Brasil o País do Futebol?
Por Fábio Aguiar
Para o Blog Comunicação, Esporte
e Cultura – Blog do Grupo de Pesquisa Esporte e Cultura (FCS/UERJ) Cadastrado
no CNPQ
Segundo o pensador Heráclito,
“nada é permanente, exceto a mudança”.
Esta afirmação é de grande valia para se
avaliar a questão da formação de imaginários e de representações sociais.
Há
alguns anos, se afirmava que o melhor futebol do mundo era praticado por
jogadores brasileiros, não necessariamente no Brasil, mas por brasileiros.
Por
essa razão era comum que no panteão de ídolos futebolísticos de um determinado
período estivessem presentes jogadores do Brasil.
Como descrevem Mário Filho, em “O
Negro no Futebol Brasileiro”, e João Máximo e Marcos de Castro, em “Gigantes do
Futebol Brasileiro”, isto também abria portas para que equipes nacionais
realizassem turnês internacionais para mostrar sua arte e faturar algum
trocado.
Contudo, de alguns para cá parece ter iniciado uma mudança na
geografia do imaginário do velho esporte bretão, e os jogadores brasileiros
perderam protagonismo no universo do futebol profissional.
O brasileiro com maior destaque
no futebol atual é o atacante Neymar, admirado por muitos, mas que ainda não
tem o mesmo destaque de atletas como o português Cristiano Ronaldo e o
argentino Lionel Messi.
Assim, se as estrelas que mais cintilam já não estão no
Brasil, é natural que o torcedor brasileiro passe a voltar o seu olhar para
fora.
Nesta terça tem início a disputa
das quartas de final da Liga dos Campeões da Europa.
Há alguns anos, a
cobertura da competição, considerada por alguns como o principal torneio de
clubes do mundo, se limitava a veículos de comunicação especializados, como emissoras
fechadas e sites.
No entanto, o panorama mudou, e esta e outras competições
disputadas em gramados internacionais recebem maior destaque nos meios de
comunicação brasileiros.
Um exemplo é a Rede Globo, que aumentou o espaço em
sua grade de programação para transmitir partidas da Liga.
A próxima quarta,
por exemplo, é dia de Barcelona e PSG.
O que se deseja evidenciar aqui
não é uma simples mudança na grade de programação esportiva de emissoras
brasileiras, mas sim a transformação do imaginário do torcedor brasileiro sobre
o futebol.
Como dito anteriormente, se até alguns anos atrás as atenções se
concentravam no futebol nacional, hoje o olhar se volta para fora.
Um exemplo aparece na reportagem
“Paixão estrangeira: jovens têm escolhido cada vez mais clubes de fora”,
publicada pela revista “Placar” no final de 2014.
A matéria mostra a crescente
filiação de jovens torcedores brasileiros a times europeus e apresenta um dado
interessante: de cada 10 camisas de times de futebol infantis vendidas na maior
loja de artigos esportivos do Brasil, 6 são de equipes do Velho Continente.
Entre as razões apresentadas para
a ocorrência deste fenômeno se destaca o desejo dos pequenos torcedores
brasileiros de se vincularem a grandes equipes do futebol mundial, que, segundo
eles, protagonizam os melhores jogos (espetáculos) e que contam com os craques
do momento.
Como destacado no início, a
possibilidade de mudanças é algo que perdura, o que pode fazer com que em um
futuro próximo o Brasil volte a ser visto como o detentor do melhor futebol do
mundo.
Entretanto, desde já as narrativas em torno do imaginário do futebol
brasileiro se apresentam como um interessante objeto de estudo para os
pesquisadores que trabalham com a tríade comunicação, esporte e cultura.
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