguez e o dirigente Sergio Stoppel foram
banidos permanentemente do futebol assim como Roberto Rojas, mas o goleiro
recebeu em 2001 uma anistia.
Recentemente
em entrevista a Benjamin Back, Rojas admitiu o erro:
“Me cortei
com uma gilete e a farsa foi descoberta. Foi um corte à minha dignidade. Foi um
minuto de estupidez”.
Além dos
efeitos futebolísticos o caso teve um desdobramento que não é privilégio da
atualidade: concedeu 15 minutos de fama a alguém, Rosinery Mello foi a
agraciada da vez.
Depois da
prisão em flagrante foi solta quando descobriu-se a farsa e chegou a fazer
certo sucesso, principalmente com o público masculino da época, fato que a
levou a posar nua e ser capa da Playboy.
O apelido
pegou e a perseguiu até sua prematura morte, em 2011, aos 45 anos, vítima de um
aneurisma cerebral.
Após o perdão
da FIFA, Roberto Rojas se tornou um grande treinador de goleiros e marcou uma
época no São Paulo, time que o contratou do Colo Colo ainda como atleta e que
com a punição havia ficado sem o ótimo goleiro chileno.
Na nova
função no Tricolor do Morumbi, Rojas acabou se redimindo ao treinar Rogério
Ceni durante boa parte de sua carreira.
Porém tudo
que aconteceu naquele domingo de 1989 e durante as horas que se passaram até
que a farsa de Rojas no Maracanã fosse desmascarada, entraram para a
controvertida história do futebol brasileiro.
Imagem: Revista Playboy