Imagem: Autor Desconhecido
Os vereadores Renato Cinco e
Tarciso Motta, apresentaram projeto de lei que propõe o reconhecimento do
estádio de São Januário como “de interesse histórico, cultural, desportivo e
social para o Município...
Os vereadores solicitaram ao
jornalista Juca Kfouri sua colaboração na justificativa do projeto.
Abaixo o texto escrito por Juca
Kfouri...
O Estádio de São Januário,
inaugurado em 1927, é patrimônio histórico da cidade do Rio de Janeiro e um dos
mais emblemáticos templos do futebol mundial.
De notável arquitetura neocolonial,
palco de alguns dos mais importantes eventos esportivos, culturais e políticos
do país durante o século XX, a casa do Club de Regatas Vasco da Gama é também
um símbolo da luta contra o racismo no esporte e até hoje um exemplo de espaço
popular de lazer no subúrbio carioca.
Sua construção remonta à
perseguição que o Vasco da Gama sofreu após ser campeão carioca no ano de 1923
com uma equipe formada por atletas negros, mestiços e de origem humilde.
Na ocasião, o time bateu, logo em
seu primeiro ano na primeira divisão, os clubes grandes da época, então
formados por jovens de famílias ricas da cidade.
Para mascarar inconfessáveis
ânimos racistas e elitistas, dirigentes que defendiam a exclusão imposta ao
Vasco do campeonato alegaram para tanto, entre outras coisas, a falta de um
estádio próprio.
Foi o que motivou uma histórica
campanha de arrecadação que movimentou a capital federal e envolveu milhares de
associados e torcedores.
Em tempo recorde, ao pé de uma
colina no bairro de São Cristóvão, os vascaínos ergueram aquele que durante
alguns anos foi o maior estádio de futebol das Américas – e que, para sempre,
ficou como um monumento contra o preconceito e pela igualdade racial no país.
A partir de então, até a
construção do Maracanã, em 1950, São Januário foi o principal estádio do Rio de
Janeiro e testemunhou momentos marcantes do nosso esporte.
Além de receber jogos de grandes
times brasileiros e estrangeiros, foi casa da Seleção Brasileira, que se sagrou
ali campeã da Copa Roca de 1945, das Copas Rio Branco de 1947 e 1950, e do
Campeonato Sul Americano (a atual Copa América) de 1949, vencido com seis
jogadores vascaínos atuando como titulares na maior parte do torneio.
Em 1998, o Vasco da Gama fez em
São Januário uma das partidas finais da Libertadores da América, principal
competição de clubes do continente.
Em 2007, o atacante Romário
marcou ali seu milésimo gol no futebol.
Vários grandes jogadores que
defenderam o Brasil em Copas do Mundo foram formados ou se consagraram em São
Januário.
Além do próprio Romário, nomes
como Fausto, Leônidas da Silva, Russinho, Domingos da Guia, Barbosa, Augusto,
Danilo Alvim, Ademir de Menezes, Chico, Heleno de Freitas, Maneca, Jair da Rosa
Pinto, Friaça, Pinga, Vavá, Bellini, Orlando Peçanha, Roberto Dinamite,
Mazinho, Bebeto, Edmundo, Mauro Galvão e Juninho Pernambucano, entre muitos
outros, tiveram por lá momentos fundamentais de suas carreiras.
Nomes lendários que nunca tiveram
a oportunidade de jogar um mundial pela seleção – caso de Jaguaré, Sabará,
Walter Marciano, Ipojucã ou Dener, por exemplo – também escreveram sua história
em São Januário.
Ídolos de nosso atletismo
olímpico como Adhemar Ferreira da Silva adotaram o estádio como espaço de
treinamento.
Até hoje o Vasco da Gama se
notabiliza como clube revelador de grandes jogadores, mantendo nas dependências
de São Januário um alojamento e um colégio para a formação dos adolescentes que
vêm de diversos lugares do país e encontram no futebol uma oportunidade.
São Januário também testemunhou
importantes momentos de nossa história política e cultural.
Nas décadas de 30 e 40, o
presidente Getúlio Vargas costumava arrastar multidões para seus comícios no
estádio.
Em um deles, no dia 1º de maio de
1940, anunciou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), as primeiras leis
trabalhistas do Brasil.
Naquele mesmo ano, a “Colina
Histórica” – como também é conhecido o estádio – foi o palco da apresentação de
um coral composto por mais de 40 mil estudantes e regido pelo maestro Heitor
Villa-Lobos.
Cinco anos mais tarde, durante o
processo de redemocratização do país, Luis Carlos Prestes reuniu mais de 100
mil pessoas em um comício que foi fundamental para trazer o Partido Comunista
de volta à legalidade.
Também em 1945, o estádio recebeu
o desfile das escolas de samba, vencido naquele ano pela Portela.
Percebe-se, portanto, a grande
importância histórica, cultural, desportiva e social do Estádio de São Januário
para o município do Rio de Janeiro.
Localizado na zona norte, em uma
região que reúne espaços como a Feira de São Cristóvão, a Quinta da Boa Vista,
o CADEG, a quadra da Estação Primeira de Mangueira e o Maracanã, São Januário
possui até hoje grande centralidade na vida esportiva e cultural da cidade,
sendo um dos principais destinos de lazer de cariocas de diferentes classes
sociais.
Ao aprovar essa lei, a Câmara
Municipal de Vereadores fará um justo reconhecimento e zelará pelo patrimônio
do Rio de Janeiro.