Imagem: Diário Popular
Opinião: Richarlyson, um homem exemplar numa sociedade doente
Homofobia prejudicou o jogador e, principalmente, os clubes que
deixaram de contratá-lo. Melhor para o Guarani, que ganhou um reforço esportivo
e moral
Por Luiz Felipe Castro para a revista VEJA
Um jogador talentoso, campeão
nacional, da Libertadores, do Mundial de Clubes e com passagem pela seleção
brasileira é apresentado sob bombas de protesto.
O outro, acusado de um crime
bárbaro e ainda com problemas a resolver com a Justiça, é recebido com selfies
e abraços de mulheres e crianças.
Pode ser exagero comparar o caso
de Richarlyson ao do goleiro Bruno, pois a maioria da torcida e da opinião
pública apoiou a chegada do primeiro ao Guarani e condenou o Boa Esporte pelo
apoio ao arqueiro.
No entanto, a perseguição que
sempre acompanhou a carreira do polivalente jogador com passagens por São Paulo
e Atlético-MG evidencia o quão intolerante e irracional é a sociedade em que
vivemos.
E o problema parece se agravar no
futebol, um dos meios mais machistas e, principalmente, cínicos que existe.
Neste cenário, Richarlyson, ainda
que sem querer, se tornou um símbolo de resistência extremamente
importante.
A moda (?) de chamar goleiros de
“bicha” a cada tiro de meta, por exemplo, invadiu o futebol brasileiro nos
últimos anos, vinda do México.
Nem mesmo o combate da Fifa, que
já puniu a seleção brasileira com multas, foi capaz de erradicar a boçalidade
nos estádios.
Os agressores defendem o
argumento de que provocações fazem parte do esporte e que as arquibancadas
possuem certas leis não escritas, nas quais preconceitos estão liberados sem
que os responsáveis sejam considerados preconceituosos.
“Geração Nutella, frescura, mimimi”, são alguns dos “argumentos” usados.
O ponto é: orientação sexual é
ofensa?
Não seria mais inteligente, por
exemplo, gritar um quase pueril
“frangueiro”?
Isso, sim, é um insulto para um
goleiro.
Richarlyson, de 34 anos, conviveu
com bobagens deste tipo desde o início de sua carreira, o que sempre rendeu
mais assunto do que seu bom futebol.
A imprensa e as redes sociais
também contribuíram para o atraso.
“A homofobia veste verde”, estampou uma organizada do Palmeiras
numa semana em que sua chegada era especulada.
Anos antes, torcedores do São
Paulo gritavam o nome de todos os seus jogadores, menos o de Richarlyson,
apesar de todos os serviços prestados pelo jogador no Morumbi.
Certamente, vários clubes do país
também se acovardaram e se negaram a procurar o atleta, com medo das reações
dos fanáticos. Pior para eles, já que Richarlyson conseguiu vencer todas as
dificuldades.
Ganhou muitos títulos e dinheiro
e nunca se rendeu aos gritos dos ignorantes.
O Guarani, único clube do
interior a conquistar um Campeonato Brasileiro, em 1978, também foi exemplar.
Fez jus a sua grandeza e apostou
em Richarlyson, que estava afastado desde uma passagem pelo Goa FC, da Índia,
no ano passado.
Sua chegada foi um pedido
especial do treinador Oswaldo Alvarez, o Vadão, que recentemente se destacou
dirigindo a seleção feminina – mais um sinal de que é um homem despido de
preconceitos.
Imbecis montados em motocicletas
jogaram bombas no estádio Brinco de Ouro da Princesa no dia da chegada de
Richarlyson e um vereador ponte-pretano achou que seria engraçado dizer nas
redes sociais que o volante era “o
reforço certo no clube certo”.
Felizmente, os dirigentes e a
imensa maioria dos torcedores do Guarani demonstraram apoio ao atleta e orgulho
em contar com um reforço de peso mesmo em tempos difíceis – o time disputa a
Série B do Brasileirão.
Pouco importa a orientação sexual
de um jogador.
Aos intolerantes, nunca é tarde
para refletir: seja inteligente, não homofóbico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário