Tenho lido muita coisa sobre o estádio João Machado, o ginásio Humberto Nesi, o centro administrativo e agora, o papódromo...
Tardia preocupação!
O Poema de Concreto foi inaugurado (?) há 37 anos, mesmo sem estar concluído, aliás, nunca foi concluído...
O ginásio Humberto Nesi foi entregue com pompa e circunstância, mas nunca recebeu o tratamento que merecia...
O centro administrativo levou anos para ser urbanizado e ainda hoje, carece de um tratamento paisagístico mais acurado...
O papódromo (nunca gostei desse apelido, mesmo não sendo religioso, sempre o considerei desrespeitoso, pois nunca consegui imaginar uma “corrida” de Papas ou desfiles pagãos engalanados com a bandeira do Vaticano), erguido para receber o líder máximo do todos os católicos, salvo engano, jamais foi integrado ao patrimônio da Santa Madre Igreja ou por ela reivindicado como lugar santo e, portanto, a salvo do abandono e da depredação.
A obra (me desculpem, nunca me pareceu voltada a meditação ou lugar de oração, sempre me pareceu ser mais um palanque) logo após a partida do Papa, virou uma espécie de anfiteatro multiuso, shows, festas e outras atividades distantes da fé católica para ali foram levadas, mas com o tempo, como tudo mais que é construído apenas com o intuito de momentaneamente promover seus construtores, acabou abandonado e com pouco ou nenhum uso...
Agora, surge de todos os cantos defensores, gente que nunca se uniu ao arquiteto Moacyr Gomes em sua luta solitária em defesa de “seu estádio”...
Agora, todos querem andar lado a lado com o odontólogo Fernando Nesi, que sempre pediu um tratamento digno para uma obra que leva o nome de seu pai e que jamais, foi tratada com o respeito que merecia...
Agora, inúmeros se travestem de fiéis e erguem suas “santas espadas” para defender o lugar que recebeu João Paulo II em sua visita a Natal...
Gente que nunca acendeu uma vela sequer no local, que jamais sentou num daqueles desconfortáveis banquinhos de cimento para compartilhar como o criador, seus pecados e suas virtudes...
Dizem alguns, que essa fé repentina está calcada na possibilidade (justa creio eu) de João Paulo II vir a ser santificado...
Para os católicos o lugar seria santo e por ser santo intocável!
Mas só agora?
Espero que meus leitores não imaginem que ao colocar tais questões, eu esteja me posicionando contra ou favor da demolição desta ou daquela obra de engenharia...
Na verdade, ainda tenho fortes dúvidas sobre a conveniência de se trazer para o Brasil e em particular para Natal o evento maior do futebol mundial...
Ainda não me sinto convencido das tão decantadas vantagens...
Os acontecimentos na África do Sul reforçam esse sentimento...
Depois, nem o Brasil e nem a África do Sul, tem governos e políticos tão apaixonados assim por seu povo como dizem ser...
Mas não vou usar o argumento de que o dinheiro investido no evento poderia ser usado para melhorar as condições de vida da população, pois já cheguei à conclusão que de nada servirá me agarrar a tal argumentação...
O povo está feliz, então por que eu deveria tirar esse sorriso de seus lábios?
Por que devo eu me insurgir contra os que esperam nas filas dos postos de saúde e nos corredores dos hospitais por um atendimento digno, mas estão sorridentes por ter sido a sua cidade escolhida como sede da Copa?
Por que devo contrariar os estudantes que freqüentam arremedos de escolas, mas estão sorridentes e orgulhosos de sua cidade ter sido escolhida como sede da Copa?
Quem sou eu para “peitar” os cidadãos que clamam por segurança, mas com um largo e escancarado sorriso por ter sido sua cidade escolhida como sede da Copa?
Em fim, não quero ser um “espírito de porco” e não tão pouco um estraga prazeres, discutindo coisas "inúteis", como saúde, educação, segurança, saneamento básico, transporte decente e outras coisinhas básicas, se o povo deseja a Copa...
A voz do povo é a voz de Deus, costumam dizer aqueles que controlam as cordinhas.
Já que o fato parece consumado, então que venha...
Só lamento que tenha sido preciso a FIFA e sua Copa, para despertar tão tardio interesse num estádio que deixaram morrer ao longo tempo, num ginásio que agoniza como símbolo do desprezo pelo esporte amador e, por um local que há muito deveria ter sido encampado pelos guardiões da fé e que essa fé, tivesse sido lá cultuada com todo o fervor e respeito.
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