Ao longo do tempo consegui superar as amarras dos grilhões da paixão e do sectarismo, então, passei a me divertir muito mais vendo futebol...
E hoje, foi muito divertido colher nos jornais americanos e espanhóis, as manchetes publicadas a respeito da vitória dos Estados Unidos sobre a Espanha 2x0 nas semifinais da Copa das Confederações.
Num país onde as estatísticas são levadas em alta conta, a imprensa americana fez questão de ressaltar a vitória sobre os líderes do ranking mundial, mas realistas, os jornais americanos fizeram questão dar ênfase a surpresa que a vitória de seu selecionado causou a todos...
Sports Illustrated: “Os Estados Unidos, deixam a Espanha em estado de choque”.
The Washington Post: “Espanha perde e fica em estado de choque”.
US Today: “Estados Unidos deixa a Espanha aturdida, após a vitória por 2x0 na Copa das Confederações”.
The New York Times e Los Angeles Times: “Estados Unidos aturde a Espanha”.
El Nuevo Herald: “Contra todos os prognósticos, os Estados Unidos vencem a Espanha”.
No silencio do meu quarto e cá com meus botões, costumo “agradecer” o fato dos Yankees nunca terem tido muito carinho e respeito pelo esporte criado e organizado por seus colonizadores.
Por sorte, o futebol sempre foi o esporte dos imigrantes e nunca o esporte das massas...
Poucas pessoas no Brasil sabem que o futebol já teve seus “anos dourados” na terra do Tio Sam, mas faz muito tempo e como história nunca foi o forte da grande maioria, esse período passou em branco.
A American Soccer League foi à primeira tentativa séria de se criar nos Estados Unidos um liga profissional de futebol.
Em 1920 a ASL surgiu amparada na expectativa de que a “paixão” dos imigrantes pelo esporte poderia ser o ponto de partida para a “contaminação” da América pelo “vírus” do futebol.
Surgiram então as equipes que tentariam angariar adeptos, Fall River United, Bethlehem Steel, Fall River Marksmen, New York Giants (um apêndice do time de basebol), Boston Wonder Workers e muitos outros, que ligados a grupos de imigrantes acalentavam o sonho de “fazer a América”.
O sonho durou até 1933, restrito a região noroeste dos Estados Unidos, particularmente nos Estados da Filadélfia, Nova Jersey e a área de Nova York, o futebol não conseguiu conquistar as mentes e os corações dos anglo-saxões, dos negros e da imensa gama de raças e etnias que habitam o gigante do norte.
De lá para cá, muitas outras tentativas foram feitas, mas todas fracassaram...
Os americanos não compreendem um esporte que aceite um jogo sem vencedor, não conseguem admitir um jogo com placares tão diminutos e ficam entediados com o excesso de paralisações provocados por qualquer contato físico um pouco mais rude...
Esse foi um dos motivos que fizeram os Yankees considerarem o futebol como um esporte para “as Sissi” (coisa de menina)...
Se olharmos pela ótica deles, veremos que o futebol, se comparado ao American Football, ao Hockey, ao Basquete e ao Boxe, deixa muito a desejar em termos de combatividade: “os americanos vão aos estádios ver lutas, duelos, guerreiros e combatentes, para eles o espetáculo tem que ter algo mais que suor, drible, firula e gingado, pode e deve ter tudo isso, mas é preciso dar ao espectador a sensação que cada ponto conquistado foi “arrancado” pela gana do guerreiro, pela vontade e a determinação do combatente”.
Portanto, o esporte dos machos latinos e europeus, tornou-se lá, o esporte das meninas, das moças e das mulheres, mas levado a sério por quem o comanda e por quem o pratica, ascendeu e ganhou respeito mundo afora...
O futebol feminino passou a fazer parte dos Jogos Olímpicos de 1996 em Atlanta, de lá para cá, foram quatro edições e as americanas conquistaram três medalhas de ouro e uma de prata e se tornaram, indiscutivelmente, as “rainhas” do futebol olímpico.
Na Copa do Mundo da categoria, as “Sissi” conquistaram dois títulos e três terceiros lugares em 5 torneios até hoje realizados, suas concorrentes mais próximas, são as alemães com dois títulos e um vice-campeonato.
São para o futebol feminino o que o Brasil é para o futebol masculino.
Ironicamente, os colégios e as universidades, possuem estruturas voltadas para o futebol, capazes de causar inveja a muito clube profissional de futebol, mas o estigma de esporte “feminino” e o gosto por vencedores, pontuações elevadas e o contato físico mais rude, ainda atravanca o crescimento do futebol.
Melhor assim creio eu, pois com uma população estimada em 303.007.997 almas, composta por milhões de raças e uma política esportiva efetiva e séria, esses caras dominariam em pouco tempo o esporte dos seus colonizadores.
4 comentários:
Que aula hein Fernando. Gostei da tese levantada. É interessante saber o porquê de alguns lugares terem adotado o futebol e em outros nem tanto. Realmente, num país beligerante como é o EUA, conceber uma disputa que possa terminar no zero a zero é dar um tiro no pé da própria história.
Se trata de pré conceito e orgulho o fato dos Estados Unidos rejeitar tanto o futebol.
Acredito que por ser uma seleção muito ruim na modalidade do esporte não conseguem aceitar a deficiência.
Não concordo que o futebol é jogo de garotas e muito menos um esporte de imigrantes.
O esporte esta aberto a todos sem distinção de sexo.
Pena que as garotas conseguiram provar que são bem melhores no esporte.
O futebol é um esporte conhecidos internacionalmente e não conheço outro tão popular, mas esse pré conceito não abrange só o futebol por parte dos Americanos e sim muitos outros assuntos.
Essa é minha opinião.
A Espanha tem um excelente time, mas jogou mal contra os Estados Unidos, que tem a organização tática como ponto forte pra superar a ausência de qualidade técnica.
Valeu Fernando Amaral, ótimo artigo.
Abecedista.
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