terça-feira, maio 06, 2014

A privada, Everton, Adolf Eichmann e a análise de Hanna Arendt sobre a banalidade do mal....

Uma denúncia anônima levou à prisão, Everton Felipe Santana, 23 anos...

Seu advogado, Adelson José da Silva em entrevista, afirmou:

"Ele confessou a participação, mas não soube explicar o motivo. Ele disse que foi ao jogo com a intenção de assistir, mas deu vontade de fazer aquilo. Ele sabia do risco (de atingir alguém), mas não queria acertar ninguém. Ele já começou a colaborar com a polícia, confessando o crime. Está arrependido, com medo de retaliação, mas está disposto a pagar pelo que fez. Ele confessou o crime e demonstrou vergonha da família, vergonha dos amigos."

Após prestar depoimento por três horas, ontem,  segunda-feira (5), na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Everton foi indiciado por homicídio qualificado e removido para o Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, Região Metropolitana da capital pernambucana, onde ficou preso.

O Advogado não soube precisar que tipo qualificação, mas acredita que deve ser motivo fútil.

Depois de ler o que postei acima, procurei me inteirar mais...

E, pasmem, Everton não se enquadra no figurino típico de um marginal...

Everton trabalha...

É auxiliar de serviços gerais numa escola privada e lá, o espanto foi generalizado.

Um professora afirmou aos policiais que foram prender Everton que ele “é um menino muito bom.”

Luiz Henrique de Oliveira, professor de educação física, disse que se trata de um rapaz calmo e trabalhador...

A direção da escola evitou dar declarações à imprensa, mas confirmou que Everton é um ótimo profissional e que o consideram um bom rapaz.

A figura de Everton, que também é conhecido pelo apelido de Ronaldinho, não é assustadora...

Não provoca em ninguém o sentimento de risco ou a necessidade de se manter alerta.

Diante do vi e li, acabei me recordando de Hanna Arendt, teórica política e filosofa alemã, que cobriu para o jornal The New Yorker, o julgamento de Adolf Eichmann por crimes de genocídio contra os judeus durante a segunda grande guerra e que com base nas suas observações, criou a expressão, “a banalidade do mal.”

Arendt, em sua análise sobre Eichmann, diz que ele não possuía um histórico ou traços antissemitas e não apresentava características de um caráter distorcido ou doentio.

Diz também, que ele, Eichmann, agiu segundo o que acreditava ser o seu dever, cumprindo ordens superiores e movido pelo desejo de ascender em sua carreira profissional, na mais perfeita lógica burocrática. 

Cumpria ordens sem questioná-las, com o maior zelo e eficiência, sem refletir sobre o Bem ou o Mal que pudessem causar.

Conheço o caso, li sobre o assunto e por me interessar sobre temas relacionados aos conflitos humanos e suas consequências, cheguei a ter acesso a alguns trechos do depoimento de Eichmann, durante o julgamento...

Hanna Arendt está coberta de razão em suas observações.

Eichmann não se enquadrava no perfil do assassino e nem tão pouco era um fanático nacional-socialista.

Everton, guardadas as imensas e devidas proporções, repete a mesmo padrão de comportamento de Eichmann...

Ele foi ao jogo com a intenção de assistir, mas envolvido pelo calor do momento, acabou sentindo vontade, segundo afirma, de fazer o que fez...

Na segunda-feira foi trabalhar normalmente...

Porém, ao ser identificado, confirmou sem sobressaltos sua participação, se disse arrependido e jurou que não queria atingir ninguém.

Enfim, Everton foi tomado pelo impulso de agir como parte de um grupo e o fez acreditando estar agindo de acordo com os padrões de ação de seus membros...

Está claro que ao atirar na rua os vasos sanitários, Everton buscava reconhecimento entre seus iguais...

E, conseguiu.

Seu ato teve a aprovação dos organizados, como se pode comprovar em postagens de membros da torcida comemorando a ação.

A diferença entre Everton e Eichmann é o arrependimento (Eichmann nunca se arrependeu, pois jamais se considerou culpado) e o fato de que Eichmann nunca matou ninguém, e sim, executou ordens que provocaram a morte de milhões.

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