quinta-feira, junho 20, 2013

Um dia na Copa das Confederações...

Imagem: Autor Desconhecido



A dura experiência de poder ver Xavi, Iniesta e cia ltda.

Por Carlos Henrique.


Quem acompanha o futebol de perto como eu, notadamente o europeu, não deixa de ficar fascinado pelo futebol fácil, envolvente, refinado e clássico dos meias espanhóis Xavi Hernández e Andres Iniesta.

Alguns nunca pararam pra pensar que o argentino Lionel Messi, a despeito de toda sua genialidade, tem muito do seu brilho em virtude desses dois jogadores trabalhando para ele no meio de campo do Barcelona.

O mesmo espetáculo a dupla catalã promove quando vestem a camisa da seleção da Espanha.

Não à toa, graças à imensa contribuição de ambos, a "Fúria" largou a pecha de time amarelão e entrou no seleto rol de equipes campeãs mundiais.

Sob a batuta deles também veio mais um título europeu de seleções.

Muitos brasileiros não podem presenciar o futebol de ambos no Camp Nou com facilidade, seja por motivos profissionais, financeiros e outros.

Eu já estive no Santiago Bernabéo, estádio do rival Real Madrid, há alguns anos e pude ver jogadores históricos do clube em ação como Raúl, Casillas e Guti em ação contra o Valladolid - vitória “merengue” por inesquecíveis 7 a 0.

Entretanto, durante minha passagem por Barcelona não pude ter a oportunidade de assistir a uma partida dos “Blaugranas” nem sequer a arena, já que o time catalão treinava naquele momento e não era permitida a entrada de turistas no local.

Pelo pouco tempo que me restou na cidade não pude retornar para tentar conhecer de perto o gigantesco estádio por dentro.

Enfim, os anos se passaram e eu pensava que dificilmente teria outra oportunidade de conhecer de perto o futebol de Xavi, Iniesta e Messi.

Eis que o Brasil é escolhido para ser sede de uma Copa do Mundo e a luz da esperança de ver ao vivo o futebol de dois craques consagrados se reacendeu em mim.

Veio a Copa das Confederações neste ano e a melhor das notícias: a Espanha jogaria em Recife, cidade distante menos de 300km daqui de Natal.

Ou seja, chance imperdível de conferir "in loco" o desfile dos atuais melhores meiocampistas do planeta na minha opinião.

Comprei meu ingresso com antecedência e me preparei para ir ao jogo em 16/06. Chegado o dia, um domingo de sol bonito em Natal, visto a camisa da seleção espanhola, coloco meu chapéu tipicamente nordestino e levo a bandeira do meu time do coração para a capital pernambucana.

Mas como nem tudo que reluz é ouro, houve muitas barreiras até poder concretizar essa minha vontade. A começar pela péssima estrutura montada pela FIFA em conjunto com as cidades-sede para recepcionar, orientar e distribuir os ingressos ao público.

Falando no meu caso, ao consultar e tentar agendar a retirada do meu bilhete em Recife, uma metrópole com aproximadamente 2 milhões de habitantes, deparei-me com apenas um único ponto de recolhimento para atender os cerca de 42 mil espectadores.

O que eu temia aconteceu: uma fila monstruosa de quase 3h de duração com poucos guichês - sem contar a péssima sinalização, desorientando qualquer um que ousasse percorrer o interminável Shopping Center Recife.

Missão cumprida após as 3h em 3 filas distintas era hora de comer algo e rumar para a Arena Pernambuco, afinal não queria me atrasar para um evento tão grandioso como esse entre Espanha e Uruguai pela Copa das Confederações - eram quase 17h. Do shopping até o estádio tive que passar por mais alguns perrengues: pegar dois metrôs e mais dois ônibus (a sorte é que liberaram centenas de veículos só para esse trajeto) até chegar a 2km do estádio através, onde tivemos que descer da condução e seguir a pé até a arena.

Nesse trajeto fiz aquelas amizades de 15 minutos que só o futebol proporciona - um grupo de cruzeirenses e um uruguaio fizeram o tempo de sofrimento nesse trajeto parecer menor, pois foi quase 1h a mais perdida tentando chegar ao jogo.

Chegando ao local da partida esqueço do transtorno que passei e só visualizo aquela construção iluminada de azul, os portões de entrada e a multidão entrando - dessa vez sem maiores complicações.

Corredores largos, muito espaço do lado de fora para se locomover e boa sinalização amenizaram um pouco o cansaço que já se instalava em meu corpo.

Procurei meu assento numerado, o P2 da categoria 3, e lá me instalei, não sem antes me deslumbrar com a imponência do moderno estádio de Recife, que depois da Copa das confederações será cedido ao Náutico para mandar seus jogos.

Cheguei atrasado para a cerimônia de entrada das duas seleções e para os hinos nacionais, dois momentos marcantes de um confronto internacional de futebol.

Mas cheguei a tempo de não perder um segundo de bola rolando.

E o que eu vi foi um show de bola da Espanha, como era de se esperar.

Os dois maestros regiam a Fúria Espanhola com toda classe e os uruguaios, atônitos, não sabiam o que fazer com o que viam.

Passes milimétricos e dribles sensacionais de Iniesta, aliados à perfeição tática e ao domínio de bola sobrenatural de Xavi resultaram num passeio espanhol em gramados pernambucanos para cima dos vizinhos uruguaios.

O resultado final foi 2 a 1 para os atuais campeões do mundo e poderia ter sido mais, caso a extrema fome de querer tocar a bola e não chutar de fora da área não fossem "defeitos" tão latentes dos espanhóis.

A essa altura eu nem lembrava mais do apuro que havia passado horas antes e sequer me passava pela cabeça o que iria passar dali pra frente após o apito final.

O árbitro encerrou a partida e eu ainda permaneci no estádio tirando algumas fotos e esperando o público sair (elogie-se, rapidamente a arena estava vazia sem nenhum tumultuo).

Entretanto, o caminho da volta foi tão tortuoso quanto o da vinda - com o agravante que eu ainda iria para a rodoviária pegar um ônibus e encarar mais 4h de estrada durante a madrugada.

Novamente me deparo com uma multidão seguindo vagarosamente em direção ao ponto de ônibus improvisado montado para fazer o transporte das pessoas.

Apesar de novamente estarem disponibilizados centenas de ônibus para tal fim, o que se viu foi uma total desorganização e falta de atenção para com o mínimo conforto e bem estar do espectador.

Aglomerações de pessoas esperando para voltar pra casa em conduções entupidas de gente.

Ao desembarcar na estação de metrô Cosme e Damião mais outro drama: o local estava apinhado de gente, quase sem poder se locomover num pequeno espaço.

A disputa para entrar no vagão só faltou ser no tapa, mas no fim das contas consegui e desci na rodoviária de Recife, após quase 2h de mais aborrecimentos, para pegar o transporte de volta para casa.

Apesar disso tudo, dessa falta de respeito dos gestores da capital de Pernambuco para com seus visitantes e da FIFA para com os espectadores, os poucos mais de 90 minutos vividos dentro da Arena Pernambuco foram intensos e bem aproveitados vendo um futebol de altíssima qualidade e o desejo de ver de perto dois astros do esporte que tanto aprecio tão de perto.

Que todo esse transtorno que foi até noticiado nas TVs do país inteiro sirva de aprendizado para os governantes pernambucanos (e brasileiros, em geral) e para a FIFA, em 2014, de que o espetáculo não pode se resumir apenas dentro do estádio, e sim para quem se desloca até ele também.

Valeu a pena presenciar mais esse show da dupla Xavi-Iniesta!


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