quinta-feira, setembro 05, 2019

Histórias do Futebol: O que os olhos não veem o coração sente... a mãe que narra jogos para o filho cego.

Imagem: Autor Desconhecido

O que os olhos não veem o coração sente

Pedro Henrique Brandão Lopes

O jogo acontece muito além do campo, nas arquibancadas a vida se faz presente e para quem consegue enxergar isso é um presente.

Quando falo em enxergar não pense nos olhos, mas sim no coração, na sensibilidade que carregamos dentro de nós.

O Nickolas tem 11 anos e não enxerga o jogo, mas vê tudo que sente quando está no estádio, enxerga muito além do jogo, vê pelas palavras da mãe Silvia que vai narrando o jogo e contando tudo que acontece em campo.

Silvia é o José Silvério particular do Nickolas, com bordões, comentários, e com certeza, gritos que arrepiam qualquer torcedor.

Nunca ouvi, mas só de imaginar fico emocionado.

Muitas mães contam histórias de livros aos filhos, Silvia e Nickolas têm um acordo um pouco diferente.

Ela conta lances que parecem pinturas, dribles que são valsas, furadas que mais parecem comédias, vitórias que são aventuras, derrotas que são dramas, classificações que são suspenses.

Tudo isso em verde e branco, na arte que o Nickolas mais aprecia, o Palmeiras.

A Sociedade não fica só no nome do clube, vai além e Silvia depois de dar à luz empresta os olhos.

E diz satisfeita ao repórter “o estádio é o lugar onde ele mais gosta de estar no mundo”.

O repórter, esse ser que deve ser invisível, que os manuais do bom jornalismo pregam que não deve aparecer, mas foi por ele, pelo olhar atento de um grande profissional que o mundo tomou conhecimento dessa cena linda.

Marco Aurélio Souza, meus parabéns.

Você cumpriu com maestria o papel do bom jornalista, contou uma história, viu pessoas além do fato, enquanto todos olhavam para o gramado você decidiu olhar para a arquibancada.

Genial.

Nickolas, torça muito, divirta-se, aproveite cada momento no lugar que você mais gosta no mundo.

Sinta a vida como sei que você sente o Palmeiras e saiba que você me fez enxergar muito melhor depois desse domingo à tarde.

Dona Silvia, obrigado por dar amor, por ser amor e por fazer desse mundo um lugar melhor.

Enxerguei em você minha mãe.

Ela não está mais aqui, mas o tempo todo sopra umas coisas no meu ouvido para que eu possa enxergar aquilo que não consigo.

Mãe é assim, com açúcar e afeto faz os filhos verem o que não sabem ou conseguem ver, faz dos filhos pessoas melhores e entregam para o mundo.

E futebol é assim, é vida, é sentir com a alma o time de coração mesmo quando os olhos não veem.

Nunca é apenas futebol!

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