sábado, setembro 10, 2016

Equilíbrio não é tudo...

A liga de futebol do Japão é a mais equilibrada do mundo. E nem por isso você a adora

A primeira divisão do futebol japonês prima pela igualdade financeira entre os clubes que a disputam, mas falta tamanho para atrair o interesse de outros mercados

Por Rodrigo Capelo para a revista Época

Você provavelmente já ouviu a afirmação: o Campeonato Brasileiro é o mais interessante do mundo porque, de princípio, pelo menos dez clubes largam com chances de título.

Dentro dessa lógica, a competitividade é um fator elementar para despertar o interesse do público.

A história não é tão simples assim.

O futebol japonês está aí para indicar que, sozinho, o equilíbrio não faz muito.

Os 18 times da J-League, a primeira divisão do Japão, faturam juntos 60 bilhões de ienes.

Parece muita coisa, mas não é.

A conversão para o real dá R$ 1,9 bilhão.

Os 20 clubes brasileiros que jogam o Campeonato Brasileiro fazem R$ 3,6 bilhões.

O dobro dos japoneses.

Isso ajuda a dimensionar o futebol dentro do país asiático.

O time mais rico do Japão é o Urawa Reds, com 6 bilhões de ienes em faturamento, ou R$ 197 milhões.

Quase a metade do brasileiro mais rico, o Flamengo.

O japonês mais pobre é o Kofu, cujas receitas ficaram em 1,5 bilhão de ienes em 2015, ou, feita a conversão, R$ 49 milhões.

É mais do que fatura o mais pobre no Brasil, o Avaí.

A diferença entre o clube mais rico e o mais pobre, quatro vezes, mostra que o Japão tem o campeonato mais equilibrado do mundo – pelo menos entre as principais ligas.

A Premier League, na Inglaterra, referência pela divisão igualitária dos recursos, tem cinco vezes entre mais rico e mais pobre.

O Brasil e a Itália têm 11 vezes. A França, 19 vezes.

A Espanha, o maior exemplo da desigualdade, 30 vezes.

Qualquer japonês, afinal, pode vencer.

O Japão não é, no entanto, dado como exemplo de quase nada no futebol.

O país não tem resultados expressivos em Copas do Mundo e seus atletas não se destacam no futebol europeu – feita a ressalva de Hidetoshi Nakata nos anos 2000.

Nem o próprio japonês dá tanta bola assim ao futebol.

A média de público está no mesmo patamar que a brasileira, em torno de 17 mil pagantes por partida.

O beisebol leva mais gente e gera mais dinheiro do que o futebol no Japão.

O intuito, aqui, não é desmerecer o futebol japonês.

Nem cravar que pouco importa a competitividade entre os clubes.

Mas inserir dados à reflexão que Stefan Szymanski propôs no livro Soccernomics.

O economista conta que, a despeito da soberania em títulos e vitórias nos anos 1990 e 2000, o público do Manchester United cresceu muito na Inglaterra durante o período.

As audiências também.

As pessoas apreciam na teoria a relativa igualdade da NFL, a liga de futebol americano dos Estados Unidos, mas na prática aderem aos grandes esquadrões, heróis ou vilões, gerados pela desigualdade financeira.

No fim das contas, a competitividade é só mais um elemento para tornar um torneio mais ou menos atrativo.

A Premier League é referência por dividir recursos a ponto de um Leicester superar os ricaços, mas só chama a atenção do mundo e exporta seu campeonato porque tem mais dinheiro para dividir.

O Campeonato Espanhol é criticado pelo abismo financeiro entre Barcelona, Real Madrid e os demais clubes, mas a dupla chega às semifinais da Liga dos Campeões todo ano e atrai públicos e audiências enormes.

O Campeonato Brasileiro ruma para a desigualdade e falta grana para melhorar o nível do espetáculo.

A J-League prima pelo equilíbrio financeiro, mas não vai mais longe porque falta tamanho.

Só equilíbrio não basta.

Nenhum comentário: