Imagem: Michael Dalder/Reuters
Yusra Mardini, nascida para nadar
A história da menina que nasceu para nadar e sobreviveu por nadar bem.
A trajetória de refugiada a atleta olímpica.
Por Pedro Henrique Brandão Lopes
A odiosa guerra da Síria deixou
insuportável a vida na capital Damasco.
Milhares de pessoas abandonaram
seus lares para tentar salvar suas próprias vidas longe da terra onde nasceram
e criaram suas raízes.
Quem por algum motivo precisou
deixar o lugar onde nasceu e cresceu sabe que a partida é um momento doloroso.
Agora deixar tudo para trás, sem
ter escolha e perspectiva de um dia retornar é uma situação terrível.
Pior que largar tudo é passar a
viver sem ter um lugar no mundo, é ser classificado como refugiado. Mas para
chegar a condição de refugiado, essas pessoas têm de passar por situações de
risco e muitas vezes a morte é a companheira de viagem de quem tenta fugir da
miséria e o terror da guerra.
Em 2015, Yusra Mardini, era uma
adolescente que vivia com sua família em Damasco.
Com apenas 17 anos, era uma
promissora atleta que seguia firme no sonho de ser nadadora profissional e
disputar uma Olimpíada.
Quando criança, Yusra sonhava que
era uma sereia e que nadava mais rápido que todas a meninas com quem treinava.
Sua irmã mais velha também
treinava, mas era Yusra quem conseguia os melhores resultados, segundo a irmã
porque “Yusra havia nascido para nadar”.
Mas a guerra bateu à porta da
família Mardini, as explosões se tornaram trilha sonora ininterrupta, até o dia
em que uma bomba caiu na piscina que as meninas treinavam, depois outras
explodiram na casa onde moravam e a fuga se tornou inevitável.
Os Mardini deixaram a Síria rumo
a Turquia, mas como o país da antiga Constantinopla repele fortemente os
refugiados, o caminho era embarcar num bote e fazer a travessia até a Grécia.
Em um pequeno bote onde deveriam
entrar apenas 6 pessoas, embarcaram 20 na única chance de salvação da família
Mardini e que é a mesma realidade de inúmeras pessoas neste exato momento em
algum lugar do mundo.
No meio da viagem, o motor do
bote falhou e não voltou a funcionar; talvez pelo excesso de peso ou até pela
falta de manutenção, mas o que realmente importa é que um bote estava à deriva
em alto mar com 20 pessoas a bordo.
Poderia ser uma história com
desfecho trágico e dezenas de mortos, como várias outras que acontecem aos
montes nessa crise imigratória sem precedentes em que o mundo tem conflitos por
ódio e intolerância que insistem em excluir quem sequer tem como se defender.
Poderia, mas dentro daquele bote
estava Yusra Mardini, a menina sereia que pulou na água e junto de sua irmã
puxou o bote a nado durante 3 horas e meia até chegarem a ilha de Lesbos, na
Grécia.
Yusra conta em seu livro, que
pensou em desistir durante a travessia, mas disse que sabia que aquelas pessoas
contavam com ela e também se lembrou que tinha nascido para nadar e, por isso,
não podia morrer na água.
Seguiu em frente e salvou a vida
das pessoas no bote.
Ainda sobre ter deixado seu país,
Yusra diz: “Ninguém realmente decide
fugir. Nós simplesmente não tivemos escolha. Ninguém teve escolha”.
Nos Jogos Olímpicos do Rio-2016,
Yusra finalmente realizou seu sonho e nadou em uma Olimpíada.
Pela primeira Equipe Olímpica de
Atletas Refugiados.
Depois foi nomeada a mais jovem
Embaixadora da Boa Vontade da Agência da ONU para Refugiados, o ACNUR.
Atualmente, Yusra Mardini, vive
em Berlim e está se preparando para os Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio.
Completou 21 anos em março
passado e com sua pouca idade é exemplo de vida para todos.
Yusra, a menina sereia, busca
forças na sua imensa reserva de coragem e faz questão de deixar uma mensagem
para motivar qualquer pessoa que tropece na história dessa mulher incrível: “Eu gostaria que as pessoas não desistissem
de seus sonhos. Que façam o que está em seu coração, mesmo que seja impossível”.
Ao conhecer a história de Yusra
Mardini, é preciso entender que para ela nada é impossível, porque como disse o
poeta “o impossível é só questão de opinião”.
E é mesmo!
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