domingo, setembro 18, 2016

Pessoas deficientes não são coitadas e para-atletas são humanos e não super-humanos...

Imagem: Mauro Pimentel/AP


Tratamento aos para-atletas salta de pieguismo a endeusamento

Por Mariliz Pereira Jorge – Colunista – Folha de São Paulo

Algumas coisas incomodam muito na cobertura de eventos esportivos.

A pior delas são as perguntas preguiçosas, com respostas óbvias.

Quero cair do sofá quando o repórter pergunta ao entrevistado se ele está feliz de ter conquistado uma medalha de ouro ou chateado por ter sido desclassificado.

Que despreparo.

Que perda de tempo do atleta, do telespectador, de todo mundo.

Na Olimpíada, aconteceu o tempo todo.

Na Paraolimpíada, continuamos repetindo o fenômeno, mas o que chamou a atenção foi a falta de traquejo de jornalistas para lidar com os entrevistados.

Imagino que não fosse tão complicado puxar uma cadeira e ficar na mesma altura dos atletas cadeirantes, e não em posição superior, na hora de entrevistá-los.

Muitas vezes faltou informar o telespectador que aquele atleta tinha esta ou aquela deficiência.

Fiquei boiando em várias ocasiões por não ser tão óbvio.

A sensação é que prevaleceu a lei do "para não errar é melhor não falar".

E, assim, perpetuamos os tabus.

Uma amiga contou que sua filha, ainda criança, fazia mil perguntas e ela nem sempre sabia o que dizer, e não pôde contar com a ajuda da televisão.

Este atleta já nasceu assim?

Como ele consegue jogar sem ouvir nada?

Eu mesma fiquei maravilhada ao ver atletas nadando borboleta com apenas um braço.

Mas tive mil dúvidas sobre como separam as categorias.

Uma pessoa sem os braços nada com outras que não têm perna?

Mas essa pessoa parece que não tem nenhum "problema", o que ela tem?

E, assim, continuamos desinformados.

No entanto, o mais insuportável foi ver o tratamento aos atletas saltar do pieguismo para o endeusamento.

Pessoas com deficiência não são coitadas, já entendemos.

Mas para-atletas não são super-heróis ou super-humanos, como cansamos de ver nos noticiários da última semana.

A moda começou em Londres-2012, e ganhou reforço com o belíssimo comercial produzido pelo canal de televisão britânico Channel 4 para promover sua programação durante os Jogos, chamado "Superhumans" (super-humanos).

Com 140 pessoas com deficiência, entre músicos, atletas e figurantes, o jingle repete o refrão "Yes, I can" (sim, eu posso), enquanto mostra os participantes em ação.

Alguns tocam instrumentos, outros praticam esportes, enquanto há os que realizam tarefas do dia a dia, como uma mãe sem os braços que cuida de um bebê, ou outra, também amputada, que coloca gasolina no carro.

A mensagem "Yes, I can" é muito forte e representativa.

Sim, pessoas com deficiência são aptas a fazer tudo. Mas colar o rótulo de super-humanos nos para-atletas apenas reforça o conceito de que são especiais, e não igualmente capazes, além de enfraquecer o que realmente precisa ser valorizado.

Cheira a condescendência, artifício barato, tal qual chamar a terceira idade de "melhor idade" como forma de valorizar essa fase.

Envelhecer deixou de ser atestado de invalidez, mas cravar que é a melhor fase da vida é uma falácia.

Pergunte a qualquer pessoa com mais de 70.

Para-atletas se destacam porque acordam cedo, treinam, são dedicados.

Os superpoderes são a dedicação, o empenho, a vontade de derrubar barreiras de preconceito, quebrar recordes pessoais.

Não precisamos tratá-los como super-humanos.

Um bom começo é enxergá-los como humanos.

Série A: Palmeiras 2x0 Corinthians... o Corinthians falhou.

 Charge: Mário Alberto


Charge: Mário Alberto

Os ex-atletas que ainda faturam milhões...

10 Magic Johnson (16 milhões de euros) 

Johnson possuiu ações do Lakers, no basquetebol, do LA Dodgers, no basebol e do Los Angeles FC, no futebol...

Além disso, tem negócios relacionados ao teatro, televisão, seguros e outros serviços.

09 Gary Player (16,75 milhões de euros)

Ex-jogador de golfe, o sul-africano é considerado um dos melhores da história...

Arquiteto, montou um escritório especializado em Campos de Golf com mais de 300 projetos realizados.

08 Roger Penske (17,75 milhões de euros)

O ex-piloto americanos possui uma escuderia na NASCAR e é um dos diretores da Companhia General Eletric...

Além disso, foi presidente da Super Bow XL em Detroit.

07 Shaquille O’Neil (19,50 milhões de euros)

Atualmente se dedica a comentar partidas de NBA e a comparecer como convidado especial nas festas do basquetebol.

06 Jack Nicklaus (23 milhões de euros)

Um dos grandes ícones do golfe...

O americano ganha a vida desenhando campos de golfe.

Também, organiza um dos circuitos do PGA tour...

Escreveu alguns livros sobre o esporte.

05 Jerry Richardson (26,5 milhões de euros)

Foi jogador de futebol americano e campeão da NFL e é proprietário de uma das franquias da liga – o Carolina Panthers...

É também um dos fundadores da empresa Spartan Foods.

04 Junior Bridgeman (28,5 milhões de euros)

 A equipe do Milwakee Bucks retirou de sua camisa o número usado por ele quando deixou basquetebol...

Agora, Junior Bridgeman é o presidente da empresa de comida rápida que possui a a famosa cadeia Wendy’s y Chilly’s.

03 Arnold Palmer (35,5 milhões de euros)

O ex-golfista de 87 anos, continua a fazer dinheiro graças a venda de seus direitos de imagem...

Palmer também fatura com a cessão de seu nome para uso de uma gama de produtos, associações e eventos.

02 David Beckham (57,5 milhões de euros)

Ele continua uma máquina de fazer dinheiro por meio de sua imagem...

Em segundo lugar como um dos ex-atletas que mais faturam no mundo, Beckham é um ícone no mundo da moda, apesar de ter sua história ligada ao futebol.

01 Michael Jordan (97,5 millones de euros)

O número 1 é o principal acionista do Charlotte Hornets da NBA...

A venda da marca Jordan lhe gerou cerca de 100 milhões de dólares.

Além disso, outras empresas utilizam seu nome...

Com, por exemplo, Gatorade, Upper Deck, Hanes o Five Star.

sábado, setembro 17, 2016

Camisas Vintage: VfB Stuttgart...

Arte: Emilio Sansolini

O fim da geral e a elitização do futebol...



Entendendo que o futebol é uma representação fiel de nossa realidade, surge o documentário “Adeus, Geral”, que teve seu início a partir de um trabalho escolar de Geografia sobre "muros sociais". 

O filme busca explorar a elitização do futebol brasileiro, que exclui dos estádios as camadas mais pobres da população. 

Produzido por 5 alunos do Ensino Médio, movidos pelo sentimento de expor as injustiças que esse muro social representa, deu voz a torcedores, jornalistas, técnicos e ex-jogadores para entender o que significa essa tendência. 

Participam, com depoimentos, nomes como os jornalistas Juca Kfouri e Mauro Cezar Pereira, o ex-técnico do Corinthians, Tite, o presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, o ex-jogador Alex e membros das principais torcidas organizadas de São Paulo.

O brasileiro é mesmo fanático por seu time?

O brasileiro é mesmo tão apaixonado pelo time de futebol que torce?

Uma nova pesquisa do SPC aponta duas conclusões: o torcedor não é tão fanático quanto ele pensa e ter a maior torcida não diz muito se ela não for engajada ao clube

Rodrigo Capello para a revista “Época”.

“O  Flamengo tem 35 milhões de torcedores.”

“O Corinthians possui 30 milhões de fãs.”

As frases saem da boca de dirigentes toda vez que precisam “vender” o clube – para conseguir um patrocinador, por exemplo – e de torcedores na hora de contar vantagem nos bares e nas redes sociais.

Há derivações para quase todo time de futebol brasileiro que se considera "grande".

Pare para refletir.

A torcida de seu clube é mesmo tão numerosa assim?

Ou melhor: ela é tão apaixonada quanto as afirmações de grandeza fazem parecer?

O modo como o mercado conta torcedores é conhecido: institutos como Datafolha e Ibope fazem pesquisas amostrais e determinam que, de toda população, 18% torcem para o Flamengo e 16% para o Corinthians.

Esses percentuais em um país com mais de 200 milhões de habitantes fazem qualquer um parecer gigante.

Mas a conta não deveria ser tão simples assim.

Afinal, se há tantos milhões de torcedores no Brasil, como conceber que o Campeonato Brasileiro tenha uma média de público em torno de 17 mil pagantes por jogo?

A resposta está em quão apaixonados são esses milhões.

As torcidas de futebol podem ser colocadas em réguas de engajamento.

O fulano que está lá no topo é aquele que lê as notícias do clube, vai ao estádio, viaja para ver o time jogar fora de casa, paga mensalidades de sócio-torcedor e assina pacotes de pay-per-view.

Sente-se mal quando o time perde e gasta mais do que poderia com seus produtos.

É o fanático.

O fã.

O sujeito que fica na outra ponta simpatiza pelo clube, diz que torce por ele, mas não faz nada disso com tanta frequência.

Assiste aos jogos e compra produtos eventualmente.

Não tem tanto envolvimento emocional assim.

Na teoria, tudo certo. Na prática é que o problema engrossa.

A medição do engajamento de cada torcedor é rara dentro dos próprios clubes – os departamentos de marketing, quando têm equipe, investem seus esforços mais em tarefas comerciais, como buscar patrocinadores, do que efetivamente de marketing, algo que envolve pesquisa.

No mercado, de modo conjuntural, as pesquisas são ainda mais raras.

A boa-nova é que o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), aquele órgão reconhecido por cobrar dívidas, fez uma pesquisa que levou em conta as diferenças entre fanáticos e simpatizantes.

Os torcedores brasileiros acham ser mais fanáticos do que realmente são.

Ao responder ao questionário do SPC, metade dos entrevistados, 50%, afirmou ser “aficionada”, o mais elevado nível de engajamento. Só 13% se identificaram como “simpatizantes”.

O órgão então fez perguntas mais direcionadas para “checar” se aquela impressão era real.

Com que frequência você lê notícias sobre seu time?

A quantos jogos assistiu no último mês?

Assim em diante o SPC identificou que a prática está distante do discurso.

Na régua da entidade, só 8% são “aficionados” e 43% são “simpatizantes”.

Não amamos tanto assim.

O SPC também montou uma tabela que divide os torcedores por time em “aficionados”, “médios” e “simpatizantes”.

Prepare-se para a polêmica.

O São Paulo, campeoníssimo na década de 2000, tem uma proporção maior de simpatizantes do que de aficionados.

O Palmeiras, pelo contrário, tem mais aficionados do que simpatizantes.

Na prática, isso quer dizer que, apesar de os são-paulinos aparecerem à frente dos palmeirenses em pesquisas de tamanho de torcida tradicionais, como a do Datafolha, os palmeirenses consomem o clube com mais intensidade.

Se você lembrar que o Palmeiras teve uma média de 29.633 pagantes por jogo no Brasileiro de 2015 enquanto o São Paulo ficou em 20.562, a conclusão do SPC ganha mais um indicador que a corrobora.

É claro que as conclusões merecem um paragrafão de ressalvas.

A pesquisa do SPC, como as do Ibope e da Datafolha, é amostral e, portanto, não deve ser considerada como definitiva.

Uma coisa é entrevistar os 200 milhões de brasileiros para ter certezas, mas aí haja custo.

Outra é entrevistar 620 pessoas em 27 capitais e estimar o comportamento de grupos maiores a partir da amostra.

O método é sério, embasa pesquisas no esporte, na política e na economia, mas tem uma margem de erro.

No caso são 3,5 pontos percentuais que podem mudar os resultados de figura.

Mais: a pesquisa do SPC descartou entrevistados que não gostam de futebol.

Isso porque o valor que elas gastam com futebol, por exemplo, quase nada, puxaria a média toda para baixo, e o intuito do órgão era entender padrões de consumo do torcedor, não da população.

Tenha em mente: a pesquisa tem limitações.

Mas é um bom ponto de partida para qualificar o debate sobre os milhões de apaixonados por futebol.


Quando nada dá certo...

Imagem: Felipe Sevillano/Diário AS

O vice-presidente do América não gosta em clichês e nem tão pouco tem mais paciência...

O vice-presidente do América, José Medeiros, em seu blog, o “Mecão Voz e Vez”, deixou claro duas coisas:

A primeira é que não gosta de clichês...

“Sem essa de eu acredito... Tenho horror à esta frase. Para mim é sinônimo de mau presságio”.

E a segunda é que sua paciência já se foi faz tempo...

“Impossível acreditar que nossos atletas sejam perdedores assumidos, fracos e sem vergonha na cara. Impossível aceitar que 101 anos de glórias possam descer ralo a baixo por absoluta falta de compromisso com nossa história. Está na hora de reagir, de honrar nosso escudo, nossa torcida e, acima de tudo, seus próprios nomes. Viu, senhor treinador e demais atletas? Estão cientes, né? ”

Um inesperado "passeio" pela brita...

Imagem: Alex Pons/AFP

O ABC está classificado, mas tem que brigar pela primeira ou segurar a segunda posição... e é aí que entra o Botafogo da Paraíba.

Antes de pensar em mata-mata, o ABC deve se concentrar no ASA...

Essa é a partida que vai definir contra quem o ABC decidirá seu destino na Série C.

A situação do alvinegro é a seguinte:

Vencendo o ASA, precisa que Botafogo da Paraíba vença ou empate com o Fortaleza para garantir a primeira colocação no grupo...

Se empatar, terá que torcer por uma vitória do Botafogo por um placar inferior a 3 gols, para continuar com a primeira posição.

Em caso de derrota, o alvinegro viverá uma situação “estranha”...

Ficara na dependência do Botafogo para segurar a segunda colocação.

Derrotado o Botafogo permanece com 27 pontos e o ABC está garantido na posição número dois...

Se empatar o Botafogo, chega aos 28 e não alcança o ABC, mas se vencer, chega aos 30 pontos, assume a primeira posição e pelo saldo de gols, coloca o Fortaleza no terceiro posto.

A moça que pula barreiras...

Imagem: Marcelo Sayão/EFE

Olympique de Marselha é vendido a investidor americano por R$ 168 milhões...

O norte-americano Frank McCourt desembolsou 45 milhões de euros (R$ 168 milhões) para adquirir o Olympique de Marselha...

A informação confirmada pela ESPN partiu do jornal francês L'Équipe.

A oferta, aconteceu no final de agosto e foi aceita pela proprietária Margarita Louis-Dreyfus...

O negócio tem que ser formalizado nas próximas semanas.

"Não quero dar números concretos, mas o orçamento aumentará. Queremos competir com o Paris Saint-Germain, estar no Top-3 da França", afirmou o novo proprietário.

Badminton...

Imagem: Ed Jones/AFP

A brasileira Carolina Schrappe é a nova recordista de mergulho livre...

A apneista paranaense Carolina Schrappe bateu o recorde sul-americano de mergulho livre, na disciplina de lastro variável, em Bonaire, no Caribe.

Para conseguir o feito Carolina precisou prender a respiração, descer a 95 metros de profundidade com a ajuda de lastro e retornar com a ajuda de uma nadadeira...

Tudo isso sem cilindro e nenhuma fonte de ar.


quinta-feira, setembro 15, 2016

Camisas Vintage: Real Sociedad...

Arte: Emilio Sansolini

O América precisa dar um reset e rearrumar seus aplicativos...

Diretor tenta limitar questões em coletiva e constrange técnico do América-RN
Por Augusto César Gomes para o Globo Esporte.com

Ameaçado de ser rebaixado para a Série D do Campeonato Brasileiro, o América-RN, parece, gosta de criar problemas.

O desta quarta-feira não foi tão grave, mas merece o registro.

A imprensa esportiva foi à Arena das Dunas para cobrir a coletiva do técnico Francisco Diá - o treinamento, de conhecimento de todos, era fechado.

A entrevista sofreu um pequeno atraso devido a uma reunião entre ex-presidentes, dirigentes, comissão técnica e jogadores.

Nada demais.

Quando todos estavam prontos no auditório da Arena, o diretor de futebol do Alvirrubro, Iury Bagadão, se dirigiu aos jornalistas com um pedido, assim, que não era necessário.

Sem querer ser filmado, "pediu" para que a imprensa tratasse apenas de futebol, da partida contra o Remo, e "esquecesse" os problemas vividos pelo clube.

Por exemplo: como não perguntar a Diá sobre a saída de Lúcio Curió?

Como não perguntar sobre a presença dos ex-presidentes em reunião antes do treino?

Os jornalistas presentes, obviamente, reclamaram do tal pedido de "apoio" e "compreensão".

Bagadão falou que não se tratava de censura, mas, após a indignação dos repórteres, ainda ameaçou cancelar a coletiva.

O dirigente cogitou também que as perguntas sobre os problemas (extracampo?) fossem dirigidas a ele, e não ao treinador.

Claro que ninguém aceitou.

Diá ficou visivelmente constrangido com a situação e falou que responderia qualquer questionamento normalmente, como sempre fez.

O treinador não se curvou ao falar do momento delicado do América, do seu trabalho à frente da equipe, e também falou tranquilamente sobre Lúcio Curió.

Às vésperas de um jogo vital para o clube, os dirigentes teriam que estar preocupados com outros fatores, e não com uma entrevista coletiva de treinador, principalmente sendo ele um cara rodado, "macaco velho", como dizemos no popular.

Se, por acaso, alguma pergunta chateasse Diá, ele mesmo poderia responder "não quero falar sobre este assunto" e todos respeitariam.

Mas querer direcionar o que a imprensa vai questionar antes de uma entrevista?

Isto não dá mesmo...

Desgaste desnecessário.

Do blog:

Augusto César Gomes tem razão!

Que desgaste desnecessário...

Que postura deselegante e imprópria.

Um dirigente de futebol pautando jornalistas...

Exigindo uma amnésia coletiva em relação aos problemas extracampo.

Que estranho...

Que novidade bizarra.

Foi um show de desinteligência...

Uma aula sobre nada saber sobre censura.

Tudo na frente do entrevistado...

Que calado e constrangido, tentava manter as aparências...

Diá precisa de tutor?

Certamente que não.

Diá é adulto, vivido e goza de boa saúde...

Portanto, capaz de enfrentar perguntas agradáveis e desagradáveis, com equilíbrio e ponderação.

Por fim, me solidarizo com a assessoria de imprensa do América, que viu suas funções serem usurpadas...

Lamento que o excelente e competente trabalho desse pessoal seja atropelado por um gesto que em nada ajudou ao clube num momento tão difícil.

O Reflexo do Sol no Oceano Visto do Espaço...

Imagem: Jeff Williams/NASA 

Pianinho, um time que se você não conhece, devia conhecer...

Desculpe o transtorno, mas preciso falar do Pianinho

Por Ana Clara Dantas*

Eu o conheci na UFRN....

Essa frase pode parecer romântica se você imaginar alguém debatendo a atual conjuntura política e o impacto na mídia brasileira em uma sala sem ar condicionado do Labcom (laboratório de comunicação do Departamento de Comunicação).

Mas a UFRN em questão era uma resenha pós-bolsa com uns amigos...

Discutíamos tudo, menos comunicação.

Meus amigos jogam futebol...

Neymar joga futebol...

Eu não jogava, mas fazia as vezes de comentarista esportiva nas horas vagas.

Ele estava lá.

Com seu uniforme amarelo degradê e as marcas do futebol moleque...

Nunca vou me esquecer: a música que tocava era "Nas grades do seu coração", do Grupo Revelação.

Quando a bola rolava, os jogadores davam a alma em campo...

Trombavam com o adversário, xingavam o juiz, iam para a torcida.

O esquema tático ofensivo e o treinador aos berros mostravam que só a vitória interessava e, mesmo que ela não viesse, o grupo estava unido e focado...

Foi paixão à primeira vista.

Passei algumas madrugadas conversando com jogadores aposentados para saber mais informações sobre o time...

Buscava alguma forma de levar essa história para mais pessoas.

Falei com o chefe para que abrisse uma brechinha em seu programa diário na Rádio Universitária e comentasse sobre a rodada do final de semana dos Jogos do CCHLA...

Era só uma desculpa para transformar o Piano neste time que o Brasil aprendeu a amar.

O mata-mata começou e para mim parecia que a vida começava ali...

Fiz vários amigos novos, conheci jogadas malandras, vi disputas de pênaltis, jogadores em plena forma física, escrevi crônicas, enfim, presenciei o auge do verdadeiro futebol...

Dos dez gols que mais gostei 7 foram de Kieza, 3 de Álvaro e todos com passe de Rodolpho.

Aprendi com o Pianinho o que era Mim Acher, Descubra e Decreto e outras palavras que talvez algumas pessoas não entendam se não acompanham o COMENTARISTA ESPORTIVO Alexandre Oliveira...

Um dia o time foi eliminado.

No campo e na quadra...

Não foi fácil.

Chorei mais do que no fim do Exaltasamba ou quando Didico perdoou as pessoas ruins...

Até hoje, não tem um lugar que eu vá em que alguém não diga, em algum momento:

"Ouvi sua crônica sobre o julgamento do menino Kieza! O time nem ganhou, né?"

Mas a verdade é que não precisa de título, eu penso...

Levo o Pianinho para sempre comigo.

Essa semana vesti a camisa do Piano...

Achei que fosse chorar, tamanha a emoção.

Mas o que me deu foi uma felicidade profunda de poder amar um clube independente da campanha que ele faça...

E ter esse sentimento documentado em crônicas, textos e comentários ao vivo.

Se falta alguma coisa?

Descubra...

Ana Clara Dantas é aluna de jornalismo, estagiária da rádio FM Universitária, comentarista do programa “Universidade do Esporte” da FMU e comentarista do TVU Esporte, primeiro programa de esportes do Rio Grande do Norte feito por mulheres e caicoense “roxa”.

O Pianinho surgiu da rivalidade futebolística de um grupo de estudantes de comunicação social apaixonados por futebol, para disputar os jogos do CCHLA deste ano...

Recém-nascido, o Pianinho já tem uma ainda pequena, mais apaixonada torcida, cultiva uma rivalidade ferrenha e feroz com “A Barca” e, mesmo tendo sido eliminado, o time arrebatou o coração de quem é apaixonado pelo futebol moleque.

Ah...


Esse blogueiro, mesmo tendo total respeito pela Barca e por outros eventuais adversários, assume sua total imparcialidade em relação ao Pianinho.

O goleiro falhou...

Imagem: Paolo Magni/EPA

Légia Varsóvia 0x6 Borussia Dortmund...

Rodeio a moda alemã...

Imagem: Michaela Rehle/Reuters

Barcelona aciona o Santos...

Barcelona deve pedir na Fifa 8,3 milhões de euros do Santos no “caso Gabigol”...

3,2 milhões de euros pagos pelo Barcelona pela prioridade em relação a Gabigol, Victor Andrade e Geuvânio e mais 5 milhões de euros como multa e indenização.

Com Perrone.

quarta-feira, setembro 14, 2016

Camisas Vintage: Club Atlético de Madrid...

Arte: Emilio Sansolini

O América pode escapar?

A situação do América é irreversível?

Não, não acho...

Apesar de situação ser crítica, desesperadora.

O Remo não é nenhuma “Brastemp”, muito pelo contrário, é um time limitado e inconstante...

O América também, mas isso nesse momento pode “ajudar” mais que prejudicar.

Equipes ruins, só tem uma saída...

Suar a exaustão.

O Remo vai entrar carregando todo o peso do mundo, já o América, entra praticamente liquidado...

Portanto, não há razão para temer riscos, segurar placar.

É ir para cima e ver no que vai dar...

Peitar o Remo sem se importar com as consequências da ousadia.

Fazer em 90 minutos, num único jogo tudo o que não foi feito em nove meses...


Todo o resto é conversa sem nenhum sentido.

Run, Bolt, run...

Imagem: David Ramos/Getty Images

Porque mais América e menos ABC?

Hoje recebi uma pergunta interessante...

Fernando porque você tem escrito mais sobre o América e tão pouco sobre o ABC?

Ri e respondi...

Pela mesma razão que um médico numa situação de emergência dará mais atenção a um paciente com infarto e fará esperar alguém que só tenha luxado um dedo.

O América se debate entre o céu e o inferno...

O ABC, nesse momento, no máximo, fica com a terceira posição, mas mesmo assim, ainda poderá brigar para tentar sair do atoleiro da Série C.

O toque salvador...

Imagem: Autor Desconhecido

Torcida do Leicester dá exemplo de civilidade e boas relações...

O Leicester City estreia hoje na Champions League, na Bélgica, contra o Club Brugge...

É costume que, durante o 23° minuto de todo jogo do Club Brugge em casa, as arquibancadas aplaudam François Sterchele, ex-atacante que faleceu em um acidente de carro em 2008, aos 26 anos.

Antes da viagem, um grupo de torcedores do Leicester enviou um e-mail pedindo informações sobre a homenagem...

Devem se juntar, para dar ainda mais força ao tributo.

Um momento...

Imagem: Emmanuel Dunnant/AFP

O pouco conhecido, mas fascinante mundo das corridas - é um texto grande, mas muito interessante....

Correr sem freio: o bilionário mercado das corridas pelo mundo

Por que correm?

O que perseguem?

Do que fogem?

A febre do ‘running’ é um fenômeno global, agitado pela indústria da moda e do esporte

José Luis Barbería para o El Pais

Em uma manhã de julho, o secretário de Estado de Cultura, José María Lassalle, de 49 anos, chega a seu escritório, em Madri, depois de correr 13 quilômetros.

Há um brilho de felicidade em seu semblante.

“Entrar na Casa de Campo, ainda à noite, e me encontrar com o amanhecer é uma experiência estética e íntima. O sol, tão baixo, era o tapete dos meus passos, e em meio ao silêncio, eu conseguia me escutar: ouvia minhas pulsações, notava a progressão do suor, sentia que meu corpo e minha mente estavam em plena sintonia. Há algo de místico nessas emoções. Acabei de correr com a sensação de que já estava com o dia feito”.

Por que correm?

O que perseguem?

Do que fogem?

A febre de correr, antes footing¸ agora running, consolida-se como um fenômeno universal que, nos EUA, já contagiou mais de 50 milhões de pessoas e gera 3 bilhões de dólares (equivalente a R$ 9,7 bilhões) anualmente.

Não parece ser uma moda passageira.

Esta paixão coletiva é ampla e profunda, em uma dupla direção, exterior e interior.

Por trás de cada dorso, há motivações íntimas e histórias pessoais, muitas vezes enterradas e mimetizadas na solidão do corredor.

“Comecei depois da repentina morte do meu melhor amigo, maratonista, que morreu aos 35 anos, vítima de uma leucemia aguda”, conta Juan Soroeta, de San Sebastián, de 56 anos, professor de Direito Internacional. “Depois de vários meses de depressão, em homenagem a ele, decidi começar a correr pela primeira vez na vida e fixei como objetivo sua marca de 2h59min na maratona. Demorei 10 anos, mas, desde que a alcancei, não parei mais. Já disputei 30 maratonas”.

“Resetar” a mente dessa forma é uma expressão habitual, que invoca tanto o poder do relaxamento quanto a oportunidade de se rearmar emocionalmente em um proveitoso processo de reflexão interior.

Quem explica isso é o psiquiatra Luis Rojas Marcos que, aos 72 anos, não perde uma maratona de Nova York.

“Enquanto corro, frequentemente me vem à mente soluções de problemas que considerava insolúveis. Tenho a oportunidade de conversar comigo mesmo, de escutar música ou de compartilhar o tempo com companheiros e entes queridos”.

Todo corredor tem um publicitário dentro de si, com a mensagem dupla de que esta atividade pode mudar sua vida ou melhorá-la, e que, colocados na balança, os benefícios pesam muito mais que os sacrifícios e as lesões.

“Corro porque é divertido, agradável, esclarece a mente, te faz viajar, fazer amigos, manter-se em forma e conhecer a si mesmo. Inclusive o esforço é positivo na medida em que fortalece a mente, potencializa a determinação e a constância”, resume David Cabeza, analista financeiro.

Ao indubitável círculo virtuoso deste esporte — é saudável, barato, democrático; pode ser praticado quando você quiser, como quiser, onde quiser, sozinho ou em grupo — cabe questionar suas próprias sombras: possui um componente viciante e pode induzir à obsessão por bater marcas e buscar desafios arriscados sem a devida preparação.

Encontrar um lugar nas quinhentas maratonas que são realizadas anualmente no mundo não é uma tarefa fácil porque a apoteose da corrida colocou ao alcance das massas a distância mítica dos 42 quilômetros e 195 metros.

Agora, trata-se de se provar na combinação de esportes — há um corredor de maratonas no triatlo — e em condições difíceis: competir na montanha, no deserto, na superfície gelada dos polos..., em temperaturas altíssimas ou com muitos graus abaixo de zero, carregando comida, com material para acampar.

O mito do super-homem renasce com as provas extremas de Ironman que proliferam cada vez mais como estrelas de um fenômeno que abrange tudo: das corridas de 3.000 metros às de 555 quilômetros; do asfalto à grama, à pedra, à areia ou à neve; do parque urbano aos barrancos e às altas montanhas.

Há dois milhões e meio de espanhóis, mesmo número de pares de tênis esportivos que são vendidos por ano, que correm pelo menos uma vez por semana, em um país no qual a indústria do setor fatura mais de 300 milhões de euros (equivalente a aproximadamente R$ 1 bilhão) anualmente, e o número de provas atléticas populares superam a marca de 3.000.

Por que Kilian Jornet corre?

“Sempre há razões escondidas que nos conduzem a fazer o que fazemos. É uma busca que passamos a vida inteira tentando descobrir”, reflete este ultramaratonista e esquiador de montanha de Sabadell, que inspira os corredores mais sérios.

Jornet, de 28 anos, um atleta admirável que ganha tudo e supera os desafios mais exigentes, também tem uma resposta mais curta:

“Corro, escalo e esquio para me sentir feliz”.

Afirma que ignora suas razões profundas, mas que talvez tenha a ver com a “nossa natureza animal, a busca de si mesmo por meio da exploração dos limites, a maravilha das paisagens e também com o limbo localizado entre a ilusão que me aproxima da morte e a reflexão que me mantém na vida”.

Apesar de as competições populares oferecerem com frequência cenas de sofrimento e até mesmo um pouco patéticas, convém não se deixar levar de antemão pela comiseração, nem mesmo diante do corredor torturado, espasmódico, que se contorce na corrida.

Os espectadores precisam saber que essas pessoas investem na dor em busca do prazer que terão mais tarde e que, no exercício masoquista de sofrer antes de ter prazer, eles mesmos procuram substâncias dopantes que inibem os alertas de fadiga e amenizam seu calvário.

O cérebro entra em ação quando os músculos queimam com ácido lático e o corpo grita “pare, acabe com o tormento”.

Está demonstrado que o exercício físico estimula a produção de serotonina no cérebro e que este hormônio facilita as emoções positivas e protege da depressão.

“O corpo cultiva substâncias que oferecem um tom vital alto e repercutem positivamente no chamado hormônio da felicidade. Ao correr, nós nos beneficiamos deste estado de bem-estar”, destaca Francesc Torralba, filósofo, autor do livro Correr para pensar e sentir (Lectio).

Chegar à meta, cumprir com o objetivo, sobreviver aos desafios difíceis, tudo isso coloca o corredor em uma espécie de nirvana emocional, um estado de euforia que ativa um circuito de auto-confiança, reposição de energias e ansiedade de voltar, por mais que terminem cansados, jurando e mentindo que nunca mais se submeterão a este tipo de padecimento.

Marta Carrasco, de 39 anos, dois filhos, auditora na Deloitte — o clube de corredores desta empresa tem mais de 200 empregados —, terminou sua travessia de 115 quilômetros de montanha com esta exclamação: “Nunca mais!”.

Disse que não compartilha do furor geral, que passa por treinadores e dietas pessoais, que apenas corre para relaxar e se manter em forma.

No entanto, qualquer corredor experiente deixará esta promessa suspensa, porque, passado um tempo, Marta pode muito bem reconsiderar sua decisão e voltar a correr.

“Às vezes, eu mesma me assusto ao ver a dependência real que este vício causa. O corpo pede para correr todos os dias, esteja como esteja”, afirma David Rodrigo, de 36 anos, técnico de edição que trabalha em La Sexta.

“Quando um esportista não pode fazer exercício, sente-se como um gato enclausurado, porque precisa da sua dose de endorfina diária”, afirma Ana García Orden, maratonista, funcionária do Bankinter, que separa os corredores entre os que fazem deste esporte uma filosofia de vida e os que se movem por instinto de manada, arriscando-se sem a imprescindível preparação.

Todo corredor de maratona sabe que competir contra seus próprios limites ou contra os demais significa testar não apenas a preparação física adquirida, mas também a inteligência e o temperamento.

Sabe que nem sempre ganham os mais bem-dotados e que a droga mais poderosa é a que o cérebro fabrica quando, geralmente passado o quilômetro 30, aparece o que chamam de “muro”, esta grande barreira fisiológica e mental que esvazia as forças e o aprisiona em uma sensação de que está correndo sem avançar, como se estivesse preso à fita elástica da academia.

Martín Fiz conhece perfeitamente essa sensação porque também é um pesadelo recorrente em seus sonhos.

Campeão do mundo de maratona em 1999, Martín Fiz tem o mérito de ter vencido em algumas provas os quenianos e os etíopes, cuja supremacia na longa distância é esmagadora há décadas.

O domínio africano viria a ratificar a tese antropológica “nascidos para correr”, que explica o salto evolutivo humano pela sua capacidade de perseguir e escapar dos animais na corrida.

Sem a velocidade máxima de suas presas, os humanos optaram por se especializarem em persistir na corrida.

Isso explicaria os ligamentos da nuca, na base do crânio, que nos permitem manter a cabeça imóvel durante a corrida, os potentes músculos dos glúteos, que impulsionam as pernas, e os tendões e ligamentos dos pés e tornozelos, imprescindíveis para correr em velocidade.

“Fomos desenhados para corrermos descalços. As meias e os sapatos atuam como mordaças que se aproveitam de nossos pés e os impedem de reagir aos estímulos de acordo com sua natureza. Imagine o que aconteceria com nossas mãos se as mantivéssemos sempre dentro de luvas de boxe”, explica Enric Gómez, de 52 anos, maratonista de San Cugat del Vallés (Barcelona).

Em 2012, antes de participar da Maratona do Polo Norte — prova que exige 11.900 euros de inscrição —, Enric Gómez treinou durante meses com uma bicicleta estática no interior de câmeras frigoríficas industriais de pesca e confeitarias para se aclimatar aos 29 graus abaixo de zero que encontrou na corrida.

Partidário do “descalcismo” e do “minimalismo” — usa apenas sandálias huaraches, um tipo de sandália mexicana, similares às dos índios mexicanos tarahumaras, nas competições de montanha —, corre descalço há quatro anos e afirma que, depois de uma lenta e cuidadosa adaptação, livrou-se das lesões e das fraturas.

“Os pés ficaram mais largos e a pele e o amortecedor do metatarso ficaram mais grossos”.

Lembra que, no começo, treinava à noite porque tinha vergonha de ser visto correndo descalço. Em 1960, o grande Abebe Bikila ganhou descalço a maratona olímpica de Roma, mas é apenas agora que a indústria coloca à venda sapatos “luvas para os pés”, inspiradas no lema “corra descalço”.

A hegemonia dos atletas africanos baseia-se, pelo visto, na genética de populações secularmente isoladas e acostumadas a correr vários quilômetros com frequência, assim como as vantagens que tiram da vida na altitude.

Martín Fiz acrescenta a essas razões a necessidade de sair da pobreza e a assimilação de valores como o esforço, a austeridade, a humildade e a capacidade de sofrer.

“Acredito que, se um dia os espanhóis pudessem competir com os quenianos, seria porque compartilhamos de algumas dessas qualidades. Meus pais deixaram seu povoado em Salamanca para ganhar a vida em Álava; Abel Antón é de um povoado de Soria, o mesmo de Fermín Cacho. Desde pequeno, eu sempre soube que meu nível de resistência ao sofrimento era alto e que me testaria em provas agônicas”.

Aos 53 anos, o atleta vitoriano ainda se anima com o “odor dos nervos” que os maratonistas emitem nos instantes que antecedem a corrida.

A verdadeira maratona começa para ele a partir dos primeiros 30 quilômetros, quando chega “o momento da verdade” e precisa enfrentar o “muro”, no limite do sofrimento humanamente razoável.

“Eu sou forte nesses momentos. Repito para mim mesmo que nasci para isto, concentro-me e apenas escuto, em um murmúrio, os gritos de ‘Fiz, Fiz!’, ‘Vamos, Martín!’. Eu me imagino erguendo os braços, subindo ao pódio; penso em meu pai, que se sacrificou para que eu tivesse meus primeiros tênis de corrida”.

Não existe uma fórmula.

Para disputar a maratona, esse “Everest urbano”, todo corredor tem de conceber sua estratégia de sobrevivência mental e aferrar-se à ideia de que os limites não são inamovíveis.

Em Nascido para Correr (Editora Globo), a famosa obra de Christopher McDougall, se diz que um homem de 95 anos fez 40 quilômetros de montanha porque “ninguém nunca tinha dito que ele não poderia fazê-lo”; ninguém lhe havia dito que seu negócio era definhar moribundo num lar de idosos.

Haruki Murakami recolhe em seu livro Do que Eu Falo Quando Eu Falo de Corrida (Alfaguara Brasil) o mantra que um maratonista recitava desde o quilômetro 1: “A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional, depende de cada um”.

Na mesma obra, o escritor japonês fala da experiência metafísica que experimentou durante uma longa corrida.

“Tive de lançar mão de todo o meu repertório de recursos: não sou humano, sou uma máquina e não tenho que sentir nada. Repeti essa frase até o momento mágico (...). Ao chegar ao quilômetro 75, senti como se meu corpo tivesse atravessado uma parede de pedra e passado para o outro lado”.

A partir daí o cansaço deixou de ser um problema.

Durante o restante da prova, “correu como o vento” e ultrapassou 200 corredores.

“Se há um adversário que você deve vencer na sua corrida de longa distância, é você”.

Nos momentos em que se trata de enganar o corpo e combater seus pedidos para cessar o suplício, há corredores que recitam orações curtas e mantras de autoajuda:

“Confie em você”, “Você não está sozinho”; que revivem cenas alegres; que se reveem na criança que acreditam ter sido; que pensam no filho, que os espera na chegada; na mãe, na namorada, na festa, nos propósitos-álibis que os empurram:

“Corro contra a espinha bífida”, “a violência de género”, “o câncer de mama”, “pelas pesquisas sobre leucemia infantil”, “pela independência do meu país”, “a favor dos animais”...

Poucos reconhecem que sofrem da síndrome de Peter Pan e que, pela mesma razão que romperam com a mulher ou o marido, correm para se libertar do peso dos anos e voltar a se sentir jovens.

Outros ocupam assim seu tempo de deslocamentos forçados e se desafogam.

Existe de tudo, também frivolidade e extravagância crescentes nas pseudocorridas temáticas — do garrafão, da batalha campal, da lama —, em nítido contraste com projetos em que a humildade acompanha a qualidade e a solidariedade.

“Uma das melhores corridas é a Hardrock 100. Não há pódio, todos os que terminam são chamados e aplaudidos de forma igual, e tampouco há diferença na inscrição”, diz Kilian Jornet.

Em sua opinião, o esporte é uma manifestação extrema de um mundo muito hierarquizado.

Martín Fiz vê com apreensão o avanço do verão.

Depois de ter corrido 300.000 quilômetros, a vida útil de um bom automóvel, tem desconfortos em um gêmeo e precisa se recuperar totalmente para o seu próximo desafio, no dia 25 de setembro em Berlim.

Quando se aposentou da elite profissional, Fiz definiu o objetivo de ganhar as seis principais maratonas do mundo na categoria de corredores com mais de 50 anos.

Já o fez em Nova York, Tóquio e Boston.

Faltam Berlim, Londres e Chicago.

Não pode parar.

O que faria se não pudesse continuar correndo, pergunto.

“Eu me sentiria como se estivesse condenado a uma cadeira de rodas. Acho que poderia fazer mais coisas, mas não sei, precisaria de algo muito grande para continuar vivendo”, diz Martín Fiz.

A resposta de Kilian Jornet à mesma questão não difere muito:

“É possível deixar de amar algo que você ama desde sempre? É possível deixar de amar sua mãe? Exceto por um acidente, parar é impossível para mim”.

Cabe perguntar se existe outro amor ou hormônio, o da paixão — talvez? —, capaz de por fim a essa dependência vital e à mensagem subjacente de que parar é morrer.

A incorporação das mulheres ao esporte ao ar livre é um elemento determinante na eclosão global do fenômeno.

Nas curtas e médias distâncias elas já são a metade do pelotão.

Sua progressão nas maratonas, ultramaratonas, provas de trail running (corridas de montanha) e triatlos Ironman é meteórica, ao ponto de a maratona de Chicago ter uma participação feminina de 50%.

As mulheres bem preparadas tendem a alcançar e superar os homens nas corridas mais longas.

De fato, na Leadville Trail 100 Run do Colorado (160 quilômetros) a porcentagem das que terminam a prova é muito superior à deles.

Como se explica essa alta competitividade física feminina nas ultramaratonas?

Os fisiologistas argumentam que o glicogênio do corpo, associado coloquialmente pelo seu desempenho com a gasolina aditivada, acaba em torno do quilômetro 30 — o fatídico trecho do muro —, e tem de ser substituído por gordura, componente diesel que as mulheres têm com maior disponibilidade.

A jornalista Cristina Mitre, fundadora do movimento Mulheres que Correm, começou para perder peso, mas encontrou nessa atividade uma proveitosa paixão cheia de sentido.

“Correr me torna poderosa. É como o wasabi no sushi: se você o prova, já não pode passar sem ele”.

Diz que a corrida alivia muitos sintomas da menopausa e da menstruação e liberta forças interiores femininas desconhecidas.

“Cada corrida é uma festa da vitalidade, uma celebração da vida”, diz essa mulher entusiasta que superou um câncer de ovário e hoje se sente “muito melhor equipada” para fazer frente a qualquer doença.

Felicidade, liberdade e plenitude de vida são os maiores estandartes deste fenômeno que gera afinidades e reúne no mesmo esforço banqueiros e desempregados, jovens e idosos, atletas de elite e iniciantes.

“Corro para me sentir livre, saudável e em paz comigo mesmo. É uma obsessão positiva que me ajuda a melhorar”, comenta das Montanhas Rochosas do Colorado (EUA) o empresário e economista Javier Arroyo, de 44 anos, pai de dois filhos. Além de resolver o problema do excesso de peso — passou de 110 quilos para 79 —, Juan Rubio, de 45 anos, com dois filhos, diretor de uma agência de publicidade, encontrou na corrida uma fôrma para construir uma vida que declara marcada pela felicidade.

“Ser maratonista é parte da minha maneira de ser, porque gosto de construir pouco a pouco, como se trabalha durante os quatro meses de treinamento para uma maratona”.

Para Francesc Torralba, a palavra-chave é libertação.

“Correr é refrescante, te liberta do estresse e das emoções tóxicos e te reconcilia com a natureza. É uma maneira de escapar e procurar um abrigo, e também é um laboratório pessoal, em que fluem ideias e pensamentos. Encontro um vínculo espiritual na medida em que permite a meditação e a oração”, afirma o filósofo catalão de 49 anos, pai de cinco filhos.

“Correr ensina a se disciplinar e a enfrentar as dificuldades, além de aumentar a capacidade de sofrimento e de resistência ao estresse”, destaca David Pérez Renovales, de 50 anos, pai de dois filhos, diretor da Línea Directa.

Assim como seu irmão Jaime, secretário do conselho de administração do Banco Santander, David faz parte do Círculo Empresarial Maratonista, que reúne dezenas de capitães de empresas.

Como muitos outros, os irmãos Pérez Renovales sempre viajam com os tênis na mala.

“Não há forma mais bonita de conhecer uma cidade que quando se acorda”, dizem.

De dia ou de noite, no asfalto ou na terra, tap-tap-tap-tap, os passos dos corredores ressoam em meio mundo como um sinal dos tempos.