Imagem: Harold Cunningham/Getty Images
As memórias do consultor
Por Guilherme Amado
O consultor de imagem Mário Rosa
lança amanhã, no Uol, o livro on-line "Entre
a glória e a vergonha", de memórias com clientes poderosos como Paulo
Coelho, Duda Mendonça, Ambev, Renan Calheiros, Roberto Carlos e Ricardo
Teixeira.
Falará também sobre sua passagem
pela operação Acrônimo.
No trecho sobre Teixeira, conta
que, no dia da vitória do penta, o cartola dormiu agarrado, bêbado, com a taça
da Copa.
Leia um trecho:
“Para tornar essa história ainda mais imprevisível, (Teixeira) ganhou a
Copa de 2002, embora tenha saído com um time desacreditado.
Lembro que ele tomou um porre depois da final.
E só dormiu com o dia clareando em Tóquio.
Tombou na cama exaurido.
Dormiu com o troféu da Copa do Mundo na cama.
Campeão do mundo, Ricardo começou a ser cortejado pelo governo.
Ele achava, e com boa dose de razão, que uma parte considerável de seus
pesadelos tinham sido de alguma forma estimulados pelo governo do então
presidente Fernando Henrique Cardoso.
O departamento de futricas, no caso eu, começou a espalhar que talvez
ele não fizesse a escala da seleção em Brasília, no retorno ao país.
Foi um deus que me livre.
Era ano de eleição presidencial.
Não parar em Brasília seria um estrago político.
Até o presidente Fernando Henrique ligou para mim.
Eu dei corda para a dúvida e disse:
- Presidente, o Ricardo não se sente à vontade para ir ao Palácio.
Ele não se sente em casa.
Aperta para cá, aperta para lá, Ricardo topou ir.
Foi decisivo o conselho de um amigo do peito dele, o então senador
Tasso Jereissati, do mesmo partido do presidente FHC:
- Ricardo, seja magnânimo na vitória.
E ele foi.
Do jeito dele.
No caminho para o Brasil, houve negociações intensas de protocolo.
Ricardo era cabreiro.
Em 1994, tinha chegado com o caneco do tetra na cabine, fez escala em
Brasília, foi ao palácio e viu a festa ser estragada por uma ação da Receita
Federal na bagagem da delegação, o chamado “voo da muamba”, quando o time
chegou ao Rio de Janeiro.
Dessa vez, no penta, ele queria que o serviço alfandegário fosse
realizado em Brasília, para não dar chance ao azar.
Vi o secretário da Receita Federal em pessoa, em 2002, cuidando do
desembaraço das bagagens da seleção na Base Aérea da capital, onde o voo do
penta desceu.
Cuidei pessoalmente de transmitir algumas exigências de Ricardo ao
governo.
Uma delas, inegociável: ele não queria papagaios de pirata na hora em
que a seleção chegasse à capital da República.
Ninguém.
Apenas para que você entenda, num acontecimento midiático como a
conquista da Copa, quando o avião da seleção chega ao país, as TVs transmitem
ao vivo.
Um dos ápices dramáticos é quando a porta do avião se abre.
Quem estiver na escada naquela hora pega uma carona no triunfo daquele
circo todo.
Participa da conquista, mesmo sem ter feito nada por ela.
Combinei com a assessora de eventos e amiga íntima do presidente FHC, a
publicitária Bia Aydar, que a seleção não ia ser recepcionada por ninguém.
Bia sempre foi minha amiga querida.
Sempre confiei totalmente nela.
Apesar da vigilância e do alerta todo da Bia, não á que, na hora em que
o avião desce, com a escada encostada, o ministro do Esporte da ocasião e o
número dois dele resolvem subir até o avião?
Ricardo tinha pavor dos dois.
A cena na televisão é meio patética: o avião da seleção termina o
taxiamento, os dois sobem, a porta abre, eles entram um pouquinho e saem dali a
pouco.
O que o microfone não captou foi o recado de um jogador, tudo combinado
com Ricardo:
- Ih, presidente, a gente não vai descer, não...
Os dois saem de fininho.
Ricardo era turrão.
Foi aquela festa toda, os pentacampeões em caminhão aberto até o
palácio, o povo feliz.
A cambalhota do jogador Vampeta na rampa do Planalto virou história.
Ele estava para lá de Bagdá, de tanta comemoração."
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