Imagem: Autor Desconhecido
É mais fácil culpar São Januário
Por Marcos Neves Junior, comentarista do "Universidade do Esporte", da 88,9 - FM Universitária de Natal
Depois do show de horrores
oferecido por torcedores do time da casa no clássico Vasco 0x1 Flamengo,
partida disputada no último sábado pelo Campeonato Brasileiro, o Superior
Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) interditou o estádio de São Januário.
A CBF, por sua vez, proibiu
público na Colina em qualquer competição organizada por ela até que o STJD
julgue o clube, que pode perder 25 mandos de campo, além de pagar uma multa de
R$ 350 mil, caso receba a punição máxima.
Com isso, talvez as duas
entidades, assim como Ministério Público, Polícia Militar e todos os outros que
não gostam de futebol, achem que a violência estará automaticamente banida do
esporte.
No entanto, tal decisão, tão
rápida, tende a, mais uma vez, empurrar para debaixo do tapete os problemas
reais relacionados ao comportamento dos torcedores.
Sim, São Januário é um estádio
com um entorno hostil e cheio de dificuldades.
Por muitos anos fui frequentador
dos principais estádios do Rio de Janeiro e este não era o mais fácil de se
circular tranquilamente.
As ruas estreitas, a proximidade
com favelas inseguras e, claro, a presença de duas torcidas organizadas
violentas do Vasco - em constante guerra entre elas, inclusive - são alguns dos
elementos que compõem o cenário.
Não é um ambiente receptivo a
visitantes.
Qualquer um que vá a estádio no
Rio sabe disso.
Porém, lá as bandeiras são
permitidas, a partida se vê de pé, duas torcidas participam e se sente o
verdadeiro clima - algo subjetivo, sei - de um jogo de futebol.
Mas o que acontece agora?
O Vasco não joga mais em sua
casa.
Talvez vá para o Nilton Santos
ou, ainda, consiga um acordo para jogar no ex-Maracanã.
Certo. E quem são os torcedores
que vão assistir aos jogos nesses novos locais (que estão próximos a São
Januário, num raio menor que 12 km)?
Entre a maioria honesta, os
mesmos criminosos que protagonizaram a selvageria de sábado.
Quem frequenta jogos os conhece.
Os seguranças do clube os
conhecem.
Os presidentes e diretores os
conhecem.
A polícia os conhece.
A justiça os conhece.
Mas, impunes, os maus torcedores
seguem triunfando.
Pior, com a anuência já desvelada
de todos os responsáveis - que não veem bombas, armas de fogo e outros objetos
proibidos entrarem.
É muito mais fácil culpar o
estádio.
Este ano o Engenhão já foi palco
de duas brigas de grandes proporções, uma delas com morte.
Brasília sempre que recebe
clássicos apresenta conflitos dentro e no entorno.
O Beira-Rio não fica atrás e tem
episódios recentes de violência e depredação.
Interdições?
Não.
Prisões?
Não.
Pois a culpa é do estádio velho,
do estádio com valor de ingresso justo, do estádio de futebol que já não serve
para o jogo porque não é uma arena confortável.
Estão matando o futebol
brasileiro e nem sei se posso dizer que é sem perceber.
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