Da FOLHA DE SÃO PAULO
Por SONINHA
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É hora de rever o relatório do grupo que aprovou a candidatura do Brasil para a Copa - é de se re-espantar
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ESTIVE REVENDO o relatório do Grupo de Inspeção da FIFA que avaliou a candidatura do Brasil à Copa-2014. Mesmo acostumada a ler e a ouvir muita papagaiada, ainda me espanta a cara-de-pau.
O presidente do grupo, Hugo Salcedo, escreve, na apresentação do “informe ponderado”, que “as apresentações das cidades foram profissionais e apaixonadas e nos permitiram atestar perfeitamente o potencial de cada uma”.
Os membros do grupo são cumprimentados efusivamente por produzir um informe “excepcional” a partir de visitas-relâmpago (cinco cidades em cinco dias) e a apresentação de 13 Powerpoints… “Excepcional” também foi o adjetivo escolhido para a Copa que o Brasil “é muito capaz de organizar”.
Quanta ponderação.
Alguns destaques do resumo da candidatura: “Estádios - Foram apresentados 18; 14 a reformar e 4 a construir”; “Transporte - A infra-estrutura de transporte aéreo e urbano cumpriria facilmente (sic!) as exigências da Copa”; “Legado - A construção ou reforma de alguns estádios não acontecerá se a Copa não for concedida ao Brasil” (verdade; duro é considerar que esse é um ponto favorável à candidatura do “país do futebol”).
Assim como às vezes o título de uma matéria jornalística se choca com seu conteúdo, o resumo entusiasmado passa por cima de ressalvas feitas no próprio relatório. A estimativa de receita, por exemplo, prevê a venda de 3 milhões de ingressos. Probleminhas apontados: 1) “Será necessário que se esgotem os ingressos para todas as partidas das 32 seleções, mas a preços consideravelmente maiores dos que o público brasileiro está acostumado a pagar”.
2) A FIFA e o Comitê terão de “chegar a um acordo” sobre essa receita, visto que “todos os direitos sobre a arrecadação pertencem hoje à FIFA”. A Divisão de Finanças da FIFA, aliás, parece ser a mais cuidadosa.
Na parte que lhe cabe, ela estranha: “ao contrário de candidaturas anteriores, não há evidencias de respaldo do setor privado através do patrocínio da candidatura. Pode ser que o Comitê não tenha, deliberadamente, procurado apoio financeiro das empresas do Brasil. Mas (…) aparentemente recebeu um bom aporte da associação membro”. “Aparentemente”?
Quanta clareza!
Ao detalhar as propostas das 18 cidades candidatas, o relatório informa que “quase todos os planos (…) são sumamente profissionais” (quase!), mas, como “oito ou dez serão selecionadas”, tudo bem. E ao descer aos detalhes do “transporte urbano”, o relatório afirma no rodapé:
“*Estas cidades não têm capacidade adequada para se converterem em cidades-anfitriãs”.
Categórico, não?
Mas apenas em letras miúdas!
(As cidades com o * são Campo Grande, Cuiabá, Florianópolis, Maceió, Natal e Rio Branco).
Teria escapado?
Ainda há muito que dizer, mas meu tempo acabou hoje e “para sempre”. Esta é, até prova em contrário, minha última coluna na Folha, que compreensivelmente prefere não ter uma colaboradora com minha nova função. Continuarei cornetando na ESPN e no blog, se aparecer de novo no jornal, espero que sejam boas notícias, mas essas não costumam ter muito cartaz…
Até mais.