quarta-feira, fevereiro 27, 2019

Parem as máquinas, “vírgula”, morreu Roberto Avallone, “exclamação”...

Imagem: Autor Desconhecido

Parem as máquinas, “vírgula”, morreu Roberto Avallone, “exclamação”.

Na manhã desta segunda-feira, 25 de fevereiro, morreu o jornalista Roberto Avallone, aos 74 anos de idade, um infarto fulminante levou o ícone do jornalismo esportivo e referência para muitos profissionais. 

Uma lastimável e irreparável perda para o jornalismo brasileiro.

Pedro Henrique Brandão Lopes/Universidade do Esporte

Quem assistiu o programa ‘Mesa Redonda, futebol debate’, da TV Gazeta, nos anos 1990, com certeza se encantou ainda mais com o futebol.

Se a rodada já era motivo para fazer qualquer garoto de seus 7,8 ou 9 anos se apaixonar pelo esporte nas quatro linhas, a resenha na TV Gazeta, horas depois do último jogo do fim de semana, era a senha para estender um pouco mais os 90 minutos que, às vezes, pareciam acabar tão rápido.

A mesa composta por figuras marcantes no jornalismo esportivo como Dalmo Pessoa, Fernando Solera, Wanderley Nogueira e Juarez Soares, tinha no comando do debate o bom-humor, carisma e bordões inimitáveis de Roberto Avallone, além de encontrar o ponto alto no embate sempre divertido entre Chico Lang e Avallone, declarados corintiano e palmeirense respectivamente.

Quem assistiu um ‘Mesa’ e não sentiu vontade de ser jornalista esportivo por um dia, “interrogação”?.

Foi naquela época que a mosca do jornalismo pousou na minha sopa.

Assistindo, domingo após domingo, os programas que traziam debates acalorados, convidados que eram personagens dentro de campo e matérias aprofundadas que contradiziam a lógica superficial da TV.

O jogador tinha espaço para falar o que muitas vezes não conseguia dizer na saída do gramado.

De banho tomado, bem vestidos e sem assessores para orientar o que deveriam dizer, a boleirada presenteou a turma do ‘Mesa Redonda’ com as mais sinceras declarações extraídas pela imprensa esportiva dos anos 1990.

Técnicos e cartolas também tinham lugar reservado no programa e lá explicavam a má fase do time ou um novo contrato de patrocínio, anunciavam a nova contratação ou a venda de um ídolo.

Respondendo às perguntas de Avallone e companhia, dirigentes, técnicos e jogadores respondiam os questionamentos que estavam na boca dos torcedores, o que fazia a audiência do programa da pequena emissora paulistana bater índices históricos e concorrer diretamente com o gigante Fantástico da TV Globo.

“No pique”, chegava sempre alguma notícia de última hora, como a queda de um treinador após a derrota no clássico da tarde ou a venda de algum jogador para o futebol europeu, que ainda não era tão predatório, mas já comprava aos montes nosso “pé-de-obra”.

Os gestos para comunicar, não apenas com palavras, seus bordões que pontuavam as frases também chamavam a atenção de quem parasse 5 minutos em frente à TV.

Desenhando com as mãos os pontos de exclamação ou interrogação e a vírgula.

“Pitadinha histórica”: Com uma carreira de mais de 50 anos, que começou em 1966 no jornal Última Hora, mas que redefiniu o jeito de fazer jornalismo esportivo no país, a partir de 1985, no comando do ‘Mesa Redonda’ como apresentador e editor chefe por 18 anos à frente do mais completo noticiário esportivo da TV, Roberto Avallone marcou seu nome e uma época na história do jornalismo brasileiro.

Sempre muito ativo, trabalhou quase que até o último instante, alimentando um blog que mantinha no UOL, publicou na madrugada deste domingo um texto analisando o Clássico da Saudade entre seu querido time de coração, aliás, Avallone era Sociedade Esportiva Jornalismo, Palmeiras e Santos, um chocho 0 a 0, ao contrário do que placar que adorava mostrar com os dedos enfatizando: “1, 2, 3, 4 a 0, no Allianz Parque!”.

A segunda-feira também ficou chocha com a triste notícia do falecimento de Avallone que vai deixar muita saudade por ter ido tão “no pique” que ninguém conseguiu dizer muito obrigado, Roberto Avallone, “exclamação”!

Obrigado por ter sido tão bom no que fez, por ter sido inspiração para aquele garoto que virou este rapaz que brinca de escrever enquanto trabalha e por ter sido professor mesmo à distância. Descanse em paz, “vírgula”, mestre Roberto Avallone.

Que pena, ponto final.

* Publicado com atraso, pois infelizmente, só a gora, o estado febril me permitiu deixar a prostração e voltar as atividades.

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