sábado, abril 18, 2015

Surfistas do Rio Grande do Norte, estão entre os melhores do mundo...

Do Rio Grande do Norte para o Mundo

Por Victor Duarte de Medeiros *

Para a Disciplina de Jornalismo Esportivo/DECOM/UFRN

No Brasil, a vitória de Gabriel Medina no Mundial de Surf de 2014, fez com que o esporte entrasse em pleno crescimento, não só devido ao foque da mídia, mas também a quantidade de fãs que passaram a acompanha e praticar.

Diferentemente do ano passado, hoje dois canais televisivos de TV fechada (ESPN+ e Off) cobrem as principais competições, o que não era feito ano passado.

No estado do Rio Grande do Norte, não foi diferente, mas o que muitos não sabem, é que dois dos principais surfistas do mundo nasceram no estado do RN. 

São eles: o “veterano” Jadson André, com 25 anos, natural de Natal e que cresceu na praia de Ponta Negra (Bairro da cidade). 

E o Rookie (iniciante) no WSL (World Surf League, antigo WCT) Ítalo Ferreira, natural de Baía Formosa, que com apenas 20 anos (mesma idade em que Jadson entrou no circuito) já está entre os melhores surfistas do mundo.

Amigos de longa data, fazem parte do “time” formado pelos brazucas do circuito, o tão temido Brazilian Storm. 

Logo em seu primeiro ano no WCT, Jadson venceu Kelly Slater, 11 vezes campeão mundial em uma final emocionante, na praia de Imbituba em Santa Catarina. 

Por sua vez, em sua primeira aparição na praia de Gold Coast na Austrália, Ítalo faturou o nono lugar em um total de 36 e já mostra para os seus concorrentes que vai ter um futuro longo e próspero dentro do Circuito Mundial de Surf.

Para saber um pouco mais sobre eles, os atletas concederam uma entrevista.

Quais as maiores dificuldades encontradas para alcançar o lugar mais almejado pelos surfistas? O WSL?

Jadson: “Eu acho que a maior dificuldade é você realmente manter um foco, você ficar 110% focado em ser o melhor do mundo, que não é só você ter o talento, e sim estar preparado psicologicamente, fisicamente e estar na sua vida só pensando em ser o número 1 do mundo. Você pode estar focado, pode estar tentando fazer as coisas da melhor maneira possível, mas se parar para pensar, não está fazendo o suficiente. Estamos competindo contra os melhores do planeta, então, ainda mais hoje em dia que o nível é muito igual e o mínimo do detalhe é que faz a grande diferença, no meu ponto de vista, para alcançar o lugar mais almejado o maior desafio, é realmente manter foco de verdade, não apenas falar que está focado, acordar de manhã e ir surfar.”.

Ítalo: “As duas maiores dificuldades para você conseguir a vaga para o circuito mundial, são: patrocínio, porque tem vários surfistas bons ali no tour, mas pela falta de patrocínio e oportunidades não conseguem ir para todas as etapas e acabam ficando para trás e acredito também que são as ondas, por serem um pouco difíceis e em mares totalmente diferentes.”.

Quais as expectativas para o Tour desse ano?

Jadson: “O meu objetivo esse ano é sem dúvida acabar no Top 10. Já tenho esse objetivo há um bom tempo. Logo no meu primeiro ano, consegui chegar perto, acabando em 13º mas acredito que esse ano estou bem preparado e pode acontecer. Vou fazer de tudo para alcançá-lo. Enfim, o meu foco esse ano é ser TOP 10.”.

Ítalo: “Minhas expectativas para o tour desse ano são as melhores. É meu primeiro ano ainda, estou aprendendo muita coisa, mas tenho foco, então vou mantê-lo e batalhar bastante para que possa alcançar meus objetivos. Não vai ser nada fácil, mas com muito trabalho e força, vou chegar lá.”.

Você acredita que o time do “Braziliam Storm” está elevando os atletas do tour para outro nível?

Jadson: “Na realidade, esse Braziliam Storm foram os gringos que colocaram esse apelido nos atletas brasileiros e acabou que virou uma marca. Talvez as pessoas não saibam, mas o Braziliam Storm hoje é uma marca. Um cara do Rio que “criou” e está vendendo a marca em cima da gente, entendeu? Mas tirando esse pequeno problema aí, de que quem promove a marca dele somos nós, eu acredito, sim, que esses atletas da nova geração estão mostrando para os que estão começando agora, que tudo é possível e que eles podem chegar lá também.”.

Ítalo: “O Braziliam Storm foi algo que a mídia implantou, mas sabemos que o nosso esporte é individual, cada um tem que fazer o seu trabalho e buscar seus objetivos.”.

Qual o sentimento/inspiração dos atletas brasileiros após o título mundial do Gabriel Medina?

Jadson: “Sem dúvida é uma inspiração. O título do Gabriel mostrou que todo mundo é capaz, então, hoje os atletas do Brasil usam esse título como motivação, prova disso foi o Adriano (Mineirinho) agora em Bells (Austrália). Durante uma entrevista, ele falou que a maior inspiração dele é o Gabriel, por ter sido o primeiro brasileiro campeão do mundo.”.

Ítalo: “Após o titulo mundial do Gabriel, ele mostrou para os atletas do Brasil que tudo é possível e que se você acreditar em seus objetivos, consegue chegar lá. Foi isso que ele fez e serve de inspiração para todos nós.”.

Jadson, se você tivesse de escolher um outro país para morar, pensando na evolução do seu surf, qual seria esse país?

Jadson: “Cara eu sempre falo, que seu eu fosse morar em outro país, seria no Taiti. Na real, na Polinésia Francesa, lá em Teahupoo. É o único lugar que eu moraria fora do Brasil, pois lá tem altas ondas e uma energia incrível, as pessoas são incríveis.”.

E qual a sua relação com a onda mais perigosa do mundo, Teahupoo, no Taiti?

Jadson: “Teahupoo é um lugar onde me sinto bem por ser muito simples. A pessoa não usa nem chinelo. Na verdade é uma vila de pescadores, onde você passa o dia comendo peixe. Lá não tem festa, mulherada, balada. Em Teahupoo você só faz surfar, comer e dormir. Lá eu renovo minhas energias, posso dizer que é o único lugar onde eu não sinto falta de minha casa, é até difícil explicar. Tem ondas absurdas, casca grossa, talvez as mais perigosas do mundo. Mas acho que pelo fato de me sentir tão à vontade lá, eu não consigo ter medo. O medo é pouco, pois são ondas tão perigosas que podem causar até a morte. Mas nem penso nisso. Fico tão bem, que só quero voltar lá o máximo de vezes possíveis. Não sei, mas acredito que alguma vez na minha vida espero poder morar lá, quem sabe alguns anos.”.

Ítalo, ter crescido em uma cidade que tem os melhores lugares do RN para a prática do surf te ajudou a encarar com mais facilidade as ondas pelo Brasil e pelo mundo?

Ítalo: “Eu cresci em um lugar que tem altas ondas, que se chama Baía Formosa. Infelizmente não é muito constante, ou seja, quebra pouco, a maioria do ano é pequena e com quebra-mares de 1 metro, 1 metro e meio no máximo, mas muito raro. Tive que viajar para aprimorar o meu surf nas ondas maiores, ondas perfeitas, ondas tubulares, mas ainda estou nesse processo porque você tem que evoluir sempre, então não é nada fácil.”.

E quais os títulos que você conquistou até hoje? Qual o que você considera mais importante?

Ítalo: “Conquistei vários títulos até hoje, entre eles o de Campeão Brasileiro Sub-20 Pro Júnior, Campeão Sul-Americano Sub-20 Pro Júnior, Vice-Campeão Mundial Júnior, Campeão Brasileiro Profissional. Esses foram os títulos que considero mais importante para minha carreira até agora.”.

Jadson, sabendo que você já viajou por praticamente todo o mundo.  Qual o país você considerou mais importante para o seu amadurecimento como atleta?

Jadson: “Todos os países têm as suas qualidades e seus defeitos. Mas só pelo fato de viajar muito, já amadureci bastante e como já falei, o lugar que eu mais gosto é o Taiti.”.

Nos últimos meses o surf vem ganhando um espaço considerado na mídia nacional e isso é importante para o crescimento do esporte. Você acha que o surf pode vir a se tornar, no Brasil, um esporte tão popular quanto o futebol?

Jadson: “Cara, eu jamais vou pensar que o surf, vai chegar próximo do futebol. Aliás, o futebol é o futebol. O esporte mais popular do mundo. É muito dinheiro, é muita coisa envolvida. O surf está ganhando um espaço absurdo sim. Se comparar com dois anos, podemos ver um crescimento muito grande, mas comparar com futebol, acho uma coisa quase impossível.”

Ítalo, sabendo que você tem um empresário, isso ajuda a fazer com que você se preocupe apenas com o necessário que é pegar onda e focar nas competições?

Ítalo: “Eu trabalho com o Pinga, que é o meu manager a muito tempo (mesmo de Jadson). Acredito que um atleta precisa ter esse suporte por trás para poder focar só em uma coisa, que é entrar na água e dar o seu melhor. Não ficar preocupado em alugar um hotel, um carro, comprar uma passagem, etc. Por isso, acho fundamental ter esse suporte para te deixar despreocupado.”.

Você acabou de conquistar sua vaga para a 1ª divisão do surf mundial – WSL – e apesar de ser muito cedo para isso, você já pensa em atividades paralelas ao surf?

Ítalo: “É muito cedo para pensar nisso, até mesmo porque sou muito novo, mas já estou me programando, sim, e pensando no meu futuro. Meu pai, minha mãe, eles têm uma pousada e um barco em Baía Formosa, e sempre que eu posso estou ajudando, investindo para que aquilo possa voltar para a gente. Tenho muitos planos ainda, mas vou ter que caminhar aos poucos. É isso aí.”.

* Victor Duarte Medeiros é aluno do curso de Publicidade e Propaganda do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e está matriculado na disciplina de jornalismo esportivo, ministrada pela professora Michelle Ferret.

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