terça-feira, fevereiro 07, 2017

Jogadores brasileiros... O Brasil vende muito, mas recebe pouco.

Um retrato das transferências de atletas no mundo: o Brasil vende muito e recebe pouco

O mercado brasileiro tem o maior fluxo de entradas e saídas de jogadores para o exterior, mas os clubes nacionais recebem muito menos com vendas que os europeus

Por Rodrigo Capello para a revista “Época”

Alex Teixeira, aos 18 anos, era conhecido como o jogador de R$ 100 milhões do Vasco.

Tudo porque, graças ao destaque obtido à frente da Seleção Brasileira Sub-17 naquela época, o rapaz tinha assinado com Eurico Miranda, então presidente vascaíno, em 2008, um contrato cuja multa rescisória era de R$ 100 milhões redondos.

A ilusão acabou quando, em 2010, o jogador foi vendido para o ucraniano Shakhtar Donetsk por € 6 milhões.

Dava pouco mais que R$ 15 milhões.

O sucessor de Miranda na presidência, Roberto Dinamite, precisava do dinheiro para sanar as contas do clube e topou vender por menos do que estipulava a multa em contrato.

O tempo se encarregou de punir o Vasco.

Os ucranianos venderam Teixeira para a China, no início de 2016, por € 50 milhões – a bolada, feita a conversão, soma quase R$ 220 milhões.

O Vasco foi a "vítima" da vez, mas podia ter sido qualquer outro clube brasileiro.

O futebol nacional vende muitos jogadores para o exterior, mas ganha pouco.

A Fifa publicou um novo relatório sobre as transferências de atletas em todo o mundo em 2016.

O Brasil faz jus à fama de exportador de pé de obra: 806 jogadores profissionais deixaram o país rumo a outros mercados.

Se você comparar com a quantidade de atletas que outras nações exportaram, vai ficar com a impressão de que somos grandes.

Logo depois do Brasil vêm a Inglaterra, a Espanha e a Argentina.

Nas importações, o Brasil também aparece no topo, com 678 atletas transferidos de clubes estrangeiros para nacionais.

Depois aparecem Inglaterra, Portugal e Espanha.

Numericamente temos, portanto, o maior fluxo de entradas e saídas de jogadores profissionais no planeta.

Acima de europeus, dos vizinhos latinos e da sensação, a China.

Mas não se deixe levar pela quantidade.



  
O sistema da Federação também registra os valores envolvidos nas transferências, e aí a coisa fica feia para nós.

O Brasil é o décimo maior país em investimentos, com US$ 85 milhões gastos por clubes daqui em atletas vindos de lá.

A Inglaterra gasta 16 vezes mais que o Brasil em transferências, mas, vá lá, sabemos que os ingleses têm o futebol mais rico do mundo.

Só que o mercado brasileiro também perde para o português, o russo e o belga.

Há explicações fora do controle dos cartolas que amenizam a fragilidade financeira dos nossos clubes. Uma delas é o câmbio.

Se o real vale um quarto do euro, os times nacionais vão ter quatro vezes mais dificuldade para contratar quem vem de fora.

Além disso, há territórios, como a Rússia, em que bilionários do petróleo usam o futebol como ferramenta política para bajular governos.

Só que nada disso explica o quadro sobre quanto arrecadamos com exportações.

O Brasil, apesar de ser o maior exportador de jogadores do mundo, é só o sétimo em arrecadação.

Os clubes brasileiros faturaram US$ 264 milhões em 2016 com as vendas de atletas para o exterior, 29% mais do que em 2015.

É menos da metade do que arrecadaram os espanhóis.

Também estão à frente dos brasileiros em faturamento italianos, franceses, portugueses, alemães e ingleses.

Façamos um outro cálculo para deixar mais clara a disparidade entre latinos e europeus.

Na média, cada jogador vendido pelo Brasil custou US$ 327 mil ao clube estrangeiro.

A média argentina é um pouco pior, com US$ 297 mil por atleta.

Ambas não se comparam com as da Itália, França e Espanha, países com uma média superior a US$ 1 milhão arrecadados para cada jogador vendido para o exterior.



Esse é um sintoma do futebol brasileiro que também se nota na economia.

A matéria-prima exportada em sua forma bruta tem um valor.

Aquela que recebeu algum tipo de processamento e tecnologia, um valor muito maior.

Pare para pensar.

O jogador brasileiro tem naturalmente uma desvantagem na língua: só se fala português no Brasil.

Os padrões táticos, técnicos e físicos empregados por brasileiros são visivelmente desatualizados em relação a europeus – você certamente já ouviu especialistas vaticinarem que uma revelação precisava jogar na Europa para continuar a evoluir.

Também há adaptação ao clima, à rotina, à sociedade.

É menos arriscado para um europeu contratar um brasileiro que esteja em Portugal do que um vindo direto do Brasil.

Não por acaso os portugueses têm a quinta maior exportação numérica e a quarta em valores: cada jogador sai por US$ 875 mil em média.

Em relação a esses fatores, não há desculpa: o cartola brasileiro precisa qualificar melhor o atleta brasileiro enquanto ele ainda está em casa, dentro e fora de campo, para não se sair tão mal nas vendas.

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