quinta-feira, dezembro 24, 2015

Feliz Natal...

Mamãe Noel

Por Luiz Guilherme Piva

Pinçado do blog do Juca Kfouri

Era o que ele mais gostava quando era menino.

Tinha um senhor que morava no fim da rua que no Natal enchia um caminhão-baú de bonecas e bolas, estacionava na praça, formava duas filas, de meninos e meninas, e distribuía tudo pra criançada.

Ele passava a semana anterior ansioso, vigiando da janela, contando horas e dias.

Quando ganhava a dele, vinha correndo eufórico, gargalhando, gritando, feliz como se tivesse ganhado o mundo inteiro.

Era a única coisa que ele ganhava. Viúva, pobre, mesmo tendo só ele de filho, que Natal eu poderia lhe dar?

Foram dez anos seguidos. Sei por causa das bolas que até hoje estão guardadas no quarto dele aqui em casa: em cada uma está escrito o ano em que ele a ganhou.

Nunca jogou com elas. Nem deixou que pegassem. Estão intactas. Passava pano, acariciava, ajeitava no lugar, mas não usava nem pra quicar.

Quando ele era rapazinho, o senhor faleceu e acabou a festa do caminhão-baú.

Meu filho foi estudar, trabalhar, viajou, ganhou algum dinheiro, mora longe, e só vem aqui pra me ver quando é Natal. Talvez porque não tenha ninguém, nem esposa nem filhos.

Ele vai até o quarto, pega as bolas, confere, diz “lembra, mãe?”. Ele, já um senhor, e eu, já bem velha, nos abraçamos. Fingimos não chorar.

Quase quarenta anos já esse ritual. Ele fica ali com as bolas um tempo, depois vai pra rua, anda nas redondezas e, depois de uns dias, logo depois do Natal, vai embora.

Este ano telefonou dizendo que não vem. Não explicou direito por quê. Falou de exames, doença leve, coisa à toa. Eu disse que entendia. Mas senti – mãe não se engana – que é coisa séria. Pela voz dele meu coração vislumbrou o fim de uma longa história.

Dele e minha.

Resolvi que vou abrir a varanda, chamar dez meninos desses que zanzam pela rua, fazê-los formar uma fila e dar a eles as dez bolas, com um beijo e um abraço em cada um.

O que eu mais quero é vê-los correr pela rua gargalhando, gritando, felizes como se tivessem ganhado o mundo inteiro.

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