terça-feira, março 24, 2015

Dilma Rousseff x Cartolagem - Parte 1...



Cosme Rímoli, jornalista, escreveu sobre as reações da FIFA, leia-se Joseph Blatter, a Medida Provisória do Futebol, enviada pelo governo ao Congresso Nacional...

Cosme em seu texto, condena, assim como todos aqueles que pensam o futebol com seriedade, a atual forma de gestão da CBF, das federações e dos clubes.

Porém, seu texto faz uma leitura do aspecto legal da ação do governo e aí, infelizmente, Cosme Rímoli, joga um balde de água fria em quem vibrou com a possibilidade da cartolagem ser finalmente, enquadrada...

O texto de Rímoli foi publicado no dia 21 deste mês em seu blog no R7.

Ontem, Paulo Calçade, no jornal “O Estado de São Paulo”, fala sobre o assunto...

No entanto, o texto de Calçade, analisa a ação da presidente Dilma, através da Medida Provisória do Futebol, sob a ótica do efeito moral.

Decidi publicar os dois...

Não são textos curtos, mas são absolutamente necessários para quem pretende entender o que está em jogo e tomar uma posição.

Para não tornar cansativa a leitura, apesar de entender que ler não cansa, instrui, dividi em duas partes...

Na primeira, o texto de Cosme Rímoli, na segunda, o de Paulo Calçade.

Blatter acaba com a fantasia. 

Desmoraliza a populista proposta de Dilma. 

Governo não pode limitar os mandatos na CBF e nas Federações. 

Apenas parcelará, como mãe, R$ 4 bilhões dos cofres públicos a irresponsáveis…

Por Cosme Rímoli

Como era previsto, José Maria Marin e Marco Polo del Nero não iriam abrir mão assim tão fácil do poder. 

Na medida provisória que facilita, como uma mãe, o parcelamento de R$ 4 bilhões aos irresponsáveis e corruptos dirigentes dos clubes brasileiros, foi divulgada a falsa esperança.

A de evitar que os mandatos dos presidentes da CBF continuassem a ser, na prática, capitanias hereditárias. 

Com os dirigentes permanecendo no cargo quanto tempo quisessem. 

Ou até que, como no caso de Ricardo Teixeira, a Polícia Federal e as denúncias de corrupção o obrigasse a renunciar.

O desejo era que a limitação de quatro anos para os dirigentes da CBF e das federações de futebol dos estados brasileiros. 

Com a possibilidade de apenas uma reeleição.

Mas Marin e Marco Polo se revoltaram. 

Como assim? 

Oito anos é pouco demais. 

João Havelange, por exemplo, fez o que quis com o futebol brasileiro de 1956 a 1974. 

Foram 18 anos. 

Seu ex-genro, Ricardo Teixeira, foi além. 

Ficou 23 anos no poder, de 1989 a 2012.

Os mandatários de federações espalhadas pelo país, e que elegem o presidente da CBF, também não querem qualquer limitação de tempo. 

Querem mandar enquanto tiverem energia. 

Como Zeca Xaud. 

Ele é o digníssimo presidente da Federação de Roraima. 

Quanto tempo está no cargo? 

41 anos.

Qualquer ditador de uma republiqueta de bananas teria inveja. 

Reeleições ilimitadas...

Diante da tentativa de o governo brasileiro tentar restringir o tempo de comando destas pessoas, surgiu ninguém menos do que Joseph Blatter. 

O presidente da Fifa. A entidade que comanda o futebol no mundo e que organizou, com todo o carinho, a Copa do Mundo neste país. 

E levou como lucro, 4,8 bilhões (cerca de R$ 15,6 bilhões). 

Esse dinheiro foi publicado no seu balanço do ano passado.

Muito grato à acolhida, Blatter soube da determinação de Dilma de restringir o mandato de Marco Polo, que assume em abril. 

O dirigente aproveitou jornalistas brasileiros na Suíça, no anúncio da Copa de 2022, para mandar um aviso. 

Não tolerará a influência governamental na CBF. 

A entidade é particular e só deve seguir determinações da Fifa. 

E não da presidente da República ou de quem quer que seja.

O aviso é para valer. 

Com ameaça de desfiliação. 

O irônico é que esta atitude da Fifa, de não aceitar intervenções, sempre valeu para governos tiranos dispostos a intervir no futebol para se beneficiar de sua popularidade. 

Não para limitar mandatos.

O estatuto da Fifa cai como uma luva. 

Advogados renomados garantem que Marco Polo pode ficar tranquilo. 

Mesmo se a MP for aprovada, esse item não terá validade na prática. 

Mas, pelo sim e pelo não, os presidentes da CBF trataram de se precaver. Marin, o atual, e Marco Polo, o futuro, entraram em contato com a bancada da bola. 

Deputados e senadores ligados à CBF já se preparam suas emendas.

O principal alvo será a limitação do tempo dos dirigentes da CBF e das Federações. 

Advogados insistem ser infantil a tentativa do governo burlar o imposto pela Fifa. 

E obrigar os clubes que quiserem dinheiro a só disputar torneios cujos presidentes da entidade fiquem no máximo oito anos.

Se a Fifa der respaldo para a CBF, só restaria aos clubes disputarem uma liga pirata. 

Sem legalidade. 

Vencê-la não garantiria a equipe em torneio algum com a tutela da Fifa, como Libertadores, Sul-Americana. 

O campeão não seria reconhecido. 

Simples assim.

A medida provisória de Dilma, infelizmente, como foi escrita no blog é populista e fantasiosa. 

A CBF e a Fifa têm recursos legais para proteger seus dirigentes.

Há um caso exemplar. 

A Nigéria. 

Após a eliminação nas oitavas de final contra a França, em Brasília, o presidente do país, Goodluck Jonathan, pediu a prisão da autoridade máxima da federação de futebol nigeriana, Aminu Maigari, e destituiu os outros dirigentes dos cargos.

A confusão aconteceu depois da classificação da Nigéria para as oitavas da Copa do Mundo. 

Os jogadores não receberam a premiação prometida. 

E resolveram entrar em greve. 

Só voltaram aos treinos depois que o dinheiro chegou, em espécie, a cada um. 

Foi um escândalo nacional. 

Daí a punição aos dirigentes depois da eliminação na competição.

Blatter não aceitou a intervenção. 

E suspendeu o país de todas as competições oficiais da Fifa. 

Desde a base até o futebol feminino. 

O impasse durou 12 dias. 

O autoritário presidente Jonathan teve de recuar. 

Os dirigentes voltaram aos seus cargos. 

E a Nigéria voltou a disputar torneios internacionais.

O apoio da Fifa é para valer. 

Há perfeito entrosamento entre Blatter, Marco Polo e Marin. 

O dirigente da entidade com sede na Suíça está muito feliz. 

O balanço com a Copa do Mundo por aqui, onde a Fifa fez o que quis, é recordista. 

Nunca uma competição rendeu tanto. 

Com o líquido alegado, R$ 8,4 bilhões, seria suficiente para a construção das 12 novas arenas onde o torneio aconteceu.

Além disso, no mesmo dia em que Dilma anunciou a medida, Marco Polo del Nero formalizou o apoio a Blatter para mais uma reeleição, em maio. 

Ele já controla a Fifa desde 1998. 

Está há 17 anos no poder. 

Não poderia ficar a favor de uma medida que restringisse o mandato do seu parceiro brasileiro por apenas oito anos.

Só que não é a apenas Marco Polo que não aceita ver a duração de seu mandato controlado. 

Os presidentes das federações também não. 

Já acionaram os deputados e senadores que representam seus estados. 

Será uma ação conjunta para emendas que impeçam que a aprovação deste item. 

Os dirigentes estão furiosos com Dilma.

Foram marcantes as declarações do presidente da Federação Catarinense de Futebol, Delfim Peixoto, ao site da ESPN. 

Resumem o quanto os dirigentes estão prontos para a guerra.

"Eu só posso rir. É uma intervenção. Não pode. Pediu o parcelamento, tem de pagar, só isso. Mas não é por causa disso que tem de se submeter a vontades do governo, ou de qualquer poder. Eles vão fazer isso para as grandes empresas? "O Bom Senso não tem nada de Bom Senso. No dinheiro deles, não quer que mexa. A Dilma quer fazer média no futebol. Ela está por baixo. Ela que cuide dos escândalos do governo dela. Ela que cuide da roubalheira dos tempos de Lula, do tempo dela. Ela tinha que se preocupar com isso."

O desrespeito à presidente mostra que Delfim sabe. 

A medida provisória anunciada com toda a pompa foi fantasiosa. 

E de forma crua mostra o que todos, menos Dilma sabia. 

A Fifa protege a CBF. 

A CBF protege as Federações. 

E os deputados e senadores da Bancada da Bola vão humilhar as boas intenções.

E tem mais. 

Os dirigentes dos clubes não aceitam a restrição de gastos de apenas 70% de suas receitas.

Muito menos a obrigatoriedade de formar equipes femininas. 

Alegam que isso é intervenção estatal. 

E já acionaram também Marco Polo e a Bancada da Bola.

Vale lembrar que o Fair Play financeiro também está ameaçado. 

O que é lindo na teoria, na prática pode se perder. 

Para que o clube seja punido por calote em seus jogadores precisa ser acusado publicamente. 

O atleta que ousasse comprometer uma equipe, por exemplo, causando seu rebaixamento, acabaria queimado. 

Marginalizado diante das outras.

Fora que os clubes não aceitam essas punições esportivas que o governo quer implementar, como perder pontos e ser rebaixados por causa do calote. 

Alegam outra vez intervenção em empresas privadas.

Na prática há enorme chance de que todo Carnaval tenha sido à toa. 

E tudo não passe de R$ 4 bilhões de dinheiro público que premia a irresponsabilidade, e até corrupção, de dirigentes que brincaram com o patrimônio de seus clubes. 

Será o governo repetindo o que fez com a Timemania, por exemplo. 

Era uma loteria fracassada que foi criada para ajudar os clubes com suas dívidas.

O que deveria fazer, o governo não cogita. 

Parar de ajudar e cobrar judicialmente como tem todo o direito. 

E cansa de fazer com empresas normais deste país. 

Se um clube tiver de falir, que feche. 

Como aconteceu com os populares Rangers da Escócia e Fiorentina, da Itália. 

O Parma está no mesmo caminho. 

É preciso acabar com essa proteção, esses prêmios à incompetência dos dirigentes de clubes.

O Sonho de Verão está para tornar nada mais do que uma medida populista. 

Um governo mergulhado em profunda crise tentando usar o futebol para melhorar sua imagem. Iludir a opinião pública.

"A Dilma está por baixo. Ela que cuide dos escândalos do governo dela. Ela que cuide da roubalheira dos tempos de Lula, do tempo dela", foram as palavras de Delfim Peixoto.

Mal assessorada e com propostas para ganhar manchete, porém facilmente anuladas legalmente, a presidente não tem ideia das pessoas com quem resolveu mexer. 

São muito mais articuladas e espertas do que sua base aliada...

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