sexta-feira, fevereiro 17, 2017

A noite em que o repórter se vestiu de Maradona...

Imagem: P.Pérez


A noite em que me vesti da Maradona entre napolitanos: me abraçavam, se ajoelhavam para mim...

Passear entre torcedores do Napoli com a camiseta do argentino transforma você imediatamente em ídolo.

Por Pablo Vande Rustem para o El País.

Não havia uma única camiseta do Napoli da gloriosa década de 80 com o número 10 de Maradona nas costas entre os milhares de napolitanos que chegaram a Madri na última quarta-feira, dia do jogo entre a equipe italiana e o Real Madrid.

Em um gesto de respeito ou de responsabilidade, os torcedores da equipe italiana não costumam portar a camiseta do maior ídolo de sua história.

Sem saber disso, decidi sair à procura deles usando uma camiseta da seleção argentina com o número 10, que, devo confessar, não era de Diego Maradona, mas sim de Ariel Arnaldo Ortega.

Para os napolitanos, porém, a número 10 pertence a uma pessoa só.
Durante a tarde da última quarta-feira, a Puerta del Sol, em Madri, estava cheia de torcedores italianos.

“Quer saber se sou italiano? Não, eu sou napolitano”, disse Alessandro Vigoriti, que veio a Madri de Cannes (França), onde mora há oito anos, para realizar o sonho de conhecer o Santiago Bernabéu.

“Faz 30 anos que eu espero por esse jogo”, diz.

Ele é um dos tantos torcedores que por um dia mudam o meu nome e me chamam de Diego, simplesmente Diego.

É impossível passar despercebido entre os tifosi do Napoli usando uma camiseta da seleção argentina.

Se existe alguma forma de sentir o mesmo tipo de carinho que Diego Maradona sente, é esta.

Vigoriti me conta com os olhos marejados como ele ia ao San Paolo para vê-lo.

Alguns se ajoelham à minha frente, todos me chamam, muitos me olham como se tivessem acabado de descobrir o primeiro amor, e outros transmitem a nostálgica esperança que o número 10 gerava, justamente no dia em que sua equipe volta a aparecer na vitrine do futebol europeu.

Ah, e todos interpretam o eterno canto, que ressoa pela Puerta del Sol em vários momentos.

Termina em um determinado ponto e começa em outro: “O, mamma, mamma, mamma / o, mamma, mamma, mamma/ sai perché mi batte il corazon? /Ho visto Maradona/ Ho visto Maradona/ eh, mamma, innamorato son”.

“Perdoamos qualquer coisa de Maradona. É o nosso maior ídolo. Está louco, mas como todos os napolitanos estão”, diz Lorenzo, um senhor gordo de 71 anos, para quem pouco importa o que digam sobre o seu ídolo nem se ele faz coisas erradas ou se envolve em escândalos de todo tipo.

Lorenzo veio de Salerno somente porque o Napoli iria jogar “contra o Real Madrid”.

Ele também me segurou gritando “Diego Armando!”, perguntando de onde eu vinha, por que, quando, como, onde...

Não há camisetas de Maradona entre os torcedores napolitanos.

O Napoli retirou a identificação em 2000, e usá-la não está na moda entre os torcedores italianos.

Eu me pergunto se estar com ela não seria, portanto, desrespeitoso, mas ninguém vê a coisa assim.

Continuam a se aproximar e a me abraçar.

De repente, vários jornalistas italianos se aproximam para me entrevistar como se eu fosse o verdadeiro Diego e também insistem: o que estou fazendo aqui, o que eu acho do jogo, como se minha opinião fosse qualificada.

Também querem saber se torço para o Nápoles.

Eu respondo é claro que sim, e lhes mostro o número que está nas minhas costas.

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