Por Mariliz Pereira Jorge, para a
Folha de São Paulo
Toda vez que leio sobre a CBF
tenho a sensação de ver um episódio de “Os Sopranos”.
A série, criada por David Chase e
produzida pela HBO, contava a história de um mafioso e seus comparsas, crimes,
corrupção, mulheres e dinheiro.
Sou uma das milhares de órfãs de
Tony Soprano, o protagonista.
Mas o mundo da CBF sempre mata um
pouco da saudade da série.
O novo presidente, Marco Polo Del
Nero, poderia bem ser um dos amigos do personagem principal.
Ou o próprio.
Tem nome de mafioso, careca de
mafioso, corpulência de mafioso, namoradas com cara de namoradas de mafioso e
comanda entidade que, teoricamente, é uma empresa idônea, mas que vira e mexe
tem que provar que é idônea.
É só jogar no Google:
CBF, escândalos, corrupção.
Impressionante.
Na sexta (15), a notícia era a
demissão de Ariberto Pereira dos Santos, ex-tesoureiro da entidade na gestão de
Don Ricardo Teixeira.
Há um ano, ele comandava o
departamento de futebol feminino.
Sinal de que seus dias estavam
contados.
Vamos combinar que é uma baita
perda de poder você, um dia, comandar a dinheirama que rola na CBF e, no dia
seguinte, ganhar de presente a direção do departamento de futebol feminino.
Nem precisa ser feminista para
saber que, para a CBF, o futebol feminino é a irmã feia da família.
Assim como os parceiros de Tony
Soprano, Ariberto parece super gente boa.
Usava o banco Rural, investigado
na época do mensalão, para fazer as operações cambiais da CBF, o que fez com
que a entidade perdesse cerca de R$ 30 milhões quando o Banco Central decretou
a intervenção do Rural.
Foi investigado pela CPI do
Futebol e acusado de operar um caixa dois –aquelas histórias de CPI que quase
nunca dão em nada.
Por fim, admitiu usar uma conta
particular para gerir recursos da CBF.
Ricardo Teixeira, o ex-presidente
que reinou no cargo durante 23 anos, está sendo acusado de ter votado no Qatar
para sediar a Copa de 2022 em troca de dinheiro, favores e garantias, segundo o
livro “Ugly Game”, lançado no mês passado pelos jornalistas ingleses Heide
Blake e Jonathan Calvert.
Os jornalistas contam que o
ex-secretário da Fifa Michel Zen Ruffinen aparece em vídeo explicando o que
cada membro da Fifa esperava em troca de seu voto.
“Teixeira é dinheiro”, disse
sobre o brasileiro.
Tony Soprano também era chegado
em qualquer negociação que envolvesse grana.
Tutti buona gente.
Mas o que eu gosto mesmo são as
fofocas em que o nome e as fotos de Don Del Nero aparecem.
Não precisa nem ler o noticiário
esportivo.
Elas estão em revistas do tipo
“Caras”, “Contigo” ou no “F5″, o site de entretenimento da Folha.
Don Del Nero ganhou dos amigos o
apelido de “Olacyr de Moraes do Futebol”.
Achei que era por causa do
salarião de R$ 200 mil, mas a história por trás do apelido é muito melhor.
O dirigente coleciona namoradas
que poderiam ser suas netas.
Currículo das moças: modelo.
Para uma deu dinheiro para que
ela desse entrada num apartamento e mexeu os pauzinhos para que fosse passista
de uma escola de samba.
Para outra, um Mercedes Benz, que
custava a bagatela de R$ 200 mil.
Mas essa tinha posado para a
revista “Sexy”, que fique bem entendido.
Essa, inclusive, já é passado.
A fila anda.
Don Del Nero troca de namorada
como Dunga troca a escalação da seleção.
Os babados da CBF são sempre
muito mais saborosos do que os da ficção.
Tony Soprano fez escola.
Ou será que foi o contrário?
Nenhum comentário:
Postar um comentário