Cosme Rímoli, jornalista,
escreveu sobre as reações da FIFA, leia-se Joseph Blatter, a Medida Provisória
do Futebol, enviada pelo governo ao Congresso Nacional...
Cosme em seu texto, condena,
assim como todos aqueles que pensam o futebol com seriedade, a atual forma de
gestão da CBF, das federações e dos clubes.
Porém, seu texto faz uma leitura
do aspecto legal da ação do governo e aí, infelizmente, Cosme Rímoli, joga um
balde de água fria em quem vibrou com a possibilidade da cartolagem ser
finalmente, enquadrada...
O texto de Rímoli foi publicado
no dia 21 deste mês em seu blog no R7.
Ontem, Paulo Calçade, no jornal “O
Estado de São Paulo”, fala sobre o assunto...
No entanto, o texto de Calçade,
analisa a ação da presidente Dilma, através da Medida Provisória do Futebol,
sob a ótica do efeito moral.
Decidi publicar os dois...
Não são textos curtos, mas são
absolutamente necessários para quem pretende entender o que está em jogo e
tomar uma posição.
Para não tornar cansativa a
leitura, apesar de entender que ler não cansa, instrui, dividi em duas
partes...
Na primeira, o texto de Cosme
Rímoli, na segunda, o de Paulo Calçade.
Blatter acaba com a fantasia.
Desmoraliza a populista proposta
de Dilma.
Governo não pode limitar os
mandatos na CBF e nas Federações.
Apenas parcelará, como mãe, R$ 4
bilhões dos cofres públicos a irresponsáveis…
Por Cosme Rímoli
Como era previsto, José Maria
Marin e Marco Polo del Nero não iriam abrir mão assim tão fácil do poder.
Na medida provisória que
facilita, como uma mãe, o parcelamento de R$ 4 bilhões aos irresponsáveis e
corruptos dirigentes dos clubes brasileiros, foi divulgada a falsa esperança.
A de evitar que os mandatos dos
presidentes da CBF continuassem a ser, na prática, capitanias hereditárias.
Com os dirigentes permanecendo no
cargo quanto tempo quisessem.
Ou até que, como no caso de
Ricardo Teixeira, a Polícia Federal e as denúncias de corrupção o obrigasse a
renunciar.
O desejo era que a limitação de
quatro anos para os dirigentes da CBF e das federações de futebol dos estados
brasileiros.
Com a possibilidade de apenas uma
reeleição.
Mas Marin e Marco Polo se
revoltaram.
Como assim?
Oito anos é pouco demais.
João Havelange, por exemplo, fez
o que quis com o futebol brasileiro de 1956 a 1974.
Foram 18 anos.
Seu ex-genro, Ricardo Teixeira,
foi além.
Ficou 23 anos no poder, de 1989 a
2012.
Os mandatários de federações
espalhadas pelo país, e que elegem o presidente da CBF, também não querem
qualquer limitação de tempo.
Querem mandar enquanto tiverem
energia.
Como Zeca Xaud.
Ele é o digníssimo presidente da
Federação de Roraima.
Quanto tempo está no cargo?
41 anos.
Qualquer ditador de uma republiqueta
de bananas teria inveja.
Reeleições ilimitadas...
Diante da tentativa de o governo
brasileiro tentar restringir o tempo de comando destas pessoas, surgiu ninguém
menos do que Joseph Blatter.
O presidente da Fifa. A entidade
que comanda o futebol no mundo e que organizou, com todo o carinho, a Copa do
Mundo neste país.
E levou como lucro, 4,8 bilhões
(cerca de R$ 15,6 bilhões).
Esse dinheiro foi publicado no
seu balanço do ano passado.
Muito grato à acolhida, Blatter
soube da determinação de Dilma de restringir o mandato de Marco Polo, que
assume em abril.
O dirigente aproveitou
jornalistas brasileiros na Suíça, no anúncio da Copa de 2022, para mandar um
aviso.
Não tolerará a influência
governamental na CBF.
A entidade é particular e só deve
seguir determinações da Fifa.
E não da presidente da República
ou de quem quer que seja.
O aviso é para valer.
Com ameaça de desfiliação.
O irônico é que esta atitude da
Fifa, de não aceitar intervenções, sempre valeu para governos tiranos dispostos
a intervir no futebol para se beneficiar de sua popularidade.
Não para limitar mandatos.
O estatuto da Fifa cai como uma
luva.
Advogados renomados garantem que
Marco Polo pode ficar tranquilo.
Mesmo se a MP for aprovada, esse
item não terá validade na prática.
Mas, pelo sim e pelo não, os
presidentes da CBF trataram de se precaver. Marin, o atual, e Marco Polo, o
futuro, entraram em contato com a bancada da bola.
Deputados e senadores ligados à
CBF já se preparam suas emendas.
O principal alvo será a limitação
do tempo dos dirigentes da CBF e das Federações.
Advogados insistem ser infantil a
tentativa do governo burlar o imposto pela Fifa.
E obrigar os clubes que quiserem
dinheiro a só disputar torneios cujos presidentes da entidade fiquem no máximo
oito anos.
Se a Fifa der respaldo para a
CBF, só restaria aos clubes disputarem uma liga pirata.
Sem legalidade.
Vencê-la não garantiria a equipe
em torneio algum com a tutela da Fifa, como Libertadores, Sul-Americana.
O campeão não seria reconhecido.
Simples assim.
A medida provisória de Dilma,
infelizmente, como foi escrita no blog é populista e fantasiosa.
A CBF e a Fifa têm recursos
legais para proteger seus dirigentes.
Há um caso exemplar.
A Nigéria.
Após a eliminação nas oitavas de
final contra a França, em Brasília, o presidente do país, Goodluck Jonathan,
pediu a prisão da autoridade máxima da federação de futebol nigeriana, Aminu
Maigari, e destituiu os outros dirigentes dos cargos.
A confusão aconteceu depois da
classificação da Nigéria para as oitavas da Copa do Mundo.
Os jogadores não receberam a
premiação prometida.
E resolveram entrar em greve.
Só voltaram aos treinos depois
que o dinheiro chegou, em espécie, a cada um.
Foi um escândalo nacional.
Daí a punição aos dirigentes
depois da eliminação na competição.
Blatter não aceitou a
intervenção.
E suspendeu o país de todas as
competições oficiais da Fifa.
Desde a base até o futebol
feminino.
O impasse durou 12 dias.
O autoritário presidente Jonathan
teve de recuar.
Os dirigentes voltaram aos seus
cargos.
E a Nigéria voltou a disputar
torneios internacionais.
O apoio da Fifa é para valer.
Há perfeito entrosamento entre
Blatter, Marco Polo e Marin.
O dirigente da entidade com sede
na Suíça está muito feliz.
O balanço com a Copa do Mundo por
aqui, onde a Fifa fez o que quis, é recordista.
Nunca uma competição rendeu
tanto.
Com o líquido alegado, R$ 8,4
bilhões, seria suficiente para a construção das 12 novas arenas onde o torneio
aconteceu.
Além disso, no mesmo dia em que
Dilma anunciou a medida, Marco Polo del Nero formalizou o apoio a Blatter para
mais uma reeleição, em maio.
Ele já controla a Fifa desde
1998.
Está há 17 anos no poder.
Não poderia ficar a favor de uma
medida que restringisse o mandato do seu parceiro brasileiro por apenas oito
anos.
Só que não é a apenas Marco Polo
que não aceita ver a duração de seu mandato controlado.
Os presidentes das federações
também não.
Já acionaram os deputados e
senadores que representam seus estados.
Será uma ação conjunta para
emendas que impeçam que a aprovação deste item.
Os dirigentes estão furiosos com
Dilma.
Foram marcantes as declarações do
presidente da Federação Catarinense de Futebol, Delfim Peixoto, ao site da
ESPN.
Resumem o quanto os dirigentes
estão prontos para a guerra.
"Eu só posso rir. É uma intervenção. Não pode. Pediu o
parcelamento, tem de pagar, só isso. Mas não é por causa disso que tem de se
submeter a vontades do governo, ou de qualquer poder. Eles vão fazer isso para
as grandes empresas? "O Bom Senso não tem nada de Bom Senso. No dinheiro
deles, não quer que mexa. A Dilma quer fazer média no futebol. Ela está por
baixo. Ela que cuide dos escândalos do governo dela. Ela que cuide da
roubalheira dos tempos de Lula, do tempo dela. Ela tinha que se preocupar com
isso."
O desrespeito à presidente mostra
que Delfim sabe.
A medida provisória anunciada com
toda a pompa foi fantasiosa.
E de forma crua mostra o que
todos, menos Dilma sabia.
A Fifa protege a CBF.
A CBF protege as Federações.
E os deputados e senadores da
Bancada da Bola vão humilhar as boas intenções.
E tem mais.
Os dirigentes dos clubes não
aceitam a restrição de gastos de apenas 70% de suas receitas.
Muito menos a obrigatoriedade de
formar equipes femininas.
Alegam que isso é intervenção
estatal.
E já acionaram também Marco Polo
e a Bancada da Bola.
Vale lembrar que o Fair Play
financeiro também está ameaçado.
O que é lindo na teoria, na
prática pode se perder.
Para que o clube seja punido por
calote em seus jogadores precisa ser acusado publicamente.
O atleta que ousasse comprometer
uma equipe, por exemplo, causando seu rebaixamento, acabaria queimado.
Marginalizado diante das outras.
Fora que os clubes não aceitam
essas punições esportivas que o governo quer implementar, como perder pontos e
ser rebaixados por causa do calote.
Alegam outra vez intervenção em
empresas privadas.
Na prática há enorme chance de
que todo Carnaval tenha sido à toa.
E tudo não passe de R$ 4 bilhões
de dinheiro público que premia a irresponsabilidade, e até corrupção, de
dirigentes que brincaram com o patrimônio de seus clubes.
Será o governo repetindo o que
fez com a Timemania, por exemplo.
Era uma loteria fracassada que
foi criada para ajudar os clubes com suas dívidas.
O que deveria fazer, o governo
não cogita.
Parar de ajudar e cobrar
judicialmente como tem todo o direito.
E cansa de fazer com empresas
normais deste país.
Se um clube tiver de falir, que
feche.
Como aconteceu com os populares
Rangers da Escócia e Fiorentina, da Itália.
O Parma está no mesmo caminho.
É preciso acabar com essa proteção,
esses prêmios à incompetência dos dirigentes de clubes.
O Sonho de Verão está para tornar
nada mais do que uma medida populista.
Um governo mergulhado em profunda
crise tentando usar o futebol para melhorar sua imagem. Iludir a opinião
pública.
"A Dilma está por baixo. Ela que cuide dos escândalos do governo
dela. Ela que cuide da roubalheira dos tempos de Lula, do tempo dela",
foram as palavras de Delfim Peixoto.
Mal assessorada e com propostas
para ganhar manchete, porém facilmente anuladas legalmente, a presidente não
tem ideia das pessoas com quem resolveu mexer.
São muito mais articuladas e
espertas do que sua base aliada...
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