*Por Ubiratan Leal
A Fifa ameaça desfiliar a RFEF (Real Federação Espanhola de Futebol) pelo motivo de sempre: suposta interferência do governo na entidade.
Na Espanha, as federações esportivas alinharam os mandatos de seus presidentes ao ciclo olímpico.
Assim, os dirigentes ficam quatro anos no cargo e saem (ou são reeleitos) nos anos olímpicos.
Ou seja, 2008 é ano de mudanças em quase todas as federações da Espanha (só as de esportes de inverno escapam, pois o ciclo olímpico é diferente).
Em fevereiro de 2007, o governo espanhol anunciou que, no ano seguinte, as federações esportivas que não teriam atletas nos Jogos Olímpicos de Pequim deveriam convocar eleições em janeiro.
Com justificativas plausíveis, o prazo poderia ser esticado até março.
Quem levar representantes à China deve ter eleição no mês seguinte aos Jogos, setembro.
O objetivo da medida é facilitar os processos eleitorais e dar mais transparência ao processo.
A RFEF não enviará atletas a Pequim.
Assim, preferiu pedir ajuda de Blatter ao invés de antecipar suas eleições.
A entidade alegou que era uma tentativa do governo espanhol de interferir na autonomia do futebol.
A Fifa, claro, comprou a briga e disse que os times espanhóis poderiam ser excluídos de Liga dos Campeões, Copa Uefa e Eurocopa.
Blatter, nada modesto, chegou a afirmar "a Fifa é mais poderosa que a ONU, pois tem mais membros e suas decisões são executadas sem que precisem passar por trâmites burocráticos".
O interessante é a reação do governo espanhol. Entendendo que a Fifa nada fará com um país importante como a Espanha, Jaime Lissavetzky (secretário dos esportes) bateu o pé.
O governo é autônomo para questões internas como essa e não aceita a pressão internacional.
A antecipação das eleições nas federações é uma medida que visa aumentar a transparência e facilitar o processo eleitoral.
No país, o sistema eleitoral de todas as federações esportivas segue uma série de padrões determinados pelo Estado (um deles, inclusive, prevê que atletas também votem).
A tal antecipação para janeiro de 2008 é apenas um dos 52 artigos do documento de 33 páginas.
Lissavetzky explica o motivo de o poder público querer controlar isso: "Como a federação é uma entidade privada se recebe dinheiro das loterias e fez 141campos de gramado artificial com ele?
As federações são de caráter privado, mas têm competências delegadas pelo poder público.
E, para receber subvenção pública, é preciso respeitar uma série de requisitos."
Isso é levar política de esportes de alto rendimento a sério.
Enquanto, em um país, a administração pública gerencia o esporte e evita abusos, em outro, é costume realizar alianças obscuras sempre pensando numa troca defavores.
Aí dá para entender a diferença do legado social que a cidade de Barcelona teve após os Jogos Olímpicos e o legado do Rio de Janeiro pós-Pan.
E ainda temos uma Copa pela frente...
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