Bélgica, Dinamarca, Escócia,
Holanda, Noruega, Suécia:
Eis que se esboça uma liga
supranacional
Por: Leandro Stein
“Por que os clubes portugueses não recebem parte das verbas pagas às
principais ligas europeias pelos direitos televisivos? Todos querem transmitir
a Premier League e La Liga. Muito bem, por que não podemos levar parte? Se uma
operadora de televisão portuguesa paga 50, 60 ou 70 milhões de euros pela liga
espanhola ou inglesa, são 50, 60 ou 70 milhões de euros que não são colocados
na liga portuguesa”.
A declaração de Bruno de
Carvalho, presidente do Sporting, em entrevista à revista Panenka, escancara o
tamanho do desespero diante das desigualdades financeiras.
O mapa do futebol europeu está se
redesenhando não é de hoje.
Entretanto, nem todos os clubes
sabem como lidar com isso.
A mudança no regulamento da Liga
dos Campeões se torna o sinal mais escancarado.
Por ora, sana os interesses das
potências continentais em constituírem uma ‘superliga’ que ignore as fronteiras
nacionais e faça a roda da fortuna girar ainda mais rápido.
Fora dos principais centros, de
qualquer maneira, alguns também se mexem.
Prevendo o impacto de todo o
cenário, as principais equipes da Europa setentrional se antecipam.
Discutem a criação de sua própria
liga supranacional, reunindo times de Escócia, Holanda, Bélgica, Dinamarca,
Noruega e Suécia.
Um ‘Campeonato do Mar do Norte’,
se pudermos batizar assim.
As reuniões entre alguns dos
clubes mais vitoriosos desses países já vêm acontecendo.
Entre eles, estão Ajax, PSV,
Feyenoord, Anderlecht, Club Brugge, Celtic, Rangers, Malmö, Rosenborg e
Copenhague.
Diante da nova estrutura da
Champions, mudanças são improváveis até 2021, quando se encerra o atual
contrato trienal.
Contudo, o acordo seguinte do
torneio continental pode ser a chave para que o novo campeonato supranacional
surja.
As equipes das ligas secundárias
temem perder ainda mais espaço em um futuro próximo.
A nova competição ofereceria não
apenas um mercado mais amplo para que os times explorassem, como também poder
de barganha junto à Uefa.
“É verdade que estamos negociando. Se nós não agirmos agora, iremos ver
os maiores clubes crescerem mais, enquanto passaremos dificuldades. Precisamos
buscar uma alternativa para as oportunidades internacionais. Ainda é uma
conversa inicial sobre modelos específicos, mas estamos participando ativamente
da discussão sobre uma liga além das fronteiras na Europa”, declarou Anders
Horsholt, diretor esportivo do Copenhague, em entrevista ao jornal dinamarquês
BT.
Esta não é a primeira vez que os
referidos países põem à mesa a proposta de um campeonato supranacional.
Em 1999, quando a ideia de uma
superliga nos grandes centros começou a tomar força, o então diretor esportivo
do PSV Frank Arnesen encabeçou a iniciativa pela constituição da Liga Atlântica
– que incluía Escócia, Holanda, Bélgica e também Portugal.
Já na Escandinávia, a Liga Real
até saiu do papel, contando com clubes de Dinamarca, Noruega e Escócia. A
competição foi disputada entre 2004 e 2007, durante o final do ano, quando as
ligas nacionais já haviam se encerrado ou entrado na pausa de inverno.
Todavia, a falta de interesse fez
com que ela acabasse descontinuada em pouco tempo.
Desta vez, porém, Horsholt vê a
situação um diferente e confia que a empreitada poderá ter sucesso.
“A última mudança na Champions é um claro distanciamento da ideia de
‘família do futebol’, que esteve presente na fundação da Uefa, e da cooperação
no futebol europeu. Isso contraria o pensamento de que as coisas podem ser
decididas em campo, de que há uma competição justa e acesso para todos. Agora a
Uefa dá um passo em uma direção comercial mais clara, atendendo os interesses
dos maiores clubes. Assim, temos que buscar nosso futuro como um clube
internacional. A curto prazo, não temos alternativa. Somos um time que poderia
assegurar à Dinamarca um lugar nas competições internacionais. Iremos lutar por
espaço no futuro da Champions, mas também precisamos ir além disso, enquanto um
novo mapa do futebol europeu se desenha”, complementou.
Somadas, as seis nações
interessadas na nova liga possuem uma população que supera os 54 milhões de
habitantes, equivalente à Inglaterra.
Já o Produto Interno Bruto se
aproximaria dos US$ 2,7 trilhões, acima do Reino Unido como um todo.
Além de possuir um potencial
comercial maior com a união dos mercados, a competição também contaria com um
poder de barganha para penetrar em outros continentes.
Só que isso poderia também ter
impacto direto nas próprias ligas nacionais de Dinamarca, Suécia, Noruega,
Escócia, Holanda e Bélgica.
O dirigente do Copenhague aponta
que uma das consequências do torneio supranacional seria exatamente a debandada
dentro dos campeonatos locais:
“Estendemos a maneira como os maiores clubes agem. Mas isso também
significa que precisamos olhar para o mercado e procurar alianças com times em
situações parecidas. Nós não criamos esse cenário, mas precisamos lidar com
ele. Temos que continuar desenvolvendo como clube e ser atrativos aos
patrocinadores, aos melhores jogadores, aos torcedores. Além disso, é essencial
estarmos em nível europeu. Nosso modelo não funciona sem a perspectiva
internacional. O futebol dinamarquês precisa de um lugar na mesa onde o futuro
do futebol é discutido, se quisermos ser competitivos. Então, sim, uma das
consequências talvez seja abandonar os campeonatos nacionais para disputar a
nova liga”.
E se os portugueses esperam a
benevolência das ligas maiores para que os seus clubes recebam alguns milhões a
mais, é melhor vislumbrarem o futuro que poderá se concretizar.
Não seria ruim ao trio de ferro
se juntar ao ‘Campeonato do Mar do Norte’.
Pelo contrário, isso beneficiaria
os dois lados: enquanto Benfica, Porto e Sporting entrariam em um torneio de
maior competitividade e atratividade comercial, também aumentariam o potencial
da liga.
Mesmo não sendo uma economia tão
forte quanto as outras, Portugal possui mercado de futebol bastante engajado.
Além disso, seus times têm um poder
grande de penetração nos demais continentes, principalmente na América Latina e
na África.
Melhor se mexer do que esperar um
milagre de Natal, como quer o presidente do Sporting.
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