Paulo Cézar, o genial polêmico craque Caju
Por José Renato
Paulo Cézar Lima nasceu em 16 de junho de 1949 na favela da
Cachoeira, em frente ao cemitério São João Batista no tradicional bairro
carioca de Botafogo.
Sua roda familiar incluía sua mãe, Dona Esmeralda,
conterrânea do Rei Pelé, empregada doméstica, e sua irmã, mais velha, Célia
Maria.
Seu pai, marceneiro, morreu quando ele ainda tinha apenas um
mês de nascido.
O futebol surgiu em sua vida por meio dos jogos que
costumava participar nas quadras do quartel da polícia militar e no campo do
Botafogo, onde passou a atuar na equipe infantil, que ficavam perto da sua
casa.
Aos 11 anos foi convidado para jogar futebol de salão no
Flamengo, onde ganhou o apelido de Pelezinho.
No rubro negro, fez uma grande amizade com Fred, filho de
Marinho Rodrigues de Oliveira, ex-jogador e técnico do Botafogo, o que mudaria
de forma marcante seu futuro.
A família de Fred praticamente o adotou, e tão logo Marinho
foi convidado para treinar a seleção de Honduras, Paulo Cézar, com o
consentimento da mãe, se mudou com a nova família para Tegucigalpa.
Marinho logo assumiu o papel de pai adotivo e passou a
exercer forte influência em sua educação.
Em meados de 1966, após passar por Colômbia e Peru, onde
juntamente com Fred, foi convidado para se naturalizar, Paulo César voltou com
a família para o Brasil.
Levado por Marinho ao Flamengo, foi dispensado pelo técnico
Flávio Costa.
Na semana seguinte, no entanto, ganhou uma oportunidade no
Botafogo do técnico Admildo Chirol.
Logo no primeiro coletivo, em janeiro de 1967, teve atuação
soberba, atuando pela equipe titular, deixando boquiaberta toda comissão
técnica do time principal, e muito aborrecido o técnico do juvenil, Zagallo,
que preferia contar com sua participação na equipe alvinegra que buscava o
hexacampeonato da categoria.
Foi necessária a intervenção de Gerson junto à diretoria
para que Paulo Cézar fosse mantido na equipe principal.
Jogando como ponta esquerda em um ataque formado também por
Rogério, Roberto e Jairzinho, sua habilidade e rara visão de jogo, logo se
tornaram imprescindíveis para o Botafogo.
Em sua primeira competição oficial, a Taça Guanabara daquele
ano, na partida final frente ao América, em 20 de agosto, marcou três gols, na
vitória por 3 a 2, conquistada na prorrogação, após empate em 2 gols durante o
tempo regulamentar.
Em seguida voltou a ser campeão, desta vez do campeonato
carioca, com o Botafogo que venceu 15 das 18 partidas que disputou.
Ainda naquele ano estreou na seleção brasileira, em 19 de
setembro, na vitória por 1 a 0 frente ao Chile, em partida amistosa, realizada
em Santiago, que também marcou a estreia do Zagallo como técnico da seleção.
Já o ano seguinte, de 1968, foi de afirmação para Paulo
Cézar, que conquistou o bicampeonato da Taça Guanabara e do Campeonato Carioca,
bem como a Taça Brasil, cujas finais aconteceram apenas em 4 de outubro de
1969. Sua presença passou a ser constante na seleção brasileira.
Com apenas 20 anos de idade, foi convocado para a seleção
brasileira que disputaria a Copa do Mundo de 1970.
Era o décimo segundo jogador daquela equipe espetacular.
Logo na estreia, em 3 de junho, na vitória por 4 a 1 frente
a Tchecoslováquia, entrou no lugar de Gerson, que houvera se contundido.
Titular nas vitórias frente a Inglaterra, 1 a 0, e Romênia,
3 a 2, também atuou na partida contra o Peru, 4 a 2.
Campeão mundial continuou brilhando na equipe alvinegra, até
que em 1971, se deixou fotografar com a faixa de campeão carioca antes do final
da competição.
A surpreendente queda de rendimento da equipe da Estrela
Solitária e a ascensão do Fluminense, fez com que o título ficasse com a equipe
das Laranjeiras e Paulo Cézar, embora tivesse sido artilheiro da competição com
11 gols, passasse a ser criticado pelos dirigentes alvinegros, sobretudo pelo
presidente do clube, Altemar Dutra de Castilho que o culpou pela perda do
título.
Ainda disputou pelo Botafogo a primeira edição do campeonato
brasileiro em 1971, quando a equipe chegou ao triangular final com o Atlético
Mineiro, que foi o campeão, e o São Paulo, o vice.
O clima pesado no Botafogo, o levou a mudar de ares e no
começo de 1972 estava de volta ao Flamengo, desta vez como atleta profissional.
Sua estreia com a camisa rubro negra aconteceu em 8 de
janeiro, justamente frente ao antigo clube, seu time do coração, o Botafogo no
empate por 1 a 1 em partida amistosa.
Viveu um grande ano na Gávea, conquistando a Taça Guanabara
e o Campeonato Carioca, no ano do Sesquicentenário da Independência.
Além do sucesso em campo, Paulo Cézar costumava chamar a
atenção por seu estilo de vida.
Gostava de sair à noite, embora não bebesse e fumasse, e
costumeiramente se apresentava com carros luxuosos e roupas bem extravagantes.
Também não fugia de uma boa polemica, cobrando dirigentes e
se posicionando sobre quaisquer assuntos.
Além disso, passou a pintar o cabelo de caju, segundo ele
apenas um efeito do sol carioca, o que fez com que passasse a ser conhecido
como Paulo Cézar Caju.
Já em 1973, conquistou novamente a Taça Guanabara e foi
vice-campeão carioca, perdendo a final para o Fluminense em 22 de agosto por 4
a 2.
Durante o campeonato brasileiro, no entanto, sofreu com a má
campanha da equipe rubro negra, até que na derrota por 2 a 1 para o Grêmio, em
28 de outubro, no estádio do Maracanã, quase foi agredido pela torcida, que
destruiu seu carro.
Aborrecido, deixou acertada sua contratação pela equipe
francesa do Olympique de Marseille, antes da Copa do Mundo de 1974, deixando
sua apresentação oficial apenas após o termino da competição.
Por conta disso, a imprensa alegou que Paulo Cézar tivesse
evitado entrar em bolas divididas durante a Copa do Mundo disputada na
Alemanha.
O fato é que Paulo Cézar, com 25 anos, titularíssimo daquela
seleção, atuou muito mal nos dois empates sem gols, contra Iugoslávia e
Escócia, e perdeu a posição de titular.
Deslocado para o meio campo, voltou à equipe na segunda
fase, no entanto, ficou muito aquém daquilo que se esperava dele.
Atuou no futebol francês, juntamente com Jairzinho, por
pouco mais de um ano, sendo vice-campeão francês da temporada 1974/1975 e
campeão da Copa da França em 1975.
Ainda na França foi assistir a uma partida do Fluminense que
disputava um torneio em Nice, quando acabou conhecendo o presidente tricolor
Francisco Horta, que não perdeu a chance de convidá-lo para voltar ao Brasil e
fazer parte da Máquina Tricolor, uma das maiores equipes da história do clube,
liderada por Rivellino.
Com a camisa tricolor, foi bicampeão carioca, duas vezes
semifinalista do campeonato brasileiro e voltou a ser convocado para a seleção
brasileira que se preparava para as eliminatórias da Copa do Mundo de 1978.
As confusões, no entanto, não foram deixadas de lado.
Em 17 de setembro de 1976, a delegação carioca que estava na
Paraíba para enfrentar o Treze, em partida válida pelo campeonato brasileiro,
acabou se envolvendo em uma confusão com os torcedores paraibanos e no meio do
tumulto, Paulo Cézar aplicou uma rasteira em um jovem.
O atacante acabou sendo preso e passando a noite no II
Batalhão de Polícia Militar, sendo posto em liberdade na manhã seguinte, após o
pagamento de fiança.
Embora estivesse muito bem nas Laranjeiras, no começo de
1977, Caju acabou sendo envolvido juntamente com Gil e Rodrigues Neto em uma
troca pelo lateral esquerdo botafoguense Marinho Chagas.
De volta ao time de seu coração, Paulo Cézar fez parte da
equipe que alcançou a incrível marca de 52 jogos sem perder, uma das maiores
invencibilidades da história do futebol brasileiro.
Apesar disso, as conquistas não vieram e após brigar com o
presidente Charles Borer, preferiu permanecer os últimos três meses de seu
contrato sem atuar, nem receber, do que voltar a vestir a camisa alvinegra.
Já seu sonho de disputar sua terceira Copa do Mundo acabou
ainda nos vestiários da vitória brasileira por 1 a 0 frente a seleção peruana
em 10 de julho de 1977, em partida realizada na cidade colombiana de Cali, que
praticamente garantiu a vaga brasileira para a Copa da Argentina.
Aproveitando a presença do presidente da CBD, atual CBF, o
almirante Heleno Nunes, Paulo Cézar passou a reivindicar uma premiação maior
aos jogadores.
Ao ser ignorado pelo dirigente, se dirigiu a ele afirmando
que ele deveria estar cuidando de seus navios e armas, pois de futebol não
entendia nada.
Oficialmente foi afastado por problema no joelho direito,
mas de fato, jamais voltou a vestir a camisa da seleção brasileira.
O ano de 1979 começou em um novo clube, o Grêmio de Porto
Alegre, onde foi recepcionado de forma calorosa pelos torcedores gaúchos que
lotaram o aeroporto em sua chegada as terras gaúchas.
Em campo correspondeu com as expectativas, sendo campeão
gaúcho com uma campanha espetacular, com 10 pontos à frente do rival
Internacional que acabou na terceira colocação, atrás ainda do Esportivo de
Bento Gonçalves.
Aos 30 anos, embora os torcedores e dirigentes quisessem
mantê-lo por lá, a saudade das praias cariocas acabou sendo maior, e ele acabou
sendo envolvido em uma troca com o goleiro Leão, indo para o Vasco da Gama, o
único grande carioca onde ainda não tinha atuado.
Não foi bem na equipe da Cruz de Malta, muito embora tenha
sido vice-campeão carioca de 1980.
Durante sua estadia em São Januário, chegou a ser negociado
como o Barcelona de Guayaquil, mas não aguentou mais de dois dias na Colômbia.
Cansado de jogar futebol, resolveu passar férias, longe da
bola, na França.
No segundo semestre de 1981, aceitou o desafio de atuar no
futebol paulista, cuja imprensa costumava criticá-lo de forma impiedosa.
Contratado pelo Corinthians, estreou no clássico frente ao
São Paulo em 25 de outubro, na derrota por 2 a 0.
Atuaria apenas mais três vezes pela equipe paulista, sem
grande destaque.
No começo de 1982, recebeu a ligação de seu amigo Carlos
Alberto Torres para atuar na equipe norte-americana do Califórnia Surf.
Apenas passeou pelas terras de Tio Sam e logo estaria de
volta à França, onde passou a atuar, a pedido de um amigo, em uma equipe da
terceira divisão, o AS Aix.
Tinha a certeza de que tinha parado de jogar futebol e
seguiu por novos caminhos, não tão promissores, o das bebidas e das drogas,
mais especificamente cocaína.
Em julho de 1983, no entanto, recebeu a ligação de Antônio
Verardi, supervisor do Grêmio, o convidando para disputar a final do Mundial
Interclubes no final do ano frente à equipe alemã do Hamburgo.
Ciente de seus problemas, os dirigentes gremistas prepararam
Paulo Cézar para esta partida.
Deu certo, em 11 de dezembro de 1983, a equipe gaúcha
conquistou o Mundial ao vencer os alemães por 2 a 1, com dois gols de Renato
Gaúcho.
Esta foi sua última partida como profissional.
Paulo Cézar Caju foi um jogador genial, um dos maiores
talentos da história do futebol brasileiro e que não deixou de aproveitar a
vida da forma que quis, ignorando as críticas e sempre deixando claro suas
posições frente a dirigentes e jornalistas.
O futebol de hoje sente muito a falta de jogadores como ele.