Imagem: Phil Noble/Reuters
A tragédia de Hillsborough foi
homicídio, não acidente
As falhas da polícia resultaram em 96 vítimas em uma partida na Inglaterra em 1989
O júri exime os torcedores do
Liverpool
Pablo Guimón, Londres.
Para o El País.
A morte por pisoteamento de 96
pessoas no estádio de Hillsborough, há 27 anos, não foi um acidente.
Os torcedores do Liverpool, com
idades entre 10 e 67 anos, foram vítimas de um homicídio imprudente, atribuível
à polícia.
Essa é a conclusão a que chegou na
terça-feira, dia 26, ao meio-dia, o júri, formado por seis mulheres e três
homens, constituído há dois anos.
Familiares das vítimas se
abraçavam emocionados na porta do edifício de Warrington, no norte da
Inglaterra, onde os membros do júri se reuniam desde março de 2014 e onde,
depois das 11 horas da manhã, comunicou sua decisão.
Todos agora poderão, por fim,
virar a página do processo judicial mais longo da história legal britânica.
O júri chegou à conclusão de que
os mortos foram vítimas de homicídio, resultado da deficiente atuação policial,
antes e durante a partida.
Também concluiu que o
comportamento dos torcedores do Liverpool não causou nem contribuiu para a
tragédia.
Depois de um processo de 27 anos
por parte dos familiares das vítimas, a memória da torcida do Liverpool ficou
limpa.
Um canto espontâneo de You’ll
never walk alone, o hino do time, acompanhou as lágrimas dos familiares na
saída do julgamento.
A decisão representa o fim de um
processo doloroso.
Em 15 de abril de 1989, durante a
semifinal da Copa da Inglaterra entre o Liverpool e o Nottingham Forest,
escreveu-se a página mais trágica do futebol inglês.
As semifinais, assim como as
finais, são jogadas em uma única partida em campo neutro, e aquela foi
realizada no estádio do Hillsborough, em Sheffield.
A partida durou apenas seis
minutos, mas a torcida do Liverpool jamais os esquecerá.
Apesar de terem ido muito mais
torcedores reds, coube ao Liverpool a menor parte do estádio.
Nos gradis centrais, atrás de uma
das entradas, se amontoava de pé o dobro do público permitido.
Milhares de fãs pressionavam do
lado de fora do estádio para entrar, e tomou-se a decisão de permitir o acesso,
o que agravou ainda mais a situação.
O gradil se tornou uma armadilha
mortal.
As grades que separavam o público
do gramado impediam as pessoas de escapar.
Os movimentos no gradil fizeram a
polícia pensar que se preparava uma invasão ao campo, e foram chamados reforços
para controlar a multidão.
É preciso lembrar que o auge do
fenômeno hooligan não estava longe: só haviam se passado quatro anos da
tragédia de Heysel.
A situação já era grave, mas a
partida começou na hora.
A tensão cresceu com um chute na
trave aos 4 minutos no gol oposto.
Pouco depois, a polícia
finalmente se deu conta do que estava acontecendo e mandou parar o jogo e abrir
as pequenas portas de acesso ao gramado.
Alguns escaparam para o campo,
outros subiram nas grades.
Os feridos eram transportados nas
placas publicitárias que faziam as vezes de macas.
O balanço foi 96 mortos e quase
800 feridos.
Em dezembro de 2012, ordenou-se
uma nova investigação dos fatos, depois que o Supremo Tribunal londrino anulou
os vereditos de morte acidental expedidos 21 anos antes.
Uma investigação independente
tinha trazido novas provas que eximiam os torcedores de qualquer
responsabilidade.
Até 58 pessoas perderam o pai ou
a mãe na tragédia.
Alguns deles compareceram
diariamente às sessões de julgamento.
As famílias das vítimas emitiram
um comunicado no qual declaram que as conclusões do júri “compensam totalmente”
a longa luta por justiça.
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