terça-feira, fevereiro 21, 2017

Copa da Inglaterra... Arsenal elimina o Sutton United, na partida em que todos torceram pelos amarelinhos.

Imagem: Tom Jenkins/The Guardian


A façanha do Sutton na FA Cup ofereceu ao mundo imagens do futebol cru, em sua essência

Por: Leandro Stein para o site Trivela

Gander Green Lane viveu um dia raro em sua história.

O estádio para 5 mil torcedores (e apenas 765 lugares sentados, nas acanhadas arquibancadas) recebeu um time da primeira divisão.

Não é um fato inédito no campo do sul de Londres: em 1970, o famoso Leeds de Don Revie goleou ali por 6 a 0, diante de um público recorde de 14 mil pessoas, enquanto o Coventry City foi surpreendido em 1989, para 8 mil pagantes.

Outros tempos, porém, antes do advento da Premier League, quando as diferenças financeiras não eram tão estratosféricas.

Por isso mesmo, foi um tanto quanto pitoresco ver o Arsenal se esgueirando para entrar em campo.

Em compensação, o Sutton United teve uma noite gigantesca, ainda que a realidade modesta em seu entorno dissesse ao contrário.

Grandeza que fez com que o time da quinta divisão inglesa saísse vitorioso, apesar da derrota por 2 a 0, com uma atuação bravíssima de seus jogadores semiprofissionais.

Durante as últimas semanas, o Sutton United se tornou a grande sensação da Copa da Inglaterra.

Não era o único time da National League a avançar às oitavas de final da competição, é verdade – em feito inédito de ambos até então.

Havia o Lincoln City, mas com um passado recente nos níveis profissionais.

Bem diferente dos amarelos, que sequer passaram perto de tamanha importância.

No máximo, os feitos do Sutton eram mesmo na FA Cup: a goleada do histórico Leeds e a vitória sobre o Coventry City.

A façanha de 1989, aliás, marcava a última vez que um time da non-league (abaixo das divisões profissionais) vencera um adversário da elite.

Marca só quebrada no sábado, pelo Lincoln.

O jogo dos colegas de quinta divisão contra o Burnley, porém, aconteceu em Turf Moor.

Não contou com o choque de realidade ocorrido em Gander Green Lane.

 As estrelas do Arsenal, que desfrutam semanalmente da privilegiada estrutura do Estádio Emirates, precisaram se preparar num vestiário que mais parecia de um clube de bairro.

Depois, os jogadores se espremeram lado a lado com os adversários no corredor que dava acesso ao campo.

Não tinha o glamour da Champions League, como experimentado pelos Gunners há menos de uma semana.

Mas tinha o gosto cru do futebol em sua essência, algo que dificilmente vemos em uma transmissão oficial.

As arquibancadas de Gander Green Lane ocupam um trecho bem pequeno à beira do campo.

Os assentos azuis e vermelhos, aliás, fazem referência a outro gigante de Londres: o Chelsea, que deu de presente aos pequeninos.

Enquanto isso, a maior parte dos torcedores se apertavam em pé ao redor do campo, ávidos para assistir à história perante os seus olhos.

Entre eles, muitas crianças e diversas “réplicas” em papel da taça da FA. As imagens aéreas do estádio mostravam um entorno pacato, bem distante da ocasião que se preparava dentro do campo.

Já as câmeras presas na estrutura tremiam, conforme a empolgação dos presentes.

O Sutton United escalou um time de seres humanos: jogadores de aparência comum, alguns visivelmente fora de forma – ainda que ninguém alcançasse o nível do goleiro reserva (e preparador de goleiros Wayne Shaw), de 45 anos e 115 quilos de puro futebol.

Na ocasião, heróis de várias crianças que entraram em campo para celebrar o momento.

Do outro lado, o Arsenal vinha com vários rostos conhecidos da TV, agora visíveis a poucos metros de quem se amontoava ao redor do campo.

Arsène Wenger, no entanto, poupou boa parte de seus titulares.

Contra um time visivelmente inferior, com deficiências técnicas claras, o Arsenal pouco se esforçou.

Abriu o placar com Lucas Pérez, aos 26 minutos de bola rolando, e ampliou no início do segundo tempo, com Theo Walcott.

Isso, todavia, não tira os méritos do Sutton United.

O time da quinta divisão jogou muitíssimo bem, dentro de suas limitações.

Demonstrou organização, se empenhou ao máximo, se recusou a apenas se fechar na defesa.

Mais importante, nem abriu a caixa de ferramentas, como geralmente ocorre em duelos de tamanho desnível.

Cometeram apenas cinco faltas em 90 minutos, sem um cartão amarelo sequer.

E mereceram o gol.

Ah, como mereceram.

Ameaçaram a meta de David Ospina algumas vezes.

Chegaram mesmo a carimbar o travessão, em bomba de fora da área com Jamie Collins.

Faltou pouco.

Ao apito final, apesar do desapontamento claro dos jogadores, vários sorrisos do lado de fora.

O papel estava feito, com uma atuação de luta, digníssima.

Não à toa, o técnico Paul Doswell ressaltou o orgulho sobre seus comandados, que conquistaram o acesso à quinta divisão na última temporada e, atualmente, ocupam o modesto 17° lugar na liga.

Enquanto isso, dezenas de torcedores invadiram o campo.

Não queriam apenas festejar os seus heróis, mas também buscavam a atenção de seus ídolos.

Abraçavam os craques do Arsenal, em especial Alexis Sánchez, o mais assediado.

Uma cena que não se repetirá tão cedo em Gander Green Lane.

Talvez, na próxima década.

Por isso mesmo, nada diminui a vitória do Sutton United.

Nem mesmo os 2 a 0 do Arsenal.

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