A Câmara dos Deputados instalou
uma comissão especial que será responsável pelo estudo e apresentação de propostas
para reformulação da legislação dos esportes...
Claro que o Estatuto do Torcedor
e a Lei Pelé devem entrar na dança.
Pois bem, minha leitura ia bem
até que me deparei como o nome do presidente da comissão...
Andrés Sanchez.
Parei...
Andrés Sanchez é um pouco demais.
Não existe como tornar nada
moderno, eficiente e transparente, tendo à frente de uma comissão, o senhor
Sanchez.
Porém, li o que disse Rogério
Marinho, relator da comissão...
O discurso do deputado Rogério
Marinho, está repleto de lugares comuns...
Marinho afirma que a série de legislações
existentes no Brasil na área do esporte são desconexas da realidade...
Cita um único exemplo...
A Lei Pelé...
Coisa que aliás, nada tem de novo
– 10 entre 10 dirigentes do futebol no brasileiro fazem isso há anos.
Marinho também fala das
experiências exitosas em outros países do mundo e admite que tais experiências
devem ser melhor conhecidas e colocadas em prática por aqui...
Ufa...
Enfim...
Falo isso há anos e, sempre que
falo, sou taxado de lambe botas dos europeu e sou tratado como um alienado que fala
de realidades diferentes...
Um demente que quer comparar
Brasil com Alemanha.
Nunca quis, nem pensaria em algo
tão impensável...
A mentalidade estatista dos
brasileiros não está nem de longe pronta para voos tão altos.
O empreendedorismo no Brasil ainda
está ligado umbilicalmente ao estado...
O futebol é a prova máxima.
O futebol usa o discurso de que é
privado e, portanto, livre para voar...
No entanto, seus dirigentes e
seus amestrados jornalistas, vivem a reclamar que governos não “investem” no
futebol...
Nesse caso, leiam, investimento,
como dinheiro alocado a fundo perdido.
Marinho diz que vai ouvir as sugestões de
todos os interessados...
Justo e democrático...
Mas...
Quem são os agentes envolvidos no
esporte que Marinho pretende ouvir...
Empresários?
Gente como o pai do Neymar,
envolvido até a medula em problemas fiscais, aqui e na Europa?
Rodrigo Pastana, Alex Fabiano e
Eduardo Uran, os dois últimos, parceiros da atual gestão do ABC, da qual
Rogério Marinho faz parte, nessa triste e estabanada aventura no alvinegro?
O que os atuais dirigentes das
federações têm para acrescentar?
As gestões das federações são
desastrosas...
Os Campeonatos Estaduais, fazem
água e a cada ano afastam dos estádios os torcedores...
A única coisa que esses senhores
têm para apresentar é vassalagem...
Mas isso não será nenhuma
novidade, já o fazem há anos com uma competência admirável.
Quanto a ouvir os atletas, acho
estranho...
Não foram os colegas de Rogério
Marinho, que compunham a tropa de choque da CBF, que tentaram por todos os
meios calar o Bom Senso FC?
Sobre visitar estados e países
onde o esporte dá certo, pergunto:
Em que estado brasileiro o
futebol dá certo?
Qual o critério que será usado
para estabelecer o que é dar ou não dar certo?
Quanto aos países, lamento
informar que será inútil tal visita...
Aceitaremos tornar nossos clubes
em empresa com ações na bolsa como fizeram os ingleses?
Vamos implantar uma mentalidade
alemã aqui?
Teremos a humildade de aprender
com os americanos como transformar um simples jogo num show?
Neste caso, se o deputado me
permitir uma sugestão, direi...
Não vá a Premier League, é muita
areia para nosso caminhão e muita informação para o cérebro de nossos
dirigentes...
Procure a The Footbal Conference,
quinta divisão da Inglaterra.
Lá, aprenda sobre transparência e
organização...
Tente entender como clubes
pequenos, de cidades de pouca população, exibem uniformes Adidas, Nike, Puma e
etc.
Ir lá fora para descobrir como
funciona a prospecção de atletas vindos de universidades e escolas, será apenas
educativo, mas deixará uma imensa frustração...
O deputado vai descobrir que precisaremos
de pelo menos uns cem anos para pelos menos nos aproximarmos de americanos e
ingleses.
Não existe esporte escolar ou
universitário no Brasil...
Existe arremedo.
Nenhuma escola pública neste país
pode formar atletas, não têm equipamento para tal e os professores de educação
física são tratados como pessoas de segunda classe...
Infelizmente.
Nas universidades federais, existem os
equipamentos, existem grandes professores, mas a mentalidade acadêmica não vê
no esporte algo que mereça investimento...
Nos Estados Unidos, existem
campeonatos nacionais de esportes como La Crosse, disputados por universidades
e escolas...
Aqui, torneios que duram uma
semana e fim.
Por fim, espero que dê certo, mas
Andrés Sanchez me tira 90% do otimismo...
Além disso, o que precisa mudar
mesmo no Brasil, é a mentalidade, pois organização, transparência e honestidade
não tem ligação com riqueza...
O fato de ser pobre não impede
que o jardim seja bem cuidado e florido e que cozinha e banheiro estejam sempre
limpos e cheirosos.